Rumo (RAIL3) anuncia dividendo bilionário e levanta dúvidas sobre investimentos

Empresa de logística anunciou a distribuição de dividendos no valor de R$ 1,5 bilhão, favorecendo a controladora Cosan. Mas como fica a alavancagem?

Fabiano Vaz 13/06/2025 12:26 7 min
Rumo (RAIL3) anuncia dividendo bilionário e levanta dúvidas sobre investimentos

A Rumo (RAIL3) anunciou a distribuição de R$ 1,5 bilhão em dividendos, equivalente a R$ 0,81 por ação e um dividend yield de cerca de 4%. Embora o pagamento beneficie a controladora Cosan (CSAN3), ocorre em um momento em que a Rumo deveria preservar caixa para sustentar seu plano de investimentos, estimado entre R$ 5,8 bilhões e R$ 6,5 bilhões para o ano.

Dividendo bilionário da Rumo: boa ou má notícia?

O anúncio da Rumo sobre o pagamento de R$ 1,5 bilhão em dividendos surpreendeu o mercado. O montante será distribuído com base em sua reserva de lucros. 

Esse valor representa um dividendo de R$ 0,81 por ação, a ser pago em 25 de junho de 2025 para os acionistas com posição na empresa no próximo dia 16. As ações serão negociadas ex-dividendos no dia 17 de junho. 

Com um yield de cerca de 4%, com base no fechamento de quinta-feira, 12, o valor foi surpreendente, mas muito bem recebido pela Cosan, a sua controladora. 

A Cosan possui 30% da participação na Rumo e deve receber aproximadamente R$ 450 milhões em dividendos da sua controlada.

O dividendo que deve pingar para a Cosan foi muito bem recebido, considerando seu elevado nível de endividamento. Ainda que contribua positivamente, essa distribuição não soluciona a situação da holding, que deve continuar operando com uma estrutura de capital significativamente alavancada.

No primeiro trimestre de 2025 (1T25), a dívida líquida da Cosan totalizou R$ 17,5 bilhões, representando uma redução em comparação aos R$ 23,5 bilhões registrados no quarto trimestre de 2024 (4T24). O índice de cobertura de juros encerrou o período em 1,2x.

No caso da Rumo, a inesperada distribuição de dividendos gerou incertezas, especialmente diante dos desafios atuais da companhia.

O momento operacional da Rumo 

No 1T25, o volume transportado da Rumo alcançou 16 bilhões de TKU (tonelada por quilômetro útil), uma queda de -7,5% a.a. Esse desempenho decorreu do menor volume na Operação Norte, impactada pelo menor transporte de grãos em função do atraso nas colheitas, e na Operação Sul, em razão das paralisações ocorridas ao longo do trimestre.

O menor volume movimentado, combinado à estabilidade das tarifas, refletiu-se em uma receita líquida de R$ 2,9 bilhões (-5,7% a.a). Em linha com a menor receita, os custos recuaram -7,8%, contribuindo para uma margem bruta de 43,3% (+1,3 p.p.).

Controlando as despesas, o Ebitda ajustado da Rumo ficou em R$ 1,6 bilhão, queda de -3,2% a.a. A margem Ebitda encerrou o 1T25 em 55,1% (+1,4 p.p.).

O lucro líquido ajustado da empresa totalizou R$ 188 milhões, -48,9% menor que o reportado no 1T24, devido ao aumento do resultado financeiro negativo no período.

Por outro lado, observa-se uma retomada no crescimento dos volumes ao longo dos últimos dois meses. De acordo com os dados mensais, a companhia movimentou 14,4 bilhões de TKU entre abril e maio, um incremento de +5% na comparação com o mesmo período do ano passado. Esse crescimento foi impulsionado, principalmente, pelos maiores volumes de produtos industriais, com destaque para madeira, papel e celulose.

Endividamento e capex preocupam

A Rumo reportou uma dívida líquida de R$ 12,6 bilhões no 1T25 (+14% a.a), refletindo uma alavancagem de 1,6x Dívida Líquida/Ebitda.

No 1T25, o capex totalizou R$ 1,8 bilhão, um aumento de +84% na comparação anual, resultado dos maiores investimentos no projeto de extensão no Mato Grosso.

Para 2025, o guidance para o capex está estimado entre R$ 5,8 e R$ 6,5 bilhões, representando um aumento de +12% em relação aos investimentos em 2024 (considerando o ponto médio de 2025). 

Assim, a distribuição dos dividendos bilionários gerou dúvidas no mercado quanto à possibilidade de a Rumo comprometer sua alavancagem financeira e a continuidade de seus investimentos.

Entretanto, o impacto é pouco significativo, principalmente considerando a postura mais conservadora em relação aos investimentos futuros que a companhia tem demonstrado e a perspectiva de volumes maiores para a safra.

Desempenho das ações da Rumo em 2025

Com alta de apenas +6,7% no ano e uma queda de -1,8% nos últimos 12 meses, a Rumo tem ficado para trás no recente rally do Ibovespa, que acumula alta de +14,5% em 2025 e de +15,2% em 12 meses.

Fonte: Bloomberg

As principais razões para o desempenho inferior, em nossa opinião, são: (i) endividamento em um cenário de juros altos no Brasil; (ii) aumento de investimentos (capex) em projetos de expansão; e (iii) um cenário desafiador com a pressão sobre os volumes, preços e atrasos na última safra agrícola.

Perspectivas para o segundo trimestre

O segundo trimestre deve marcar um ponto de virada com a expansão dos volumes como comentamos anteriormente. Diante disso, a expectativa para o 2T25 é de um crescimento de cerca de +8% para a receita, +7% para o Ebitda e estabilidade do lucro líquido, ainda pressionado pelos juros elevados.

Para o acumulado do ano, a expectativa para os resultados da Rumo em 2025 é de crescimento de +6% para a receita, +7% para o Ebitda e um leve recuo de -4% para o lucro líquido.

A partir dessa expectativa para 2025, o valuation da Rumo, medido pelo EV/Ebitda, é de cerca de 6,3 vezes, abaixo da sua faixa histórica média de negociação das ações RAIL3.

A compressão do múltiplo é exagerada? Está na hora de investir em RAIL3?

Quanto às outras razões mencionadas para a fraqueza das ações, acreditamos que as perspectivas são positivas para a Rumo, mesmo com um cenário ainda desafiador e de grandes investimentos nos próximos anos.

Entretanto, um dos pontos de atenção que devemos acompanhar é a sensibilidade dos resultados aos volumes das commodities agrícolas e ao nível de alavancagem, em meio a um cenário de juros mais altos e ao seu plano de expansão.

Fonte: Bloomberg

Dessa forma, considerando o potencial de crescimento e as incertezas ainda presentes na tese, optamos, neste momento, por permanecer de fora das ações da Rumo (RAIL3).

A vez do agro: esta ação tem potencial de valorização e distribuição de dividendos

Considerando a dependência do agronegócio, nossa preferência fica para a Kepler Weber (KEPL3). A companhia não teve um 1T25 fácil, seu resultado foi pressionado pelas menores margens, pela restrição de crédito para os produtores rurais e pela taxa de juros elevados.

Ainda assim, a Kepler apresentou boas sinalizações para os próximos trimestres, como, por exemplo, seu número de clientes em fazendas crescendo +18% e o número atendido em agroindústrias subindo +92%. 

Com novas transações a serem fechadas, expectativas positivas para a próxima safra e receitas cada vez mais diversificadas e recorrentes (receita de negócios criados nos últimos cinco anos já representa 50% do total), a tendência é que, em 2025, ano em que completa 100 anos de existência, a Kepler entregue números sólidos.

Outro motivo para que as ações se valorizem é o setor de biocombustíveis, o qual tem sido uma frente de crescimento importante para a Kepler. Nos últimos 12 meses, a empresa fechou três contratos nessa área e já conta com pelo menos seis grandes projetos em fase avançada de negociação. 

Hoje, a Kepler está, definitivamente, em um “novo patamar” e existe espaço para a valorização. A expectativa é que a companhia siga investindo nos próximos anos e contribua para reduzir o déficit de armazenagem de grãos no Brasil. Porém, sem deixar de lado a remuneração aos seus acionistas, ao passo que mantém uma saudável estrutura de capital. 

Negociando a menos de 8x lucros e com perspectiva de dividend yield de dois dígitos, seguimos comprados em KEPL3.

Essa análise para buscar “lucros gordos” com empresas do setor agropecuário foi uma cortesia da Nord Research. 

Para poder acessar outras recomendações em primeira mão, basta clicar no botão abaixo:

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