Ibovespa futuro depois da maior sequência de quedas da história. O que esperar?

Não se desespere com a instabilidade e tendência de queda do Ibovespa hoje como tem feito o mercado. Use o desespero dele a seu favor.

Marilia Fontes 28/09/2023 13:15 6 min Atualizado em: 28/09/2023 18:27
Ibovespa futuro depois da maior sequência de quedas da história. O que esperar?

Recentemente, o Ibovespa encerrou a maior sequência de quedas de sua história. Durante esse período, o índice acumulou uma desvalorização de 7% e vários fatores estão contribuindo para essa tendência.

Sumário

Juros altos nos Estados Unidos

O Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, decidiu manter os juros do país inalterados em sua última reunião na quarta-feira, 20 de setembro de 2023. A taxa de juros permaneceu na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano, que é o nível mais alto desde 2001.

Essa decisão estava alinhada com as expectativas do mercado, especialmente após o Fed ter aumentado a taxa básica em 0,25 ponto percentual em julho, como parte de seus esforços para controlar a inflação na maior economia do mundo.

Apesar de não ter havido alteração nos juros nessa reunião, os dirigentes do FOMC indicaram que uma nova alta nas taxas pode ocorrer até o final do ano. Essa sinalização sugere que a política monetária mais restritiva nos EUA pode continuar em 2024.

O presidente do Fed, Jerome Powell, em entrevista após a divulgação do comunicado, reforçou a intenção do banco central norte-americano de alcançar um patamar em que haja confiança de que a inflação convergirá para a meta de 2%. Ele mencionou que, à medida que se aproximam dessa taxa, os riscos se tornam bilaterais e o Fed pode optar por se mover mais lentamente nas decisões de política monetária.

Os juros elevados nos EUA têm implicações diretas nos mercados globais, incluindo o Brasil. Eles aumentam a rentabilidade dos Treasuries (títulos públicos norte-americanos), atraindo mais investidores em busca de melhores retornos. Isso pode resultar em saídas de capital de mercados emergentes, como o Brasil, pressionando moedas locais e taxas de juros.

Juros Americanos de 5 anos.
Juros Americanos de 5 anos. Fonte: Bloomberg

Alta dos preços do petróleo

Os preços do petróleo tiveram um aumento significativo recentemente. Em 26 de setembro de 2023, o barril do WTI retornou à marca psicológica dos US$ 90. Essa alta nos preços está ligada à perspectiva de aperto na oferta, especialmente devido à extensão dos cortes de produção por parte da Arábia Saudita e Rússia.

Essa tendência de alta nos preços do petróleo parece ter superado as preocupações globais relacionadas ao nível elevado de taxas de juros, que poderia potencialmente afetar a demanda.

A alta contínua dos preços do petróleo pode ser um fator contribuinte para a inflação nos EUA, principalmente agora que já há uma discussão importante sobre inflação e aumento nas taxas de juros.

Gráfico Petróleo.
Gráfico Petróleo. Fonte: Bloomberg

A dívida pública dos Estados Unidos

No início de 2023, a dívida pública dos Estados Unidos alcançou um patamar sem precedentes, ultrapassando a marca de 30 trilhões de dólares. Esse aumento significativo em relação aos anos anteriores gerou preocupações quanto à sustentabilidade da dívida e seus possíveis impactos na economia global.

A dívida pública dos EUA em dezembro de 2022 representava mais de 120% do seu PIB. Esse alto nível de endividamento pode levar a dificuldades no pagamento dos juros e do principal da dívida, aumentando o risco de uma crise fiscal.

Isso, por sua vez, fez com que as taxas de juros de longo prazo aumentassem seus prêmios, refletindo o risco maior no financiamento do país.

Desaceleração econômica na China

A China, segunda maior economia do mundo, está passando por um período de desaceleração econômica. Isso pode impactar a demanda mundial por diversos produtos, especialmente commodities, afetando as exportações de vários países, incluindo o Brasil.

A China sempre foi uma variável que afeta muito o Brasil e os preços de commodities em geral.

A crise no setor imobiliário por lá nos parece muito mais estrutural do que circunstancial, uma vez que muitas cidades foram construídas e hoje estão abandonadas, empresas do setor estão enfrentando dificuldades, e investidores já estão alavancados em suas operações no setor.

Incertezas fiscais no Brasil

Após o estouro da meta prevista para 2023, analistas de consultorias e economistas já não acreditam que o governo Lula conseguirá zerar o déficit primário em 2024. Isso levaria ao segundo ano consecutivo de descumprimento da nova regra fiscal, que o próprio Ministério da Fazenda se propôs a cumprir, resultando em um crescimento mais acelerado da relação entre a dívida pública e o PIB, principal indicador de solvência do país.

O novo arcabouço prevê um déficit primário para o governo central de 0,5% do PIB em 2023 e zero em 2024. Contudo, em julho, a Secretaria de Orçamento Federal revisou a estimativa de déficit primário de 2023 para 1,4% do PIB, quase o dobro do limite da meta. Para 2024, as projeções indicam déficits entre 0,4% e 1,6% do PIB, superando o limite estabelecido.

O governo propôs várias medidas para aumentar as receitas, mas elas dependem de negociações com os parlamentares. Ao mesmo tempo, novos gastos são anunciados e receitas são renunciadas, em um cenário de queda na arrecadação no primeiro semestre e de redução da atividade econômica no segundo.

Mesmo que o governo consiga aumentar a carga tributária conforme planejado, isso pode restringir o crescimento econômico, afetando a arrecadação futura. Além disso, políticas como aumento real para o salário mínimo, reajuste para o funcionalismo, incentivos para a venda de carros populares e manutenção de preços defasados da gasolina e do diesel podem comprometer a consolidação fiscal.

Isso tudo contribui para uma desvalorização do real e aumento das taxas de juros, em um ambiente externo já muito desafiador por conta do aumento dos juros americanos.

O mercado começa agora a se perguntar se o Banco Central realmente poderá cair tanto a Selic assim.

A curva de juros, que já chegou a precificar que a Selic terminaria 2024 em 8,75%, precifica agora que chegaríamos no mínimo em 10,25%, ou seja, um ciclo mais curto de cortes da Selic.

Isso, é claro, atrapalha a alta da Bolsa, que depende de um cenário mais estimulativo para a atividade.

Ibovespa futuro

Altas e baixas do Ibovespa em 28 de setembro de 2023
Fonte: Bloomberg

É importante salientar que estamos agora no meio do furacão. Os juros brasileiros subiram 20 bps apenas ontem, e o câmbio desvalorizou mais de 1%.

O mercado está entrando no modo pânico e stops estão acontecendo de forma forçada.

Este não é o melhor momento para tomar grandes decisões. É o momento de respirar fundo e seguir a estratégia que você traçou anteriormente para o seu portfólio.

Se você escolheu um percentual da carteira para se expor a ações, agora não é a hora de reduzir esse percentual. Quando o plano foi feito, você certamente sabia que haveria risco e oscilações de mercado.

Agora, é necessário manter a estratégia ou aproveitar as oportunidades que surgem.

Manter-se na estratégia correta é o que vai garantir os ganhos futuros quando o mercado se recuperar.

Não se desespere como o mercado. Use o desespero dele a seu favor.

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