Setor elétrico: ainda vale a pena com dividendos reduzidos e valuation esticado?

Dividendos menores e valuation elevado exigem cautela no setor de energia. Veja análise dos segmentos e entenda se ainda vale investir

Victor Bueno 26/11/2025 10:00 5 min
Setor elétrico: ainda vale a pena com dividendos reduzidos e valuation esticado?

Quando o assunto é dividendos, o setor de energia já vem à mente de forma automática. As empresas de energia são conhecidas, historicamente, por suas operações regulares, resultados sólidos e, consequentemente, altos proventos aos seus acionistas.

Na carteira do Nord Dividendos, chegamos a ter 30% de concentração no setor. Hoje, porém, já reduzimos para 15% e poderemos cortar ainda mais esse percentual.

Mas, afinal, por que não estou tão otimista com o setor? 

Dividendo menos atrativo no setor elétrico. Entenda o que mudou 

Como mencionei, as energéticas da Bolsa brasileira são tradicionais boas “dividendeiras”.

Analisando o índice IEE da B3, que é composto pelas maiores empresas de energia do nosso mercado, é possível observar que seu dividend yield (rendimento anual de dividendos) médio nos últimos anos está em linha com a média das boas pagadoras brasileiras (~6%).

Hoje, porém, esse número encontra-se abaixo da média histórica, mais próximo de 5%. 

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O rendimento atual reduzido pode ser justificado, principalmente, pela forte alta do índice neste ano, afinal, dividend yield = dividendo / preço (quanto maior for o preço, menor o rendimento).

Em 2025, enquanto o IBOV e o IDIV acumulam altas respectivas de +30% e +26%, o IEE já sobe cerca de +59% — ou seja, quase o dobro do principal índice do país. 

Desempenho do Índice IEE em 2025. Fonte: Bloomberg

Valuation do setor também preocupa

Com o movimento, o índice também passou a negociar a múltiplos de valuation mais altos.

Hoje, o IEE negocia a um Preço/Lucro de 19x — acima da própria média dos últimos anos (12x) e também da média histórica da Bolsa brasileira (15x).

Vale destacar que, além da alta do índice, alguns resultados ruins apresentados no 3T25 contribuíram para elevar o múltiplo (quanto menor for o lucro, maior o P/L). Porém, mesmo antes da temporada de balanços, o IEE já negociava acima de sua média e estava bem precificado.  

P/L do Índice IEE na última década. Fonte: Bloomberg

Assim, apesar da solidez e previsibilidade, o meu menor otimismo com o setor, neste momento, deve-se ao preço — que afeta tanto o valuation quanto o rendimento dos dividendos.

Isso quer dizer que não existem oportunidades no setor? Não.

Segmento por segmento: onde ainda há valor?

Vamos analisar segmento por segmento abaixo (vale sempre lembrar que o setor de energia é dividido em três principais segmentos: geração, transmissão e distribuição).

Geração de energia

A geração é responsável por produzir eletricidade a partir de diferentes fontes (hidrelétricas, eólicas, solares, térmicas, entre outras), formando a base de oferta do sistema.

No segmento, encontramos empresas cujas ações puxaram uma parte relevante da alta do IEE no ano e, consequentemente, já não estão mais tão atrativas neste momento. 

A Axia Energia (AXIA3), antiga Eletrobras, e a Serena Energia (SRNA3), que está de saída da Bolsa brasileira, já acumulam altas de mais de +100% em 2025. 

Já companhias como Engie (EGIE3) e Auren (AURE3), mesmo com suas ações subindo menos no ano, possuem dividend yields mais baixos, em razão de seus investimentos recentes e alavancagens mais elevadas, que resultam em uma menor remuneração aos acionistas.

Neste momento, não temos geradoras na carteira do Nord Dividendos.

Transmissão de energia

Depois que essa energia é produzida, ela segue para a transmissão, segmento composto por longas linhas em alta tensão que transportam grandes blocos de eletricidade gerados nas usinas até os centros de consumo, garantindo estabilidade e segurança ao sistema interligado nacional.

Aqui, moram as empresas mais previsíveis do setor, tendo em vista que são remuneradas por longos contratos (30 anos) que são corrigidos, periodicamente, por índices de inflação.

Neste momento, a Isa Energia (ISAE4) é a única transmissora da nossa carteira.

A empresa possui o maior prazo médio de vencimento de contratos no segmento, além de ser a companhia menos alavancada e que mantém um ótimo rendimento de dividendos.

Dessa forma, mesmo que suas ações também já tenham apresentado alta significativa nos últimos meses, seu dividend yield de 10% nos deixa confortáveis com nossa posição. 

Distribuição de energia

Por fim, a energia gerada e transmitida chega às cidades por meio da distribuição, que reduz a tensão elétrica e a entrega diretamente para residências, comércios e indústrias, sendo o ponto de contato mais “visível” com a população.

Apesar de o segmento também ser conhecido por seus contratos de longo prazo, as empresas precisam ser constantemente avaliadas por sua qualidade no fornecimento de energia — afinal, suas receitas e renovação de contratos dependem disso. 

Ainda, vale mencionar que algumas (poucas) delas (listadas na Bolsa brasileira), se encontram em situação delicada, como a Light (LIGT3), por exemplo.

Neste momento, a CPFL (CPFE3) é a única distribuidora da nossa carteira.

É importante ressaltar que suas ações já sobem cerca de +64% no ano e, diante do valuation mais “esticado” e do dividend yield reduzido, estamos revisando nossa recomendação.

Oportunidades existem, mas com seletividade

Sendo assim, não quero deixar de ter empresas de energia em minha carteira, mas é inegável que o momento atual exige cautela e uma maior seletividade.

Obviamente, quem comprou ações de energia a preços menores se beneficia de um yield on cost (dividendo / preço pago pela ação) maior e pode até manter suas posições. 

Inclusive, no Nord Dividendos, temos uma ação do setor que já valorizou quase +200% desde a nossa entrada e seu yield on cost já se encontra em 30% (5x maior que a média). 

Contudo, como gestor da carteira, não posso pensar somente em um elevado yield on cost de quem está conosco desde o início das recomendações, mas também em um dividend yield satisfatório (acima da média do mercado) para quem está entrando na série agora.

Esse é o nosso grande objetivo, e acredito que estamos conseguindo cumpri-lo.

Quer acessar as melhores empresas que pagam dividendos? Veja as recomendações atualizadas do Nord Dividendos.

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