Inflação ao consumidor (CPI) dos EUA surpreende e traz pontos de atenção
Ao analisar os detalhes dos números, a inflação mostra maiores pressões em serviços e bens, que demandam a atenção do Fed

A inflação ao consumidor dos Estados Unidos, medida pelo CPI, apresentou uma alta de +0,38% em agosto, acima das expectativas de +0,30%, após um resultado de +0,20% no mês anterior e 0,20% em agosto do ano passado.
O núcleo do CPI, leitura mais importante por excluir itens mais voláteis (alimentos e energia), apresentou uma alta de +0,35%, levemente acima das expectativas de +0,30%, após alta de +0,32% no mês anterior e +0,28% em agosto do ano passado.

Em 12 meses, o núcleo acelerou de +3,06% para +3,11%.

Na leitura mensal, a inflação de serviços mostrou uma leve desaceleração de +0,365% para +0,35%. Apesar disso, esse é o segundo maior patamar desde janeiro de 2025 (+0,51%).

Mas o que realmente chamou a atenção do dado foi a forte aceleração na inflação de Shelter (aluguel e serviços habitacionais), que passou de +0,24% para +0,41%, o maior patamar desde agosto de 2024 (+0,45%).

Dentro de Shelter, um dos destaques foi a aceleração da inflação de aluguel equivalente para proprietários de residência, que representa uma estimativa de quanto um proprietário pagaria de aluguel se estivesse alugando a própria casa. A medida possui o maior peso dentro do cálculo de Shelter (75% de peso).
Essa medida acelerou de +0,28% para +0,38%, o maior patamar desde março de 2025 (+0,40%).

Outro impacto importante dentro de Shelter veio de hospedagem fora de casa (hotéis, resorts, etc.), que, apesar do seu menor peso dentro de Shelter (em torno de 4%), acelerou de -1,02% para +2,29%, o maior patamar desde novembro de 2024 (+2,60%).
Apesar disso, hospedagem fora de casa é um dado mais volátil e, portanto, vejo que o maior ponto de atenção está no forte número de aluguel equivalente para proprietários de residência.

Do lado positivo para a inflação, vale ressaltar a deflação apresentada por serviços médicos, que passou de uma forte alta de +0,79% para uma deflação de -0,14%, em razão da volta dos preços de serviços odontológicos.

Outro ponto a ser mencionado dentro de serviços são os números mais fortes de serviços de transportes, que já havia acelerado em julho e voltou a apresentar números ainda mais fortes, passando de +0,78% para +1,00%, o maior patamar desde janeiro de 2025 (+1,84%).
Vale ressaltar que houve um impacto importante de passagens aéreas, cujos preços são mais voláteis. No entanto, também houve um forte número na inflação de manutenção de veículos, que passou de +1,02% para +2,41%, o maior patamar da série histórica.


Enquanto isso, a inflação de bens acelerou de +0,21% para +0,28%, o maior patamar desde janeiro de 2025 (+0,285%).

O destaque para essa aceleração de bens veio de bens de transportes, que passou de +0,22% para +0,54%, o maior patamar desde janeiro de 2025 (+0,80%).

Também houve pressão importante na inflação de vestuário, que passou de +0,07% para +0,50%, o maior patamar desde fevereiro de 2025 (+0,595%), especialmente pelo aumento nos preços de joias.

Apesar disso, a inflação de móveis e utensílios domésticos, categoria que também tende a sentir os impactos das tarifas, desacelerou de +0,70% para +0,09%, o menor patamar desde março de 2025 (+0,02%), após os fortes números apresentados nos últimos meses.

Dentro de serviços, vimos um número mais forte no qualitativo, com a aceleração da inflação de Shelter sendo o grande destaque, o que demanda atenção, visto que é o dado com a maior necessidade de desaceleração para levar a inflação para a meta de 2,0%.
Além disso, dentro da inflação de bens, vemos possíveis impactos das tarifas de importação sobre alguns itens.
Cortes de juros pelo Fed após dados de inflação nos EUA
Nossa interpretação é que o Fed pode, sim, iniciar o ciclo de corte de juros ao longo das próximas reuniões, mas em um ritmo gradual de 0,25 p.p., enquanto observa atentamente o qualitativo dos dados de inflação, especialmente levando em consideração esse número mais forte de serviços, assim como os possíveis impactos das tarifas de importação sobre os preços de bens nos próximos meses.
Embora o mercado de trabalho apresente sinais de enfraquecimento, a inflação ainda requer atenção.

O que é o CPI americano?
O Consumer Price Index (CPI) é um dos principais dados de inflação ao consumidor, representando a variação média dos preços pagos pelos consumidores por uma cesta de bens e serviços.
Quando sai o CPI EUA?
O CPI é divulgado na primeira metade de cada mês, normalmente entre os dias 10 e 15. O calendário de divulgação pode ser visto aqui.
Qual a taxa de inflação dos EUA hoje?
- CPI mensal de maio: +0,08%
- Acumulado em 12 meses: +2,4%
- Núcleo do CPI mensal de maio: +0,13%
- Núcleo acumulado em 12 meses: +2,79%