PIB dos EUA cai 0,3%, mas não indica recessão no momento

A queda do mês veio pela antecipação de movimentos das empresas antes das tarifas de importação entrarem em vigor

Christopher Gomes Galvão 30/04/2025 17:34 3 min
PIB dos EUA cai 0,3%, mas não indica recessão no momento

A primeira leitura do PIB anualizado do primeiro trimestre dos EUA registrou uma queda de 0,3%, resultado pior que a mediana das expectativas de queda de 0,2%.

Embora possa parecer o início de uma recessão nos Estados Unidos, é fundamental analisar o dado em detalhes para compreendermos o contexto.

 Fonte: Zerohedge
PIB anualizado dos EUA. Fonte: Bloomberg

Por que a economia dos EUA contraiu no 1º tri?

O resultado negativo foi motivado, principalmente, pela queda da conta de exportações líquidas, com contribuição negativa de 4,83 ponto percentual, em razão do forte aumento das importações no período, resultado da antecipação da importação de produtos por diversas empresas antes das tarifas de importação anunciadas por Trump entrarem em vigor. 

É interessante notar que esse foi o segundo maior aumento nas importações em um único trimestre em toda a série histórica desde 1947, perdendo apenas para o terceiro trimestre de 2020.

 Fonte: Jason Furman

Por outro lado, a conta de investimentos, que considera os investimentos em capital fixo (gastos com máquinas para a capacidade produtiva do país) e variação nos estoques das empresas, foi a principal contribuição positiva, de 3,59 p.p. Dentro dessa conta, investimentos em capital fixo contribuíram com 1,34 p.p., enquanto a variação nos estoques contribuiu com 2,25 p.p., como efeito da recomposição dos estoques antes do início das tarifas de importação.

Enquanto isso, o dado de consumo desacelerou em relação ao trimestre anterior, de 4,0% para 1,8%, o menor resultado desde fevereiro de 2023, mas não condizente com um cenário de recessão. O dado de consumo trouxe uma contribuição de 1,21 p.p. ao PIB.

Fonte: Bloomberg

Além disso, os gastos do governo registraram uma queda de 1,4% (contribuição negativa de 0,25 p.p.), sendo o primeiro recuo desde o segundo trimestre de 2022 (-1,5%).

Ou seja, apesar do resultado negativo, o PIB do 1° trimestre não reflete uma economia fraca, mas sim antecipação de movimentos dos agentes da economia na tentativa de evitar maiores custos de importação com as tarifas, movimentos que não devem se repetir na mesma magnitude no segundo trimestre.

Vale ressaltar que o dado veio melhor do que o esperado pelo Fed de Atlanta, que projetava um recuo de 1,5% (ao desconsiderar as importações de ouro). O dado de consumo, inclusive, também veio acima do que alguns agentes do que alguns economistas esperavam.

Além disso, havia uma grande dispersão entre as projeções dos economistas para o PIB, que iam desde -2,4% (projeção do Stephen Stanley, do Santander US Capital Markets) até +1,7% (projeção do Atakan Bakiskan, do Berenberg).

Fonte: Bloomberg

Vimos, portanto, um dado mais forte do que aparenta ser à primeira vista.

Além disso, podemos observar revisões desse dado referente ao primeiro trimestre e, portanto, devemos monitorar as próximas leituras.

O cenário de recessão não faz parte do nosso cenário base, apesar de ser necessário o monitoramento.

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