Taxa selic hoje continua 13,75%. Entenda os recados da reunião do Copom

Em decisão unânime, Selic segue inalterada pela nona vez consecutiva

Marilia Fontes 22/06/2023 13:51 5 min Atualizado em: 23/06/2023 11:32
Taxa selic hoje continua 13,75%. Entenda os recados da reunião do Copom

Apesar da manutenção da taxa Selic em 13,75% na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira, 21, o comunicado do Banco Central ao mercado foi uma grande surpresa para a maioria.

Analistas e economistas esperavam uma alteração de linguagem que indicasse um início do ciclo de queda da taxa na próxima reunião de agosto.

No lugar disso, vimos afirmações de cautela, parcimônia e calma.

Inflação no mundo

Todo comunicado começa estabelecendo um cenário global. Neste, o Comitê fez questão de reforçar a dificuldade que o mundo está tendo em controlar a inflação.

“Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, inclusive com a retomada de ciclos de elevação de juros em algumas economias, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente.”

Os bancos centrais do Canadá e da Austrália voltaram recentemente a subir suas taxas de juros para combater surpresas negativas na inflação, mesmo após a sinalização de pausa no ciclo de alta.

Isso mostra que a inflação está mais resiliente em todo o mundo, o que representa um cenário preocupante para o Brasil.

Inflação no Brasil

Seguindo no comunicado, ele começou a falar sobre o Brasil, indicando que a surpresa positiva na atividade brasileira, no primeiro trimestre, na visão deles, tinha muito mais a ver com o setor do agronegócio.

Sobre a inflação, o Comitê afirmou que embora tenhamos obtido uma queda da inflação no primeiro semestre, é esperada uma alta para o próximo.

“Não obstante o arrefecimento recente dos índices de inflação cheia ao consumidor, antecipa-se uma elevação da inflação acumulada em doze meses ao longo do segundo semestre.”

Projeções do Copom

Lembrando que o BC tem sua própria projeção de inflação. Ela deriva de um modelo econométrico que inclui diversas variáveis, como expectativas de inflação, juros, atividade, emprego e outros.

Quando a projeção está acima da meta, o Comitê sobe a Selic para desaquecer a economia e pressionar a inflação para baixo. Quando a projeção está abaixo da meta é o contrário, o Comitê pode cair a Selic.

Na projeção divulgada no comunicado, a inflação para 2023 tinha caído de 5,8% para 5%, e a projeção para 2024 caiu de 3,6% para 3,4%, aproximando-se da meta de 3%.

Condução da política monetária

Por fim, e mais importante de tudo, temos o parágrafo da condução de política monetária.

No comunicado de maio, o BC tinha dito:

“O Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação.”

Aqui, a ideia dele era passar a impressão que caso a Selic atual não fosse suficiente para controlar a inflação, ela seria majorada.

No entanto, neste comunicado, essa parte se alterou para:

“O Copom conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas e avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação.”

Ou seja, podemos perceber por essa alteração que sai completamente do jogo uma chance de alta da Selic nas reuniões futuras, uma vez que ele afirma ter convicção de como a Selic estável foi adequada.

Comitê reforça cautela e parcimônia

No mesmo parágrafo, ele ressalta diversas vezes que temos que ter calma quando pensamos em redução dos juros:

“A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia.”

“O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária.”

Queda da Selic

Por fim, e pela primeira vez em muito tempo, ele abre a porta para um ciclo de queda nas taxas, dizendo que:

“Os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”

Ou seja, pela primeira vez, vemos uma luz no final do túnel. Ele abre a porta para um possível ciclo de queda das taxas na próxima reunião, a depender dessas condições impostas.

Para mim, nessa mensagem junto à de calma, fica bem claro que não há chance do ciclo começar com 50 bps de queda. Se as condições impostas permitirem a queda, será parcimoniosa. Ou seja, de 25 bps.

Como o mercado já precificava 100% de chance de uma queda de 25 pontos base, acredito que esse comunicado tenha sido um pouco mais austero.

Isso pode significar que as taxas de juros de curto prazo devem subir levemente no pregão desta quinta-feira, 22, enquanto as taxas de longo prazo podem seguir caindo. Afinal, menos queda hoje significa mais queda amanhã.

Essa queda dos juros longos pode estimular mais uma vez a bolsa brasileira e o câmbio.

Como ficam os investimentos

Ações de crescimento, mais sensíveis à queda nos juros, devem continuar a performar bem neste cenário.

Lembrando que teremos reunião do Conselho Monetário Nacional na semana que vem, com possíveis alterações na meta de inflação de 3%.

Se nenhuma alteração for feita, teremos uma excelente notícia para o mercado. As expectativas de inflação de longo prazo estão em torno de 4% , pois o governo ventilou que poderia subir a meta de inflação.

Se essa ideia cair, o ganho de credibilidade será enorme, voltando as expectativas de longo prazo para cerca de 3% e fortalecendo as chances de queda na Selic em agosto.

Vamos ficar de olho, visto que a próxima semana pode potenciar — e muito — o movimento das últimas semanas.

Compartilhar