Arrependimento de não ter comprado bitcoin: oportunidade perdida ou decisão certa?
Você se arrepende de não ter comprado Bitcoin? Entenda por que isso acontece, a valorização do ativo e o que esperar para o futuro

Na última semana, um dos meus maiores arrependimentos ganhou uma dor e um significado diferente.
Em 2018, meu artista preferido, Ozzy Osbourne, veio ao Brasil em sua turnê de despedida. À época, eu fiquei muito empolgado e comprei o ingresso do show no minuto em que as vendas se abriram.
Poucos dias depois da compra, descobri que aconteceria um Meet and Greet com o Ozzy, evento em que o artista fica disponível a alguns fãs para tirar fotos e autografar alguns itens. O preço: R$ 3.800. Eu, estagiário à época, fascinado pelo mundo dos investimentos, entrei em um dilema interno que durou meses. Compro o ingresso do Meet and Greet, ou invisto esse dinheiro?
Na época, o bitcoin (BTC) valia algo próximo a US$ 7.000. Minha crença, à época, era de que esse preço era extremamente subvalorizado. Essa foi a ideia que me fez optar por não conhecer o meu ídolo de infância/adolescência pessoalmente. Troquei um autógrafo do Ozzy e uma foto com ele por exatos 0,17 BTC.
Com a morte de Ozzy no último dia 22 de julho de 2025, esse arrependimento veio novamente à tona. O primeiro pensamento que me veio à mente foi: “poxa, que oportunidade irrecuperável eu perdi”.
Porém, pensando um pouco mais sobre o assunto, tentando tirar a emoção de lado, me permiti analisar aquela decisão de forma mais fria. A minha premissa, que baseou minha decisão à época, estava correta. O bitcoin, hoje, vale algo em torno de US$ 119 mil. Os meus 0,17 BTC, que comprei naquela ocasião, valem algo próximo a R$ 112 mil.
Uma bela multiplicação na compra. Porém, o que explica esse meu arrependimento, ainda tendo em vista esse ganho de capital?
Aversão ao arrependimento na psicologia financeira
A dor da perda é sempre maior do que a alegria da vitória. Daniel Kahneman fala bastante sobre isso no seu best-seller “Rápido e Devagar". Porém, ainda tem uma dor mais forte que a da perda: a dor do arrependimento.
Na psicologia financeira, esse viés cognitivo é conhecido como aversão ao arrependimento. Basicamente, trata-se do automartírio por ter tido uma oportunidade diante dos seus olhos e não ter aproveitado.
Deixar passar uma oportunidade que você teve diante dos seus olhos — seja em investimento ou em qualquer outra esfera da vida — dói mais do que uma topada com o mindinho do pé.
Focando na esfera financeira e de investimentos, tenho certeza de que todos já tiveram alguma grande oportunidade passando diante dos olhos que, hoje, leva a um arrependimento.
Seja um terreno que se valorizou, uma fazenda, uma ação, um título IPCA+7%. Contudo, tem um arrependimento que é unânime, com todas as pessoas com quem converso sobre um ativo específico.

O arrependimento de não ter comprado bitcoin
Não conheço uma pessoa que tenha se arrependido de comprar bitcoin. Se você carrega consigo o arrependimento de ter comprado bitcoin, por favor, me conte e explique o porquê.
Até eu, que tenho um motivo para ter me arrependido de ter comprado 0,17 BTC em um trade-off que, para mim, era dificílimo, hoje consigo me alegrar por ter feito aquela compra, mesmo com o peso negativo em torno dela.
Conheço diversas pessoas que se arrependem ou de ter vendido antes da hora, ou de ter ouvido falar do bitcoin há muito tempo e não ter comprado.
O principal arrependimento que mais escuto é o mesmo que eu, ironicamente, carrego comigo: deveria ter comprado mais bitcoin.
Mas por que todos têm esses mesmos arrependimentos? Ou de não ter comprado, ou de ter comprado menos do que deveria?
A resposta mais simples é: porque o preço subiu horrores. A mais profunda (e, de certa forma, presunçosa) é: porque era óbvio.
O bitcoin é tudo que um bom investimento deseja ser. É um ativo que resolve uma dor real: a falta de uma moeda e/ou reserva de valor fora do sistema fiduciário. E, melhor ainda, ele foi criado para ter uma apreciação progressiva de acordo com o crescimento de sua demanda.
A mineração (validação de grupos de transação de bitcoin, vamos falar disso mais para frente) é a única forma de emissão de novos bitcoins. A cada 10 minutos, aproximadamente, é minerado um bloco de transações de bitcoin. O prêmio por minerar um bloco são os novos bitcoins emitidos (mais a taxa de cada transação validada no bloco).
Esse prêmio, que no começo era de 50 bitcoins, cai à metade a cada 210.00 blocos validados, o que dá quatro anos aproximadamente. Hoje, a recompensa por blocos é de 3,125 bitcoins.
Essa emissão continuará caindo à metade até que se atinja o máximo de BTCs a serem emitidos, que será de 21 milhões de bitcoins. Hoje, já foram emitidos 19,87 milhões. O máximo será atingido por volta do ano de 2140 — 94% dos bitcoins que existirão já estão em circulação.
Uma moeda cuja emissão e circulação independe de bancos centrais, instituições financeiras ou intermediários de qualquer natureza. E, o melhor, uma moeda com teto de emissão, emissão pré-programada e desinflacionária ao longo do tempo.

Atualmente, a inflação do bitcoin gira em torno de 0,85% ao ano. Inflação real, proveniente de crescimento da base monetária. Incomparável com qualquer moeda fiduciária, visto que a inflação real, levando em conta o aumento da base monetária, é sempre maior do que a que vemos.
O maior argumento que se tem contra o bitcoin é a falta de lastro. Mas será mesmo que o bitcoin não tem lastro?
Qual o lastro do bitcoin?
Quem fala que o bitcoin não tem lastro não entende a tecnologia por trás do ativo. Não digo de forma depreciativa, poucas pessoas entendem de fato. Se me acompanhar até o fim deste texto, você será uma dessas poucas pessoas. O grande valor do bitcoin está no poder computacional por trás de sua rede.
O papel do Hash Rate na rede
O lastro do bitcoin se ancora no imenso poder computacional que sustenta sua rede. Esse lastro digital, conhecido como hash rate, representa a força combinada de milhares de computadores que validam transações e protegem a blockchain.
A validação de blocos de transações de bitcoin se dá, de forma simplificada, pela resolução de uma equação criptográfica. O valor dessa equação é o chamado Hash, e a resolução é por tentativa e erro. Os computadores dos mineradores tentam trilhões de hashes aleatórios por segundo, sem parar. Quando um deles encontra o hash, o bloco é validado e adicionado à blockchain.
A blockchain nada mais é do que um histórico de blocos de transações, com todas as atualizações de transações realizadas na história do bitcoin. Os blocos são interligados pelos hashes dos blocos anteriores.
Por que é quase impossível fraudar o bitcoin?
A segurança do bitcoin vem diretamente dessa estrutura. Para ter a chance de conseguir fraudar a rede por um bloco, seria necessário superar a maior parte desse poder computacional, ou seja, ter 51% de todo o poder computacional — e, ainda assim, não seria garantido que conseguiria. Muito pelo contrário, a chance seria bem baixa.
O poder computacional empregado cresce de forma mais acelerada, tanto pela quantidade de mineradores quanto pela evolução das máquinas de validação. Hoje, os computadores empregados na validação de bitcoin geram algo em torno de 929 quintilhões de hashes por segundo.
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Essa quantidade de poder computacional é virtualmente impossível de se obter sendo uma única pessoa ou empresa. Estima-se que o custo para 1h de ataque à blockchain do bitcoin, apenas de energia, seria em torno de US$ 3 milhões — fora o custo de maquinário que gira em torno de US$ 80 milhões. Um investimento altíssimo para uma chance baixa de sucesso.
Fora que, caso o hacker consiga alterar os registros de um bloco, a blockchain poderia se atualizar, ignorando a mineração daquele bloco. Em último caso, se nada disso acontecesse, todos veriam o roubo, e o bitcoin perderia valor, invalidando o esforço do hacker.
Ainda há tempo para evitar o arrependimento?
Em resumo, o arrependimento de não ter comprado bitcoin pode ser um grande aprendizado sobre decisões financeiras — mas também um alerta para as oportunidades que ainda estão por vir.
Conforme mencionado anteriormente, o lastro do bitcoin é a sua tecnologia, o poder computacional empregado na validação e a resiliência do efeito-rede criado na blockchain do bitcoin.
O seu valor está na sua emissão decrescente e imutável, e na sua circulação independente de qualquer Banco Central. Claro, além da pura oferta e demanda.
A oferta é predeterminada, imutável e decrescente ao longo do tempo. Já a demanda segue o caminho oposto da oferta. A demanda por bitcoin vem crescendo vertiginosamente. Com a veiculação dos ETFs de bitcoin nos EUA e o avanço das regulações nas principais economias do mundo, como EUA e União Europeia, a adoção do ativo como reserva de valor por empresas e até mesmo países vem crescendo rapidamente.
O bitcoin não é mais uma “moeda de nerd” ou a moeda da “Deep Web” usada para fins ilegais, como era em 2012. O bitcoin está se tornando uma reserva de valor alternativa, complementar ao ouro.
Olhar em retrospectiva, parece óbvio que o bitcoin se valorizaria. Olhando para frente, ainda é uma grande oportunidade. O movimento de adoção institucional e estatal está só começando.
Da mesma forma que muitos se arrependem de não ter comprado BTC a US$ 10 mil, acredito que, no futuro, poderemos nos arrepender de não ter comprado a US$ 118 mil.
Olhando para tudo isso, vale a reflexão: você está comprando bitcoin — ou continua de fora por medo, ou por ainda não ter compreendido seu valor?