História que os números contam sobre a sua vida financeira
Como decisões simples e mensuráveis moldam patrimônio, aceleram a independência financeira e revelam o poder dos números no longo prazo
Números não servem apenas para fazer conta — eles podem contar histórias. Vou te dar um exemplo com a paixão nacional: o futebol.
Estou morando em São Paulo, embora seja natural de Brasília. Então, meu exemplo será com o futebol paulista, já que poucos de vocês entenderiam a rivalidade de Gama x Brasiliense 🙂.
Se eu te dissesse que o jogo de Corinthians x Palmeiras foi 2 a 1 para o seu time do coração (não vou me atrever a dizer quem ganhou, quero manter a amizade que construí por aqui!), você já sabe da “história da partida”. Houve 3 gols: dois do seu time, um do outro.
Se te dissesse ainda que a posse de bola foi de 60% para o seu time e que o número de acertos de passes também foi superior, você conseguiria estimar quem jogou melhor — ou seja, não foi apenas sorte (ou interferência do juiz), mesmo sem ter visto o jogo completo. Números e estatísticas contam histórias.
Sendo assim, este conteúdo vai contar um pouco do que você precisa saber sobre investimentos utilizando a sabedoria dos números.
Vamos passar por números capazes de mudar seu entendimento sobre investimentos. Falaremos sobre o poder dos juros compostos, aporte e retorno, construção patrimonial e independência financeira.
Vem comigo!
24 dólares em 1626: uma história sobre juros compostos
Vou te contar uma história incrível, mas que você tem que crer, já que é verdadeira. A Ilha de Manhattan, nos EUA, é um dos lugares mais valorizados do mundo. Só para você ter uma ideia, a poderosa Wall Street se localiza no coração dessa ilha. Sim, isso mesmo: a Wall Street, dos filmes, da Bolsa de Valores.
Continuando: essa ilha foi comprada dos indígenas americanos, em 1626, por 24 dólares. Sim, isso mesmo! Apenas 24 dólares! Uma grande barganha, não é mesmo?
Você pode estar pensando: “enganaram os indígenas”. Vou te dar, então, outro ponto de vista — em números.
Esses 24 dólares, rendendo 8% ao ano (uma rentabilidade menor que a média da Bolsa de Valores dos EUA no longo prazo, que é cerca de 11% a.a.) ao longo desses 400 anos, seriam equivalentes, hoje, a 5,61 x 10¹⁴, ou seja, o número 5,61 seguido de 14 zeros (561 trilhões de dólares).
Dinheiro mais do que suficiente para comprar não só a ilha, mas, também, todos os imóveis que foram construídos em cima dela, além de todos os ativos financeiros do Planeta Terra (estima-se em US$ 500 trilhões o valor dos ativos globais).
Esse é o primeiro número de hoje para você e representa o milagre dos juros compostos.
O ser humano não tem noção do valor do dinheiro no tempo, pois é algo não linear, quero dizer, exponencial (mais difícil de entender). Os juros compostos são exponenciais: o impacto é muito além do entendimento normal que estamos acostumados a ter. Einstein cunhou uma célebre frase sobre os juros compostos: “Eles são a maior força do Universo”.


A mágica dos 7,17% a.a.
Os 7,17% a.a. são um número muito especial — diria mágico. Ele representa a rentabilidade que, acima da inflação, faz o seu patrimônio dobrar, em termos reais, a cada 10 anos. Isso sem aporte algum. Apenas contando com o principal e os juros (reinvestimento).
Você tem R$ 1 milhão investido hoje? A uma rentabilidade de 7,17% a.a. acima da inflação, terá R$ 2 milhões corrigidos pela inflação, daqui a 10 anos, ou seja, mantendo o poder de compra. Sem aportes, sem esforço. Só o dinheiro trabalhando por você e dobrando patrimônio a cada dez anos (claro que os aportes favorecem — em muito — a mágica, mas quis isolar o efeito para você entender).
Você pode estar pensando: uma rentabilidade de 7,17% a.a. acima da inflação não é simples de conseguir. Sim, e é verdade!
A economia é cíclica: tem épocas que essa rentabilidade é fácil de conseguir, e tem épocas que é mais difícil. Estamos na “fácil”. Época de investir muito e consumir pouco.
O Tesouro Selic a 15% a.a., com inflação de 5% a.a., entrega ganho real de 10% a.a. acima da inflação — tá, mas tem que descontar os impostos desses 15% a.a. Ainda assim, o resultado fica em aproximadamente 7% a.a. no investimento mais seguro de todos, que é o Tesouro Selic.Com a queda da Selic, é provável que haja uma forte valorização de todos os ativos financeiros: ações, FIIs, Tesouro IPCA+ etc. Isso garantiria um retorno bem acima dos 7% a.a. para quem investir nessas condições. Ou seja: atualmente, quase qualquer bom ativo financeiro vai te dar um retorno acima desse nível.
Aporte de 10% ao mês
Depois que entende o conceito de juros compostos (repito, não é fácil, é um conceito não linear), você está pronto para começar a construir seu futuro. E aqui entra a sabedoria dos 10%. Existem vários livros de finanças pessoais que falam a mesma coisa: aporte, pelo menos, 10% do seu salário todos os meses. Pague-se primeiro. Aqui eu poderia citar “O Homem mais rico da Babilônia” e “Pai rico, Pai pobre”. Gosto muito desses livros, já os li várias vezes. Para quem ainda não leu, fica minha sugestão de leitura.
Separar 10% do seu salário para investir é o pontapé inicial para a construção de um patrimônio sólido.
Não há investidor rico que não tenha começado a investir um dia — e todos começam com pouco. Se alguém ganha o salário mínimo, parece pouco para construir uma renda que gere liberdade financeira, mas não é — e também não é só isso. O mais difícil é “sair da inércia”. E os 10% servem, principalmente, para iniciar. É apenas o primeiro passo de uma longa caminhada.
Quando você começa a ver o patrimônio crescendo, se esforça para ganhar mais: se especializa, faz atividades extras, começa a empreender. Isso tudo aumenta sua renda e, consequentemente, os seus aportes. O longo prazo toma conta do resto.
Na minha vida, aconteceu assim. Comecei ganhando pouco, troquei de atividade para ganhar mais, passei em concurso público, comecei a empreender, aprendi a investir.
Os aportes, que no início eram bem pequenos, me deram a coragem e a disposição para construir um futuro melhor, mês a mês. Com o tempo, os aportes ficaram maiores e o percentual investido também. Hoje, investir apenas os 10% já me parece muito pouco e, ainda assim, consigo aproveitar bastante a vida com os rendimentos recebidos.
Os primeiros 100 mil
Os primeiros R$ 100 mil são outro marco importante na vida do investidor. É um degrau alto, mas, depois de alcançado, é sinal de que a vida de investidor já foi incorporada na rotina. Vou citar aqui alguns pontos que vão te convencer a buscar os primeiros R$ 100 mil.
Primeiro ponto: esse valor é relevante para a maioria dos brasileiros. Poucas pessoas têm R$ 100 mil guardados, ainda mais em um país onde a aparência é importante e o consumo é incentivado ao máximo. A partir desse ponto, você começa a enxergar os juros compostos agindo a seu favor. Em um mercado com DY de 1% a.m., como o atual, é possível receber, praticamente, um salário mínimo mensal, após os descontos obrigatórios.
Segundo ponto: o fator psicológico. Quando você vê o resultado do seu esforço, ganha mais confiança. Você se sente capaz de construir o próprio futuro, uma renda recorrente que paga suas contas. Isso gera a mudança de comportamento necessária para crescer nos investimentos.
Terceiro ponto: a composição dos juros compostos começa a remar junto, de forma mais forte. Se o seu aporte é de R$ 1 mil e o aporte do capital é de outros R$ 1 mil, daqui para frente o maior esforço será do dinheiro, não do trabalho, na construção do seu patrimônio. Assim, se você demorou 10 anos para chegar aos primeiros R$ 100 mil, demorará 6 anos para dobrar, outros 4 para triplicar, outros 3 para quadruplicar, etc. Isso é ser não linear; é ser exponencial.
Os números que falam sobre FIIs
Receitas, despesas, Dividend Yield, preço e valor patrimonial. Esses são alguns dos números importantes para escolher bons fundos imobiliários.
As receitas de um FII são as entradas de caixa da atividade operacional do FII. Podem vir de aluguel — no caso dos de tijolo — ou de juros e correção monetária — no caso dos de papel.
O ideal no FII de tijolo é que as receitas por cota aumentem ao longo do tempo (reajuste dos aluguéis). Já nos de papel, é importante entender de onde o rendimento vem: inflação, CDI, qual a taxa etc. Afinal, os FIIs de papel precisam de IPCA ou CDI para aumentar ou diminuir a distribuição; ou seja, é uma receita mais volátil.
Quanto às despesas, considero um bom parâmetro algo próximo de 10%. Gastos anuais abaixo ou em torno de 10% das receitas anuais desse FII estão excelentes; entre 10% e 15% de despesas em relação a receitas acho razoável; acima de 15%, acende o alerta. Nesses casos, o risco pode estar ficando com o cotista, enquanto o retorno se concentra em quem administra o veículo.
Dividend Yield (DY) também é um número importante. Ele te mostra a rentabilidade do fundo, para que você faça comparações.
DY muito elevado? Cuidado! Você pode estar correndo um risco desnecessário. DY muito baixo? O FII provavelmente está com problemas de caixa: alavancagem, vacância, inadimplência etc. Como diz um velho ditado creditado a Aristóteles: “A virtude está no meio”. E os DY não muito altos, não muito baixos, costumam ser dos melhores FIIs da Bolsa.
Outro número importante é o que relaciona o preço do ativo frente ao valor do patrimônio (P/VP). Acima de 1 o FII está negociando com ágio. Abaixo de 1 está negociando com deságio. Um deságio muito alto pode parecer tentador, mas pode esconder armadilhas para o investidor. Um ágio muito elevado leva a um retorno medíocre no longo prazo.
DY e P/VP te contam uma história curta, sem toda a verdade, mas “indicam” um caminho. Isso mesmo, indicador é algo que indica, mas que não entrega a história completa. A informação precisa ser melhor depurada.
Existem dois caminhos para usar esses números:
- Caminho 1: filtrar fundos imobiliários pelo DY e P/VP, e só então analisar quais possuem qualidade — começando por uma análise quantitativa e depois passando para uma qualitativa.
- Caminho 2: após fazer uma análise qualitativa, selecionar os FIIs “aptos” a entrar na carteira — chamamos isso de “watchlist”. Após a eleição dos ativos, os múltiplos DY e P/VP servem para nos mostrar se está barato ou caro.
Eu prefiro o segundo caminho, já que nem olho ativo ruim para o longo prazo. Se não tiver qualidade, se a gestão não for confiável, não importa o preço. Sou o tipo de pessoa que prefere pagar mais caro pelo refrigerante, mas beber Coca-Cola — não um refri-Cola genérico. Qualidade vem antes; preço, depois.
Enumere os melhores FIIs em uma watchlist e escolha entre eles. Não convoque “jogadores ruins” para seu time de futebol.
O fato é que, quando você compra um bom FII com P/VP abaixo de 1, está adquirindo um fundo com desconto. Se for de tijolo com um DY acima de 7% a.a. (condições atuais do mercado de FIIs) — ou de papel com IPCA+7% a.a. líquidos, você obtém o tal dos 7,17% a.a. só em rendimentos distribuídos, fora a valorização da cota.
Fundos imobiliários cumprem muito bem a tarefa de construção patrimonial, justamente por conta da renda recorrente (que deve ser reinvestida no início). FIIs te expõem aos juros compostos e às oscilações de mercado — que são características positivas para quem sabe aproveitá-las!
Esse é um bom caminho para a independência financeira em ativos geradores de renda. Faça isso com bons FIIs, bem geridos e garanta sua liberdade financeira!

