Copom mantém Selic em 15% e sinaliza juros altos por mais tempo

Copom mantém Selic em 15% e sinaliza juros altos por mais tempo. Veja análise sobre inflação, política monetária e impactos nos investimentos

Marilia Fontes 31/07/2025 10:44 4 min
Copom mantém Selic em 15% e sinaliza juros altos por mais tempo

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, na quarta-feira, 30, por unanimidade, manter a taxa básica de juros em 15% ao ano

O mercado já esperava uma pausa da Selic, mas tinha esperança de que os diretores pudessem ser um pouco mais claros sobre os próximos passos — especialmente se estaria morta e enterrada a chance de retomar o ciclo de alta. 

Mas podem tirar seus cavalinhos da chuva…

Por que a Selic continua em 15%?

O Banco Central não só evitou dar qualquer sinal de que poderia estar pensando em pensar em cair, como passou várias mensagens de cautela e austeridade:

“O ambiente externo está mais adverso e incerto…”

“Tal cenário exige particular cautela por parte de países emergentes…”

“O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho…”

“Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado…”

Nota-se por essas frases, extraídas do comunicado do Copom, que não há espaço para flexibilizações e que os diretores continuam se questionando sobre por que uma taxa Selic elevada a incríveis 15% ainda não resolveu a inflação. 

Como assim, Marilia?

A ineficiência da política monetária frente à fiscal

Quando o BC sobe a Selic, o objetivo é reduzir a demanda agregada, ou seja, o consumo de todos nós. O aumento das taxas faz com que os empréstimos fiquem mais caros e as parcelas passem a não caber no bolso das pessoas. Com isso, o consumo cai, as empresas vendem menos, o lucro reduz e o desemprego começa a aumentar. 

Mas não é o que está acontecendo atualmente. A atividade está de fato desacelerando, mas o desemprego ainda está nas mínimas históricas e a inflação ainda se encontra bem acima da meta, oscilando em torno do teto do intervalo de confiança. 

A causa da ineficiência da política monetária é sua principal rival: a política fiscal

Enquanto o BC sobe os juros e tenta “secar” o consumo, o governo cria novas fontes de empréstimos baratos, como o consignado, aumentando a demanda agregada. Assim, resta ao órgão a difícil tarefa de secar gelo, tornando a política monetária completamente ineficiente. 

Nesses créditos direcionados, alguns são beneficiados, enquanto o juro alto prejudica os empresários e a grande maioria das pessoas. É a clássica política distorcida, ineficiente, mas que dá bastante voto no Brasil. A gente adora uma gambiarra, não é mesmo?

Mas, voltando…

Mensagens de cautela do Banco Central

Quando o governo não faz a sua parte, resta ao Copom fazer a sua: subir a taxa de juros até contrabalancear o estímulo fiscal. E isso eles estão, de fato, fazendo. 

“O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma continuação na interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado.”

Neste parágrafo, que foi o mais importante do comunicado — na minha visão — o Copom explicita que, se há um pensamento de alterar a taxa Selic para algum lado, certamente ainda seria para cima! Ou seja, nada de cogitar nenhum ciclo de queda dos juros ainda este ano. 

Esse parágrafo austero reforça o papel de guardião da inflação do Banco Central, que vai, aos poucos, tentando ganhar credibilidade e tentar reancorar as expectativas para o centro da meta. 

Expectativas de inflação e credibilidade do BC

Atualmente, o relatório Focus mostra que a expectativa dos economistas para a inflação de 2025, 2026 e 2027 está em 5,09%, 4,40% e 4%, respectivamente. Todos os números estão bem acima da meta de 3%. 

Resta saber se o BC terá sucesso em ganhar a credibilidade que precisa para reduzir o custo da estabilidade da inflação. Se a autoridade continuar deixando os juros altos pelo período prolongado, acredito que irá ganhar essa briga. 

Impactos da decisão sobre os investimentos

Olhando para nossos investimentos, o que fica claro é que não teremos ganhos de marcação a mercado no curto prazo. 

A alocação em renda fixa este ano será um bom carrego, ou seja, servirá para render um juro alto enquanto o cenário fica mais claro. Mas ainda não parece estar próximo de um ganho de 30%, 40% ou 50%, como tivemos em 2016. 

Para ganhos mais agressivos, prefiro a nova recomendação do Nord Advisor, que passa pelo meu último artigo da rêmora da China. Quem não leu está perdendo!

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