Não aceite o termo de marcação na curva; entenda

Mercados sobem à espera dos dados de confiança do consumidor dos EUA

Nord Research 21/12/2022 15:34 8 min Atualizado em: 03/05/2023 17:13
Não aceite o termo de marcação na curva; entenda

Nesta quarta-feira, 21, os índices futuros de Nova York operam em alta, com ajuda dos resultados positivos de Nike e FedEx, que subiram no after market.

No Brasil, ficou para hoje a votação em segundo turno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição na Câmara. A votação ocorre quase duas semanas após os senadores já terem dado seu aval ao texto.

Na agenda econômica, dados do setor externo e de fluxo cambial semanal devem ser observados de perto no Brasil. Nos Estados Unidos, destaque para a divulgação do  Índice de Confiança do Consumidor de dezembro e para o leilão de títulos públicos com prazo de 20 anos.

Principais assuntos de hoje

  • Nova “marcação a mercado” na renda fixa; entenda a regra
  • Boa Vista recebe oferta de R$ 4,3 bi da Equifax

Nova “marcação a mercado”: por que o investidor não deve aceitar o termo de marcação na curva

A partir de 2 de janeiro de 2023, os investidores passarão a acompanhar a evolução dos seus ativos ao longo do tempo.

Dessa data em diante, debêntures, CRIs e CRAs serão marcados a mercado, como acontece nos títulos públicos federais.

A mudança ocorrerá para que instituições distribuidoras de títulos de investimento, incluindo bancos e corretoras, se adequem à nova regra instituída pela Anbima – Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais.

Antes de entrar no tema principal deste artigo, vamos brevemente esclarecer algumas dúvidas.

O que é marcação a mercado?


Na marcação a mercado (MaM), o título de renda fixa passa a refletir as oscilações do mercado, mostrando quanto o título vale hoje caso o investidor deseje realizar a venda antes do vencimento.

O que é marcação na curva?


Já na marcação na curva, o título de renda fixa não reflete as oscilações diárias de preço, ou seja, mostra a rentabilidade no período levando em consideração somente a taxa contratada.

Ou seja, a marcação a mercado é mais transparente ao mostrar quanto, de fato, o título está valendo no momento presente.

Mudança para o investidor

Na prática, se você mantiver seus títulos até a data do vencimento, nada muda. Você receberá o valor acordado no momento do investimento, independentemente das variações do preço do título ao longo da aplicação.

No entanto, se você decidir vender suas posições antes do vencimento, saberá quanto está valendo o título a cada dia, de modo a identificar eventuais oportunidades de compra ou venda antecipada.

Regras para os investidores


Será permitido mostrar ambos os preços simultaneamente (a mercado e na curva) para todos os investidores, desde que a instituição mostre sempre o preço a mercado como valor principal/padrão.

Porém, só será permitido exibir o valor na curva caso solicitado pelo cliente, sendo este um investidor qualificado.

“Significa que somente os investidores qualificados têm a opção de solicitar que seus títulos permaneçam sendo marcados na curva”, diz Christopher Galvão, analista de renda fixa da Nord Research.

Não aceite o termo de marcação na curva

Com a nova “marcação a mercado” na renda fixa, bancos e corretoras estão incentivando seus clientes a “aceitarem” não marcar seus títulos a mercado.

Por isso, nossa analista de renda fixa e sócia-fundadora da Nord Research, Marilia Fontes, elencou três motivos para você não aceitar essa opção:

1) Grande parte da receita de algumas corretoras está vindo de vender títulos públicos com taxas piores do que o mercado. Depois essas instituições marcam os títulos na curva e o cliente nem percebe. Se você tivesse marcado a mercado, saberia exatamente o spread que pagou pelos títulos;

2) Muitos investidores compram prefixados ou IPCA+ achando que, por ser renda fixa, não tem risco. Ver a oscilação diária dos seus investimentos é a forma mais didática de aprender como eles funcionam;

3) A marcação a mercado serve para dizer quanto você realmente conseguiria ter se decidisse vender o seu título hoje. É muito importante saber o valor correto, caso contrário você pode descobrir, no momento em que mais precisa de dinheiro, que você não tem o patrimônio que achava.

Quer entender como a renda fixa funciona? Faça o download gratuito do livro “Renda Fixa Não É Fixa”, de Marilia Fontes, e saiba todos os segredos da formação de preço dos ativos de renda fixa.

Boa Vista recebe oferta da Equifax: ação deixará o Ibovespa?

Pouco mais de dois anos depois da abertura de capital, a Boa Vista (BOAS3) pode deixar a bolsa brasileira. Isso porque a empresa recebeu uma proposta para combinação de seus negócios com a norte-americana Equifax (EFX).

A Equifax, que já tem 10% da Boa Vista, está oferecendo R$ 8 por ação, o que representa um prêmio de 70% sobre o fechamento da ação da Boa Vista na terça-feira, de R$ 4,79.

Pode parecer um bom negócio, no entanto, a oferta de R$ 8 fica abaixo dos R$ 14 da oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês). Desde a estreia na bolsa em outubro de 2020, o papel caiu quase -50%.

Ou seja, a Equifax pode levar a companhia por um valor menor do que ela já valeu.

Apesar de o prêmio representar um valor inferior ao preço do IPO, a ação reagiu com forte alta de +48,23%, a R$ 7,10, na B3, após o anúncio.

As ações se valorizaram quase 50% no dia após o anúncio. Fonte: Bloomberg Línea

Sobre a Boa Vista

Fundada há mais de 60 anos como SCPC (Serviços Central de Proteção ao Crédito), a Boa Vista atua no mercado de birôs de crédito, que é basicamente um sistema que opera por trás de todas as pesquisas de score, pendências e informações para solicitação de crédito.

Esse mercado, de soluções analíticas, representa 65% da receita da companhia, enquanto os 35% restantes são bastante pulverizados.

O segmento de análise de dados e birôs de crédito no Brasil está concentrado em poucos players: Boa Vista Serviços, Serasa Experian, Quod e SPC Brasil.

A Boa Vista era o único player antigamente, mas, com a entrada de startups no mercado de crédito, foi possível criar novos “scores (notas de 0 a 1.000) baseados em políticas de crédito de cada empresa que opta por utilizar seus próprios bancos de dados.

Além disso, vemos que um mercado de crédito mais deteriorado impede o crescimento da companhia.

“Apesar da Boa Vista ter se beneficiado positivamente dos dados fornecidos pelo Cadastro Positivo — o número de cadastros saltou de 8 milhões para 135 milhões — as leis de LGPD têm elevado a necessidade de proteção de dados, trazendo mais riscos para o negócio”, avalia Danielle Lopes, analista de ações da Nord Research.

Do SCPC ao IPO

A Boa Vista Serviços estreou na B3 com a promessa de se reinventar mais uma vez.

Com esse aceno ao mercado, a companhia captou R$ 2,17 bilhões, com a maior parte dos recursos (75%) usada para aquisições e o restante para novas iniciativas e pagamento de credores.

Parece um bom uso do dinheiro, mas, desde a oferta, a companhia fez duas aquisições e ambas não foram transformacionais.

“A Boa Vista adquiriu a Acordo Certo, que auxiliou no crescimento de ‘soluções para consumidor’, mas foi pouco representativo no resultado consolidado (com cerca de 6%); e a aquisição da Konduto elevou as linhas de receita de ‘soluções antifraude’, mas também se mostrou pouco representativa em seus resultados (4% do consolidado)”, diz Lopes.

O que o futuro reserva?

Com a Equifax, a companhia brasileira parece ter ganhado perspectivas melhores de futuro diante de um cenário mais complicado e com pouquíssima visibilidade de melhora.

A Equifax tem sede em Atlanta e concorre com empresas como Experian e Transunion.

Especificamente no setor de crédito nos EUA, a companhia possui expertise centenária para manter os investimentos e se inserir no mercado de crédito com menor risco — dado que o portfólio internacional deve representar cerca de 25% do faturamento total e Brasil, apenas 10%.

“A perspectiva de crescimento da Boa Vista era baixa e, com um novo board, é possível que os processos possam ser acelerados, além de utilizar a companhia que já conta com sistemas e cadastros rodando para replicar nos países da América Latina”, afirma a analista.

Vale lembrar que outros players de crédito como Creditas, Nubank e grandes bancos tradicionais já estão em outros países oferecendo soluções de crédito e investimento.

Nesse sentido, vemos com bons olhos a possibilidade de um player de birô de dados alcançar a mesma capilaridade.

Principal sócio diz que aceita a oferta

A proposta da Equifax já tem o apoio do principal acionista da Boa Vista, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que detém 30% do capital da companhia.

Se a fusão entre a Boa Vista e a Equifax ocorrer, a ACSP deverá se comprometer a celebrar um contrato de 15 anos com a norte-americana durante os quais se absterá de competir com o negócio da companhia.

Além disso, a associação fornecerá acesso exclusivo aos seus dados e fornecerá serviços de consultoria e suporte regulatório.

Como ficam os investidores após a fusão?


Para o investidor que está posicionado no ativo desde o IPO, a notícia é prejudicial dado que as ações foram precificadas a R$ 12,20 e com o prêmio pago pela Equifax ficariam em torno de R$ 8,00, gerando prejuízo de -34%.

Diante de um cenário como esse, impossível não se perguntar: o que fazer com as ações de BOAS3?

“Eu avaliaria a expectativa dos próximos resultados — que, segundo o mercado, é de crescimento estável — e aguardaria a avaliação da compra para entender o prejuízo de cada investidor. Se for acima do preço médio, o investidor terá ganhos já esperados com a OPA e em caso de prejuízo — que iria ocorrer desde já, caso realizasse a posição — uma estratégia interessante é abatimento dos prejuízos com os lucros futuros”, sugere a analista.


Meme do dia

Fonte: Valuation Freestyle via Twitter/ Reprodução

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