Cosan (CSAN3) vai receber aporte bilionário do BTG para reestruturação financeira

Cosan (CSAN3) cai -18% após anunciar aumento de capital com BTG e Perfin, visando reduzir dívida e reforçar estrutura de capital. Entenda os riscos e oportunidades para investidores

Fabiano Vaz 22/09/2025 18:20 7 min Atualizado em: 23/09/2025 14:31
Cosan (CSAN3) vai receber aporte bilionário do BTG para reestruturação financeira

A Cosan (CSAN3) anunciou que receberá um aporte bilionário como parte de sua estratégia para reestruturação financeira. O BTG Pactual (BPAC11) será o principal investidor, com um aporte de R$ 4,5 bilhões, seguido pela gestora Perfin, que contribuirá com mais R$ 2 bilhões. 

Além disso, Rubens Ometto, presidente do conselho da Cosan, fará um aporte adicional de R$ 750 milhões por meio de sua holding Aguassanta. A operação tem como objetivo reduzir o endividamento da companhia, fortalecer sua estrutura de capital e trazer investidores estratégicos para o negócio.

Ação da Cosan (CSAN3) afunda 18,1% após anúncio

As ações da Cosan fecharam em forte baixa de -18,1% nesta segunda-feira, 22, após a companhia anunciar um aporte de R$ 10 bilhões via fundos do BTG Pactual e da empresa de investimentos Perfin.

 As ações da Cosan caíram ontem 18,1%, puxando as perdas do Ibovespa no pregão. Fonte: Bloomberg

Esse movimento é apenas mais um capítulo da longa trajetória da Cosan, que passou por ciclos de expansão agressivos, endividamento elevado e agora uma reestruturação que pode redefinir seu futuro.

Do engenho ao conglomerado global

Fundada em 1936, em Piracicaba–SP, a Cosan cresceu no setor sucroalcooleiro até abrir capital em 2005 — um marco histórico, sendo a primeira do setor a listar ações na B3. Na época, o Brasil surfava o boom do etanol como o “combustível do futuro”.

Mas a visão de Rubens Ometto, fundador da empresa, ia muito além do açúcar e do álcool. Para ele, a companhia precisava deixar de ser apenas uma produtora agrícola e se tornar uma plataforma de energia, logística e infraestrutura.

A virada com a Raízen

O grande salto veio em 2011, quando a Cosan uniu suas operações de açúcar, etanol e distribuição de combustíveis com a Shell, criando a Raízen (RAIZ4).

Hoje, a empresa é a maior produtora de etanol de cana do mundo e uma das principais distribuidoras de combustíveis do Brasil.

Enquanto consolidava a Raízen, a Cosan não parou de expandir sua diversificação:

  • Rumo (RAIL3): tornou-se a maior operadora de logística ferroviária independente do Brasil, transportando cerca de 20% das exportações de grãos do país.
  • Compass: atuando no setor de gás natural e energia, inclusive com a compra da Comgás, a maior distribuidora de gás canalizado do Brasil.
  • Moove: empresa global de lubrificantes, parceira da Mobil, com presença em mais de 10 países.
  • Radar: gestora de terras agrícolas, explorando o potencial imobiliário do agro.
 Fonte: Cosan

Além disso, em 2022, em um movimento bastante questionado pelo mercado, a holding adquiriu cerca de 5% das ações da Vale (VALE3). 

A essa altura, a Cosan já não era mais apenas um engenho. Era um conglomerado multissetorial, com negócios em setores estratégicos da economia brasileira.

O custo do crescimento acelerado

O crescimento acelerado nos últimos anos tem um custo, e no Brasil ele é bastante elevado.

Atuando em setores altamente complexos e de capital intensivo, o ciclo de expansão da Cosan fez com que a holding atingisse níveis elevados de endividamento.

Para se ter uma ideia, só nos últimos três anos foram mais de R$ 50 bilhões em investimentos da holding e de suas controladas.

O ciclo de crescimento refletiu em uma dívida bruta de mais R$ 90 bilhões (considerando a holding e as subsidiárias).

 Fonte: Cosan. Elaboração: Nord Research

Com a sua lucratividade sendo corroída e uma estrutura de capital delicada, o mercado passou a questionar a capacidade da Cosan em conciliar o seu ritmo de crescimento e o pagamento dos seus compromissos. 

Reestruturação e venda de ativos

Em meio aos questionamentos do mercado e um ambiente macro desafiador, no final de 2024, o conglomerado tomou a decisão de iniciar uma reestruturação. A ordem foi clara e atingiu todas as suas controladas.

A Cosan e suas subsidiárias se debruçaram na revisão das estratégias de crescimento, iniciaram programas de desinvestimentos e planos de cortes de custos (eficiência). 

O primeiro grande movimento foi rápido e se deu a partir do seu ativo com maior liquidez. Em janeiro de 2025, a holding anunciou a venda da sua participação na Vale.

Nos meses seguintes, os movimentos partiram das controladas. A Rumo revisou seus projetos de expansão e a Raízen atuou na venda de ativos.

Na Cosan, os planos para IPO da Moove e venda da participação na Compass tiveram poucos avanços.

Diante dessas dificuldades, planos de crescimento postergados e a situação delicada da Raízen, uma injeção de capital para a Cosan se fazia cada vez mais necessária.

Com este objetivo, Rubens Ometto foi em busca de novos sócios para equalizar a estrutura de capital da Cosan.

Não há dúvidas sobre a importância da injeção de capital e a nova realidade que ela vai proporcionar para a Cosan. No entanto, o aumento de capital levantou uma polêmica para os acionistas minoritários. 

Como será feita a capitalização da Cosan

A operação será realizada por meio da emissão de 1,45 bilhão de novas ações ordinárias ao preço de R$ 5 por ação, totalizando R$ 7,25 bilhões. A oferta poderá ser ampliada em até 25%, podendo chegar a até R$ 10 bilhões no total.

O follow-on da Cosan será dividido em duas ofertas: a primeira destinada ao acionista controlador (Aguassanta), BTG Pactual e a Perfin, e a segunda oferta para os acionistas minoritários, que pode chegar em até R$ 2,75 bilhões pelo mesmo preço (R$ 5 por ação).

Os acionistas minoritários com ações da Cosan, ao final do pregão do dia 19 de setembro, terão o direito à subscrição das ações.

Abaixo o cronograma das ofertas:

  • 21 de setembro: anúncio do follow-on.
  • 23 de setembro: convocação da Assembleia Geral Extraordinária (AGE), para a aprovação das ofertas. 
  • 23 de outubro: sendo aprovada, será realizado o lançamento da 1ª oferta.
  • 03 de novembro: precificação da 1ª oferta e lançamento da 2ª oferta.
  • 11 de novembro: precificação da 2ª oferta.

Haverá diluição dos acionistas atuais da Cosan?

Sim. Com 1,9 bilhão de ações atualmente e com as ofertas podendo atingir uma emissão de até 2 bilhões, haverá diluição dos acionistas.

Sendo a proporção da segunda oferta menor, os acionistas atuais sofrerão diluição mesmo participando da oferta. Isso significa que a participação relativa de cada investidor no capital da empresa será reduzida.

BTG e Perfin firmam compromisso de longo prazo

Mesmo com o aporte, Rubens Ometto continuará mantendo o controle da Cosan. Ele permanecerá com a maioria dos assentos no conselho de administração, com direito de indicar cinco dos nove membros. 

Já BTG e Perfin, juntos, indicarão quatro conselheiros. Os novos investidores também assumem o compromisso de manter pelo menos 50% das ações adquiridas por um período mínimo de quatro anos.

O que muda para a Cosan após o aporte bilionário

A decisão de buscar capital está diretamente ligada à necessidade da empresa de melhorar sua posição financeira. Com o aporte, a Cosan poderá reduzir sua alavancagem, ganhar flexibilidade e buscar novas oportunidades de crescimento. 

No 2T25, a dívida líquida ficou em R$ 17,5 bilhões, mesmo patamar do montante reportado no 1T25. Segundo a companhia, com a injeção de capital de R$ 10 bilhões, a dívida líquida poderá cair para R$ 7,5 bilhões.

Estrutura de capital da Cosan após captação de R$ 10 bilhões. Fonte: Cosan RI

Apesar dos riscos associados, como a diluição acionária e a diferença entre o preço da oferta e o valor justo de mercado das ações, a companhia aposta que o movimento trará ganhos sustentáveis no longo prazo.

Próximos passos e perspectivas

A operação ainda depende de aprovação dos acionistas em assembleia, o que será um passo crucial para que a estratégia se concretize. Se aprovada, a Cosan não apenas reforça seu caixa, como também sua governança, com a chegada de investidores com visão de longo prazo e peso relevante no mercado financeiro.

Com esse movimento, a Cosan reforça o seu comprometimento com a redução da alavancagem. Além do desinvestimento na Vale no final do ano passado, ainda existe a expectativa para um possível IPO da Moove, venda de ativos da Raízen e da participação na Compass.

Cosan (CSAN3): hora de investir ou esperar?

Mesmo assim, ainda enxergamos que o risco relacionado à tese segue elevado, especialmente diante do cenário macroeconômico incerto. 

Neste momento, mantemos a nossa recomendação neutra para CSAN3.

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