Nord Asset: carta do gestor (junho/2025)
Entre escassez de clareza e pressão inflacionária, Fed e BC avaliam o tempo certo para agir

A política monetária global atravessa um terreno arenoso. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve manteve os juros estáveis, sinalizando paciência enquanto avalia os efeitos das tarifas e da inflação persistente. A inflação cheia vem cedendo, mas o núcleo — especialmente os componentes mais “resilientes”, como aluguéis — permanece acima da meta.
Como em Duna, onde as dunas se movem e escondem perigos sob a superfície, o Fed observa uma economia que ainda resiste, mas cujas pressões internas ainda não foram totalmente dissipadas.
O dilema atual é claro: cortar os juros e arriscar reacender a inflação, ou manter a taxa elevada e comprometer possivelmente o crescimento econômico?
Esse impasse é reforçado por leituras contraditórias do mercado de trabalho — o Payroll ainda mostra tração, enquanto o ADP sugere uma desaceleração mais rápida. O mercado, no entanto, já começa a precificar cortes de juros nos próximos meses, como quem vê ao longe um oásis em meio ao deserto.
No Brasil, o Banco Central adotou uma postura mais firme, elevando a Selic para 15%. O tom do comunicado foi direto: diante de expectativas desancoradas, é necessário manter uma política significativamente contracionista. Embora a inflação de junho tenha trazido bons sinais, núcleos e serviços seguem acima do ideal e o mercado de trabalho continua aquecido.
Nesse ambiente de visibilidade limitada, o papel das nossas carteiras se assemelha à travessia dos Fremen em Duna: é preciso entender o ritmo das forças que moldam o terreno — inflação, atividade, expectativas — e adaptar-se rapidamente às mudanças de direção. Em um momento em que Fed e BC ainda tateiam no deserto em busca do momento certo para agir, a capacidade de reagir ao ambiente — antes que a próxima tempestade de areia surja no horizonte — será crucial.

