Denúncia na Virgo levanta alerta sobre FIIs com exposição a CRIs da securitizadora

Ex-executivo acusa controlador da Virgo de desviar R$ 240 mi para cobrir CRI, acendendo sinal de alerta no mercado

Otmar Schneider 19/08/2025 16:55 4 min
Denúncia na Virgo levanta alerta sobre FIIs com exposição a CRIs da securitizadora

Uma nova denúncia registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) trouxe à tona práticas preocupantes no mercado de crédito privado. O caso envolve a Virgo, acusada de gestão temerária e possível desvio de recursos, o que levou os investidores a questionarem como isso impacta fundos que têm exposição a CRIs originados pela securitizadora.

Entenda o caso

A denúncia apresentada à CVM por um ex-executivo da Virgo, que acusa o controlador da securitizadora de gestão temerária e desvio de recursos. 

Segundo o relato, cerca de R$ 240 milhões teriam sido movimentados de forma indevida para cobrir uma garantia firme assumida pela Virgo em um CRI da Cedro Participações, destinado à construção de um hospital built to suit para a Oncoclínicas em Belo Horizonte.

De acordo com a denúncia, os recursos de investidores institucionais, como Kinea, XP Asset e Oriz, foram transferidos para um fundo chamado Allocation, por meio do qual foram usados para financiar a aquisição do CRI problemático.

O problema é que recursos de fundo de reserva de CRIs servem como garantia da operação. Portanto, não podem ser utilizados para investimentos em ativos de maior risco ou baixa liquidez, o que foi o caso.

CVM deve investigar gestão temerária e conflito de interesses

A CVM ainda vai apurar os detalhes da denúncia, mas o episódio já levanta questionamentos sobre a atuação dos gestores e o nível de supervisão do mercado. Se comprovadas as irregularidades, o caso pode resultar em sanções administrativas e até criminais, além de reforçar a necessidade de regulação mais rígida sobre as securitizadoras.

Como a denúncia na Virgo impacta o mercado de CRIs

A denúncia tem potencial de abalar a confiança dos investidores nos CRIs, especialmente diante de um cenário onde operações são pouco transparentes. A falta de critérios padronizados e o uso de estruturas complexas dificultam a avaliação de risco por parte do investidor comum.

FIIs de papel e a relação com as securitizadoras 

Os fundos imobiliários de papel (FIIs de papel) investem majoritariamente em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), títulos de crédito lastreados em recebíveis do setor imobiliário. 

Na prática, o investidor que aplica nesses fundos está exposto ao fluxo de pagamentos de contratos de aluguel, financiamentos ou operações estruturadas ligadas ao mercado imobiliário.

Nesse processo, as securitizadoras desempenham um papel central: são elas que estruturam o CRI, recebem os recursos dos investidores e repassam os pagamentos conforme o devedor do lastro cumpre suas obrigações. 

Por isso, além da análise do devedor e das garantias da operação, é fundamental observar também a governança da securitizadora, já que ela é a responsável pela administração dos fluxos e pela transparência da operação.

Fundos imobiliários expostos à Virgo

Diversos fundos relevantes do mercado têm exposição a CRIs emitidos pela Virgo — uma das maiores securitizadoras do país — como é o caso de CPTS11, VGIR11 e VRTA11, entre outros, com diferentes níveis de participação.

Para evitar alarmes desnecessários é importante destacar que esses fundos não estão expostos ao CRI específico que motivou a denúncia. Isso porque o risco está mais relacionado à governança e transparência da securitizadora do que ao fluxo direto dos créditos.

Vale lembrar que quem efetivamente paga o crédito é o devedor do contrato que lastreia o CRI — como empresas de varejo, incorporadoras, operações de BTS ou projetos de infraestrutura — e não a securitizadora.

Problemas de gestão podem, sim, gerar atrasos operacionais, falhas de repasse ou maior insegurança regulatória, mas não alteram de forma automática a capacidade de pagamento do devedor do CRI.

Caso na Virgo não é isolado no mercado

Não é a primeira vez que o mercado passa por algo semelhante. O caso Hectare/ForteSec ficou marcado pelo uso inadequado de estruturas e garantias, resultando em perdas significativas para investidores, e serviu de alerta sobre a importância de diversificação também entre securitizadoras.

Portanto, esse episódio reforça a necessidade de avaliarmos não apenas o risco de crédito do devedor, mas também a qualidade da securitizadora e o nível de diversificação dos fundos, de forma a mitigar riscos tanto de crédito quanto de governança. 

Assim, seguiremos acompanhando de perto os desdobramentos, e reiteramos que, neste momento, não há impacto direto no recebimento dos créditos dos fundos.

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