Big Four: o que são e por que dominam o setor de auditoria
Conheça as quatro maiores empresas de auditoria do mundo, sua história, escândalos e importância para o mercado financeiro

O termo "Big Four" é utilizado para identificar as quatro maiores e mais influentes empresas de auditoria do mundo. Essas gigantes não apenas analisam minuciosamente as finanças de corporações, como também oferecem consultorias estratégicas em áreas como tributação, riscos e fusões.
Neste artigo, você vai entender o que é o Big Four, sua origem, seus papéis no mercado e os desafios enfrentados por essas companhias.
Sumário
- Quais são as 4 Big Four?
- A origem do Big Four: de Big Eight a Big Four
- As quatro gigantes do setor
- A estrutura legal das empresas do Big Four
- Principais serviços prestados pelo Big Four
- A importância da auditoria para empresas listadas
- A auditoria é obrigatória para empresas da bolsa?
- Como funciona uma auditoria externa
- Críticas e falhas das Big Four
Quais são as 4 Big Four?
O Big Four é o grupo formado por Deloitte, Ernst & Young (EY), PricewaterhouseCoopers (PwC) e KPMG. Essas empresas lideram o setor de auditoria contábil no mundo e atuam com serviços complementares como consultoria empresarial, financeira e tributária, além de auxiliar processos de fusão, aquisição e reestruturação corporativa.
A origem do Big Four: de Big Eight a Big Four
Inicialmente composto por oito empresas (Big Eight), o grupo passou por fusões nas décadas seguintes, se tornando Big Six, Big Five e finalmente Big Four, após o escândalo da Enron em 2001 que levou à dissolução da Arthur Andersen. Esse caso evidenciou falhas na fiscalização e motivou a criação da lei Sarbanes-Oxley, que regula auditorias em empresas listadas.
As quatro gigantes do setor
Confira a seguir um panorama das quatro empresas que compõem o Big Four, com detalhes sobre suas origens, áreas de atuação e presença global:
Deloitte
Fundada em 1845, em Londres, a Deloitte lidera em faturamento global, com presença em mais de 150 países. Atua nas áreas de auditoria, consultoria, assessoria financeira, gestão de riscos e consultoria tributária.
Ernst & Young (EY)
Surgiu em 1989, da fusão entre Ernst & Ernst e Arthur Young. Está presente em mais de 700 escritórios no mundo. A EY se destaca por seus serviços em assurance, impostos, consultoria e estratégia de transações.
KPMG
Resultado de fusão entre Klynveld Main Goerdeler e Peat Marwick, em 1987. A KPMG tem presença global e no Brasil atua com auditoria, tributação, consultoria e alianças estratégicas em tecnologia.
PricewaterhouseCoopers (PwC)
Fruto da união entre Price Waterhouse e Coopers & Lybrand, em 1998. Além da auditoria, a PwC se diferencia pelos serviços de consultoria tributária, negócios e o programa exclusivo "international desks".
A estrutura legal das empresas do Big Four
Cada empresa do Big Four é formada por redes independentes que compartilham nome, marca, propriedade intelectual e padrões de qualidade. Elas são coordenadas por uma entidade global que garante consistência nos serviços.
Principais serviços prestados pelo Big Four
Essas empresas entregam valor em cinco grandes áreas:
- auditoria: garante a confiabilidade dos dados financeiros;
- consultoria empresarial: melhora processos e estratégias;
- risk advisory: gerencia riscos regulatórios e operacionais;
- assessoria financeira: estrutura operações de M&A e reorganização;
- consultoria tributária: ajuda no cumprimento das obrigações fiscais.
A importância da auditoria para empresas listadas
Para investidores, entender a relevância da auditoria é fundamental. Empresas listadas em bolsa precisam apresentar transparência e conformidade regulatória, e a auditoria independente é um dos pilares que sustenta essa confiança.
A auditoria garante que as demonstrações financeiras sejam verdadeiras, completas e compatíveis com os padrões contábeis exigidos pelos órgãos reguladores, como a CVM no Brasil e a SEC nos Estados Unidos. Isso permite:
- mitigação de riscos: investidores conseguem identificar inconsistências e evitar empresas com possíveis fraudes ou má gestão;
- maior transparência: demonstrações auditadas oferecem informações confiáveis sobre receitas, lucros, endividamento e fluxo de caixa;
- tomada de decisão mais segura: com dados verificados, o investidor pode avaliar melhor o desempenho, as perspectivas e a governança da empresa;
- acesso ao mercado: empresas que desejam levantar capital ou captar investidores institucionais precisam, obrigatoriamente, passar por auditorias reconhecidas;
- valorização da marca: o selo de uma auditoria do Big Four pode aumentar a reputação da empresa e atrair novos investidores.
A auditoria é obrigatória para empresas da bolsa?
Sim, a auditoria externa é obrigatória para empresas listadas na bolsa de valores brasileira. A exigência está prevista na Lei nº 11.638/07, que estabelece critérios claros para essa obrigatoriedade. Toda companhia que atende a pelo menos um dos seguintes requisitos precisa contratar uma auditoria independente:
- possui capital aberto, ou seja, está registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e negocia ações publicamente;
- tem atividades reguladas por órgãos governamentais, como o setor bancário ou de seguros;
- fatura mais de R$ 300 milhões por ano ou possui patrimônio superior a R$ 240 milhões.
Como funciona uma auditoria externa
Auditores analisam relatórios como o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício. Podem emitir pareceres com ou sem ressalvas, adversos ou com abstenção, dependendo da consistência dos dados.
Críticas e falhas das Big Four
Apesar de sua reputação, as Big Four enfrentam críticas. Relatórios apontam falhas em até 31% das auditorias analisadas desde 2009. Casos como a falência da Carillion (KPMG), Wirecard (EY) e conflitos de interesse na PwC mostram que mesmo os gigantes erram. Confira alguns exemplos a seguir.
Escândalos contábeis e suas consequências
Carillion e a KPMG
A construtora britânica Carillion colapsou em 2018 com dívidas de mais de £ 2 bilhões. A KPMG, sua auditora, foi acusada de não alertar o mercado sobre a real situação financeira da empresa. Investigações mostraram falhas graves nos pareceres da auditoria e levaram o Reino Unido a reforçar o papel da FRC (Financial Reporting Council) na fiscalização das Big Four.
Wirecard e a EY
A fintech alemã Wirecard, até então considerada promissora, desmoronou em 2020 após vir à tona que € 1,9 bilhão em seu balanço simplesmente não existiam.
A Ernst & Young foi a auditora da empresa por mais de uma década e não conseguiu detectar a fraude, levantando críticas sobre falhas graves nos processos de verificação. O caso virou um escândalo nacional na Alemanha e levou o governo a reformar a supervisão contábil no país.
Caso Enron e Arthur Andersen
A Enron, gigante americana do setor de energia, usava empresas de fachada para esconder dívidas e inflar lucros. Em 2001, a fraude veio à tona, revelando um rombo de mais de US$ 25 bilhões e levando a empresa à falência.
A Arthur Andersen, então uma das cinco maiores auditorias do mundo, foi acusada de destruir provas que poderiam comprometer sua relação com a Enron. O escândalo custou à Andersen sua credibilidade e operação — e a transformou em um exemplo de como a complacência na auditoria pode ter efeitos catastróficos. Como consequência, surgiu a lei Sarbanes-Oxley, endurecendo a regulação das auditorias nos Estados Unidos.
Petrobras e a Lava Jato
A Operação Lava Jato revelou um esquema bilionário de corrupção envolvendo a Petrobras e grandes empreiteiras.
Em 2014, a PwC, responsável pela auditoria da estatal, se recusou a assinar o balanço financeiro devido à falta de clareza e indícios de irregularidades. Essa decisão causou instabilidade no mercado e levou à postergação da divulgação dos resultados.
Em 2016, a KPMG assumiu a auditoria da Petrobras, sinalizando uma tentativa de reestruturar a governança da empresa. O episódio foi um divisor de águas para a transparência em estatais brasileiras.
Cada um desses episódios abalou a confiança no trabalho das auditorias independentes e teve consequências diretas na forma como os mercados regulam, avaliam e fiscalizam essas empresas. Também serviram de alerta para investidores: pareceres de auditoria não são infalíveis, e o histórico da firma responsável deve sempre ser considerado.

