Tese vencedora: o que o Corinthians ensina ao investidor
O que a vitória do Corinthians revela sobre paciência e retorno no longo prazo. Veja a análise completa
Que me desculpem as outras torcidas, mas os eventos recentes me permitem, por um instante, falar sobre os sentimentos que tomaram conta deste último final de semana.
Pois ser corintiano e investidor foi um exercício diário de paciência nos últimos anos.
Após oito anos, o Corinthians voltou a levantar um troféu nacional. No último domingo, 21, o time paulista pode, enfim, gritar “campeão” da Copa do Brasil.
A lição que o Corinthians ensina sobre investir
Para quem olha de fora, foi “só mais um título”. Mas, para quem vive por dentro, foi alívio, catarse e a confirmação de algo que todo corintiano sabe: quem abandona o processo antes do fim nunca vive o momento da conquista.
E essa lógica é exatamente a mesma no mercado de ações.
As verdadeiras campeãs da Bolsa em oito anos
De 2017, último título do Corinthians, até hoje, o mercado brasileiro passou por tudo:
crises políticas, pandemia, juros de dois dígitos, mudanças de governo, ciclos das commodities e uma Bolsa frequentemente desacreditada.
Mesmo assim, algumas empresas fizeram história. Não por moda, não por hype, mas por resultados, disciplina e, principalmente, paciência.


Prio (PRIO3)
Talvez o melhor exemplo de criação de valor recente da Bolsa brasileira. A petroleira deixou de lado a volatilidade do petróleo e focou na expansão da produção e na eficiência operacional.
A Prio (PRIO3) encerrou 2017 com uma produção de cerca de 7,8 mil barris por dia, totalizando aproximadamente 2,8 milhões de barris naquele ano. Oito anos depois, a petroleira já atinge uma média diária de 100 mil barris, acumulando mais de 27 milhões produzidos.
O foco operacional, com a redução de custos, garantiu que a Prio multiplicasse seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) em mais de 25 vezes nos últimos oito anos.
Assim, por meio da aquisição de ativos, da expansão da produção e da excelência na execução, os resultados foram multiplicados, e as ações da companhia foram devidamente valorizadas em mais de 2.200%.
Mesmo com o caminho cheio de volatilidade, incertezas e longos períodos de lateralização, a paciência do investidor foi premiada.
BTG Pactual (BPAC11)
Por meio da expansão nas últimas décadas, o BTG Pactual (BPAC11) conseguiu criar um "all weather portfolio". Essa dinâmica, além de gerar um salto na receita, contribuiu para uma maior diversificação e resiliência dos seus resultados.
Com a expansão combinada aos avanços na rentabilidade, o BTG alcança um lucro líquido de mais de R$ 15 bilhões, cinco vezes maior do que o reportado em 2017.
Multiplicando o lucro e um ROE de dois dígitos, o BTG Pactual é uma das ações que mais se valorizaram nos últimos oito anos, acumulando 1.300%.
Direcional (DIRR3)
Enquanto muitos players do setor imobiliário sofreram com ciclos e alavancagem excessiva, a Direcional apostou em eficiência, nicho bem definido e execução operacional.
Não foi uma história rápida. Antes de se consolidar como um dos grandes players no segmento Minha Casa, Minha Vida, a companhia atravessou um momento de transformação, expansão operacional e de rentabilidade.
A evolução operacional refletiu em um crescimento médio anual de +24% da receita e expansão da margem bruta desde 2017.
Assim, ao multiplicar seu lucro líquido por algumas vezes, as ações da Direcional acumulam mais de 1.300% de valorização.
Tempo é o ativo mais subestimado do investidor
O mercado frequentemente transmite uma impressão equivocada, vendendo a ideia de agilidade, rotação rápida e timing perfeito.
Mas a realidade é menos glamourosa: a riqueza na Bolsa é construída ao longo do tempo e com muita paciência.
Seja como torcedores ou investidores, as derrotas e as incertezas no curto e médio prazo dão a sensação de que tudo está perdido.
Contudo, nossas convicções não podem ser abaladas. Como dizia Warren Buffett:
“O mercado foi feito para transferir dinheiro dos impacientes para os pacientes.”
E Charlie Munger era ainda mais direto: “O grande dinheiro não está na compra ou na venda, mas na espera.”
Os investidores posicionados nas três empresas que mais valorizaram ao longo desses oito anos têm um grande fator em comum, que foi o responsável por esse retorno: o crescimento dos resultados.
Ou seja, o value investing não é sobre prever o futuro. É sobre comprar boas empresas, a bons preços e, se nada mudar na tese, dar tempo ao tempo.
Torcer e investir exigem a mesma virtude
O problema é que o tempo cobra um preço emocional alto: longos períodos sem resultado, incertezas e a tentação constante de desistir quando nada acontece.
A maioria desiste. E é exatamente por isso que poucos vencem na Bolsa.
A relação entre futebol e patrimônio pode parecer banal, mas investir vai muito além de análises, contas e valuation. Investir é emocional.
O corintiano que largou o time na falta de vitórias não viveu o título atual. Somos conhecidos por sofrer, mas, acima de tudo, por nunca abandonar, na vitória ou na derrota.
Para o investidor, não é diferente. Quem abandonou boas empresas no meio do caminho também não colheu os grandes retornos. Não abandone suas convicções, a menos que a tese mude.
No fim, o paralelo é simples: convicção sem paciência é apenas opinião. O value investing é, antes de tudo, saber esperar.
E que me desculpem as outras torcidas, mas, mais uma vez: Vai, Corinthians!

