Selic 2023/2024 – Até onde os juros podem cair?

Expectativa é que Selic chegue a um dígito ao longo de 2024 caso trajetória da curva de juros futura se cumpra.

Marilia Fontes 24/08/2023 13:30 4 min Atualizado em: 25/08/2023 12:48
Selic 2023/2024 – Até onde os juros podem cair?

Eu poderia começar este artigo dizendo que essa pergunta é muito difícil de responder, mas a verdade é que temos uma forma muito fácil de saber até onde a média do mercado acha que a taxa Selic vai cair.  

Essa trajetória é derivada da curva de juros futura, pela qual podemos extrair a expectativa de Selic de cada mês.

Quanto a Selic vai cair de 2023 até 2024?

A Selic hoje está em 13,25%. De acordo com a curva atual de mercado, a taxa Selic chegaria até o mínimo de 9% ao longo de 2024:

Curva de juros 2024
Fonte: Bloomberg

Uma taxa de 9% ao ano representa o equivalente a 0,72% ao mês. Bem menos que os mais de 1% que estamos recebendo hoje.

Essa queda nas taxas tende a estimular a atividade e forçar o fluxo que recentemente foi buscar conforto na renda fixa para o mercado de ações.

Mas tem um risco importante nessa trajetória que temos que acompanhar de perto para ver se não teremos água nesse chopp.

Inflação americana

Os últimos dados de inflação americana mostraram uma queda importante. Não só o número cheio caiu, mas os núcleos de inflação também mostraram uma melhora significativa.

Apesar dessa queda, quando dividimos os núcleos entre serviços e bens, vemos que a queda está sendo bem relevante em bens, enquanto serviços ainda segue pressionado.

Núcleos de inflação nos EUA

Dentro de serviços, por sua vez, o item que mais preocupa é aluguéis. Ao contrário dos outros componentes da inflação, esse realmente deve se manter pressionado, uma vez que o preço das casas e das construções ainda segue alto.

Aluguel de abrigo CPI EUA

Outro fator que preocupa é a pressão nos salários advinda de um mercado de trabalho ainda muito restrito, com quase duas vagas de trabalho por candidato.

Fica difícil imaginar uma queda muito forte dos serviços nesse cenário.

Nos últimos dois dados de inflação, tivemos também itens como passagem aérea caindo cerca de 8% e puxando o índice todo para baixo.

Alguns gestores advogam que os próximos dados de inflação devem surpreender para cima, uma vez que chegamos ao fim da desinflação de bens.

Se isso acontecer, o Fed teria que ficar um bom tempo com as taxas de juros estáveis. Sem poder pensar no início do ciclo de queda.

Aliás, isso é o que o Fed vem sinalizando nas últimas atas. Mas isso não é o que o mercado está precificando.

Curva de juros dos EUA

A curva americana precifica quedas das taxas a partir do final do primeiro trimestre do ano que vem.

Curva de juros dos EUA
Fonte: Bloomberg

Vale lembrar também que os EUA são uma economia que roda a um déficit primário de cerca de 6% do PIB, com alto crescimento da dívida pública, já acima de 100% do PIB.

Nos últimos meses, tivemos inclusive agências de rating reduzindo a nota de crédito americana.

Um juro alto por muito tempo poderia piorar o risco fiscal americano e desencadear uma crise de crédito por lá — apesar de não ser meu cenário base, as consequências seriam tão ruins que temos que acompanhar essa possibilidade com lupa.

Juros nos EUA: como afeta o Brasil?

Outro impacto importante que os juros americanos altos poderiam ter seria uma redução do potencial de queda da nossa própria Selic.

Hoje temos um diferencial de taxas de cerca de quase 8% entre a Selic e o Fed Funds. Caso a Selic caia para 9% com o FF estável, esse diferencial cairia para apenas 3,70%.

O risco dessa redução é que os investimentos em juros brasileiros ficariam bem menos atrativos em relação ao juro americano, tido como mais seguro, levando o fluxo de investimentos para lá.

Isso poderia desvalorizar o dólar? Até poderia. Mas o mercado todo sabe que isso pode acontecer e mesmo assim nosso real insiste em se manter em um patamar abaixo de R$ 5.

Mesmo assim, tudo isso que foi comentado por aqui é exatamente o debate atual do mercado sobre até onde pode ir a Selic e os riscos para a concretização do ciclo de queda precificado na curva.

Galípolo no Banco Central

Por outro lado, caso o ciclo de queda acabe sendo muito maior do que o esperado, temos a entrada do Galípolo na Presidência do Banco Central no início de 2025. Isso poderia aumentar a pressão por quedas ainda maiores da taxa, forçando a barra da Selic.

A melhor carteira de renda fixa

Lembre-se que ao escolher a melhor carteira para se ter agora em renda fixa você deve considerar todos esses cenários que foram desenhados acima e medir o quanto se ganha e o quanto se perde em cada um deles.

A melhor carteira de renda fixa é aquela que perde pouco no cenário ruim e ganha muito no cenário bom.

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