IA, energia e investimentos: o que o futuro nos revela
IA é poderosa, mas não substitui estratégia em investimentos. Descubra por que energia é a aposta do futuro e aprenda o contexto da IA para ganhar dinheiro

Em uma discussão acalorada sobre hobbies e os talentos do futuro, o tema inteligência artificial (IA) dominou a conversa — e com razão.
A meu ver, a IA se tornou um hobby predileto e uma ferramenta indispensável. E aqui, precisamos separar o joio do trigo. Não estou interessada no burburinho exagerado da IA, nem nas manchetes que anunciam a substituição humana.
Minha crença é clara: um profissional com IA é imbatível.
Na mesma conversa, surgiu a questão do uso da IA para tudo, inclusive para investir.
Minha resposta foi direta: quem faz isso está rasgando dinheiro no longo prazo e ainda não sabe. Usar dicas de IA para investir beira a irresponsabilidade.
Deixe-me explicar.
A IA como ferramenta, não como guru financeiro
Para quem ainda não usa, a grande maioria das IAs é composta por ferramentas poderosas para rotinas que envolvem análise de muitos dados, brainstorm de conteúdo, geração de imagens e muitas outras funcionalidades.
No recente documento vazado da OpenAI (desenvolvedora do ChatGPT), o GPT é utilizado como um especialista, tutor, conselheiro, tradutor, intérprete, companhia e analista.
E com os agentes de IA — aquele robozinho que você pede para buscar passagem aérea na primeira classe sem paradas de SP a NY até tal faixa de preço — o céu é o limite.
Mas investir ainda é superartesanal. Cada vez mais sofisticado, com consolidadores de investimentos (a Nord também já tem um), cotações, múltiplos e luzes verdes e vermelhas piscando na tela. Mas investir ainda é tailor-made.
Precisa ser individual e personalizado — exatamente por isso estamos crescendo tanto em Wealth Management.
Você pode perguntar para qualquer IA, agente ou operator, por mais sofisticado que seja, o que comprar hoje na Bolsa e por que PRIO3 é uma boa empresa. Ela vai te enrolar, alucinar e não vai te ajudar.
Certamente, os profissionais da Nord terão longevidade em seus trabalhos por muitos anos.

Investir é uma atividade personalizada
O que mais me anima nas IAs, além de uma superprodutividade, é a tese em segundo nível que ela nos trouxe.
Perguntei ao GPT: “Quanto de energia é gasta para cada mensagem que envio?” (o Gemini enrolou e não respondeu essa).

Cada mensagem consome menos de 0,1 Wh — um valor aparentemente insignificante. No entanto, quando consideramos que o GPT já processa mais de 2,5 bilhões de prompts (“comandos”), a dimensão energética se torna expressiva.
Ao incluir esse dado na análise, o resultado é surpreendente: o consumo total de energia equivale ao de 22 mil residências por dia, ou a 12,5 milhões de cargas completas de celular, ou ainda ao carregamento diário de 2.080 veículos Tesla. Em termos comparativos, corresponde também a 300 voos diários entre São Paulo e Rio de Janeiro.
À medida que a IA se torna mais onipresente, a demanda por energia para alimentar esses modelos e data centers (casas dos computadores e servidores) vai explodir.
Estudos recentes da Agência Internacional de Energia (IEA) apontam que o consumo de eletricidade de data centers globais, incluindo os que abrigam modelos de IA, pode duplicar até 2026, atingindo o equivalente ao consumo de países como o Japão.
Estamos falando de um cenário em que a IA pode consumir até 8% da demanda global de eletricidade em 2030, segundo estimativas de instituições como a Morgan Stanley.
Uma quantidade massiva de energia.
Energia: o novo ouro da IA
É fascinante observar que os investimentos que podem gerar enormes retornos aos acionistas nos próximos anos são os mesmos que impulsionaram os melhores retornos em décadas passadas: energia.

Essa tabela, gerada pelo GPT em apenas dois segundos (eliminando horas de trabalho braçal de um estagiário), ilustra perfeitamente essa dinâmica.
Um dos meus ETFs favoritos, o VOO, que acompanha o S&P 500, um cavalo robusto para carregar a longo prazo, já teve cerca de 15% de sua composição no setor de energia e hoje representa apenas 3% a 4%.
Sob a ótica dos investimentos, o setor de energia é conhecido por sua estabilidade nos fluxos de caixa e dividendos consistentes em cenários de inflação — algo que os investidores americanos estão começando a observar mais de perto. E agora, ganha um novo impulso com a ascensão da IA.
Big techs de olho na energia: uma tese irrefutável
As grandes empresas de tecnologia, e eu, estamos atentas a esse movimento:
- A Amazon adquiriu um data center ligado a uma usina nuclear na Pensilvânia por US$ 650 milhões em 2024 e investiu US$ 500 milhões na startup X-energy (que desenvolve reatores modulares pequenos, SMRs).
- A Microsoft firmou um contrato de 20 anos com a Constellation Energy para reativar a usina de Three Mile Island e prover energia para suas operações.
- O Google encomendou vários SMRs à Kairos Power, com a expectativa de gerar centenas de megawatts para seus data centers até 2030.
Esses movimentos não são aleatórios. São investimentos estratégicos para garantir a infraestrutura energética necessária para o futuro da IA.
A corrida por fontes de energia confiáveis e sustentáveis é um dos maiores desafios e, consequentemente, uma das maiores oportunidades de investimento da próxima década.
A escassez de energia, ou a incapacidade de gerá-la de forma eficiente e limpa, se tornará um gargalo para o avanço da IA.
China, EUA e Brasil puxam a fila da energia limpa
Em 2025, o investimento global em energia deverá atingir US$ 3,3 trilhões, com US$ 2,2 tri destinados a tecnologias limpas (renováveis, redes, armazenamento). Esse número será 57% maior do que o de 2024, que, por sua vez, foi 11% maior do que o de 2023.

A China — tese muito reforçada pela minha sócia Marilia — também está no cerne disso. O país asiático é o maior investidor global em energia, com cerca de 1/3 do investimento mundial em energia limpa (cerca de US$ 1 tri de US$ 3,3 tri).
Nesse contexto, destacam-se também os Estados Unidos e, felizmente — e de forma um tanto inesperada —, nós, tupiniquins.
Como investir na tese energética
Se esta fosse uma newsletter do Bruce, ele certamente estaria gritando “PRIO3” para você — e devo concordar com ele. É o tipo de hype em que o efeito secundário é o ânimo no setor em si. Mas a PRIO se garante nos próprios fundamentos.
Na Bolsa, destacam-se empresas como Eletrobras, Neoenergia e Omega Energia, todas já atuantes no fornecimento de energia para data centers. Esse fator, por si só, as tornaria excelentes recomendações — não fosse por seus fundamentos.
Os investidores mais radicais da tese optam por ETFs arriscados e concentrados em urânio (energia nuclear), lítio ou energia solar. Para quem é adepto da tranquilidade, minha tese de energia pode ser acessada via ETF de S&P 500 — como VOO, IVV (nos EUA) ou IVVB11 (no Brasil).
Vale destacar que o S&P 500 não é um índice estático. Ele representa as 500 maiores empresas de capital aberto dos Estados Unidos, mas sua composição é dinâmica, sendo atualizada periodicamente conforme o mercado evolui.
As companhias são adicionadas ou removidas com base em critérios como capitalização de mercado, liquidez, domicílio e representatividade setorial. Quando uma empresa cresce e atende a esses requisitos, ela pode ser incluída, enquanto outras que perdem relevância ou não cumprem mais os critérios podem ser excluídas.
Esse processo de rebalanceamento contínuo garante que o S&P 500 reflita as tendências econômicas e setoriais mais fortes, permitindo que ele se “renove nas máximas” ao se adaptar às instituições líderes de cada ciclo.
Se o setor de energia se mostrar cada vez mais forte, ele voltará a ocupar um espaço significativo no índice, naturalmente.
Além dos ETFs, meu sócio Victor Bueno tem olhado cada vez mais de perto as empresas de energia na carteira de ações de dividendos. Amamos companhias como CPFL (B3: CPFE3) e Engie (B3: EGIE3), que também já fornecem energia para diversos data centers. CPFL tem um investimento bilionário até 2029 para continuar atendendo à demanda no setor.
Dentro da carteira internacional, o meu sócio Henrique tem sido vencedor nas áreas correlacionadas com IA, em especial chips, com a fabricante TSMC (NYSE: TSM).
Seja qual for sua preferência de exposição, eu sugiro que não ignore este movimento. Cuidado com o hype, mas não ignore o contexto.