Copom mantém Selic, mas manda aviso

No comunicado, BC disse que “acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política monetária”; entenda

Marilia Fontes 08/12/2022 14:34 4 min
Copom mantém Selic, mas manda aviso

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa Selic estável em 13,75%, como amplamente esperado pelo mercado. Até aí, nenhuma novidade.

No entanto, o que a gente realmente estava esperando para ver é o que o comitê diria no comunicado da decisão.

Vamos lembrar que, da última ata para agora, muita coisa aconteceu. O futuro presidente Lula foi eleito, o Fernando Haddad foi anunciado Ministro da Fazenda e a PEC da Transição entrou em negociação no Congresso.

A PEC enviada previa um gasto acima do teto de R$ 175 bilhões. A PEC aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) considera um gasto extra de aproximadamente R$ 150 bilhões. Melhor que R$ 175 bilhões, mas ainda um gasto muito superior ao recomendado.

Um gasto dessa magnitude exigiria um aumento de impostos agressivo ou um crescimento econômico de cerca de 6% para que a Dívida sobre o PIB estabilizasse no patamar atual.

Essa novidade fez com que o mercado subisse 100 pontos base as taxas de juros futuras, zerando a expectativa de queda da Selic para o ano que vem.

Essa era, portanto, a maior expectativa do mercado. O que o Banco Central iria enfatizar frente a todo esse movimento de expansão fiscal?

O comunicado atual do Copom foi praticamente uma cópia do comunicado e da ata anterior. Quase nada foi adicionado ou alterado, exceto uma frase.

Ao mencionar os balanços de riscos, que são os riscos inflacionários que não são possíveis de incorporar no modelo, pois não são quantificáveis, ele adicionou o seguinte comentário:

"O Comitê acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva."

No parágrafo, o comitê menciona a devida atenção que será dada para a questão fiscal. Contudo, seguindo a frase, ele faz questão de pontuar que o que ele estará mais especificamente atento serão os efeitos da piora fiscal nos preços dos ativos e nas expectativas de inflação.

Ou seja, o que importa não é tanto a piora fiscal em si, mas sim o impacto que ela teria no câmbio.

Se a piora fiscal provocar uma aversão ao risco que desvalorize significativamente o câmbio, isso poderia colocar em risco o cumprimento da meta de inflação ou uma piora da expectativa de inflação, o que também será negativamente encarado pelo BC.

Caso haja uma piora fiscal sem uma piora nas expectativas de inflação ou desvalorização cambial, com o mercado dando um voto de confiança ao novo presidente, o BC também não me parece ter a vontade de agir.

Ele estaria em compasso de espera, observando atentamente o mercado e os preços dos ativos e expectativas para, então, tomar uma decisão: se retoma ou não o ciclo de alta da Selic.

Difícil ser o Banco Central esses dias, não é mesmo?

O que podemos estar seguros é que nesse clima de mais gastos não teremos quedas agressivas nas taxas de juros.

Então, você, que está desesperado para aproveitar as taxas de juros de dois dígitos, pode ficar tranquilo e ter muito mais paciência, pois elas vieram para ficar.

Estamos falando de anos de inflação mais persistente, juros mais altos e atividade consequentemente mais fraca.

A chance de o novo governo virar fiscalista e promover uma sequência de reformas estruturantes que reduzam os gastos públicos fica quase nula.

Começamos a ter um cenário em que a assimetria fiscal é negativa e as chances de você ser surpreendido por políticas expansionistas com consequência negativa nos preços dos ativos é cada vez maior.

Considere isso nos seus investimentos. Evite ser pego de surpresa.

Prepare-se para um mercado parecido com os anos 2015/2016. Oscilações maiores do que você estava acostumado no período pré-pandemia.

Se você tiver muitas dúvidas de como organizar sua carteira para o ano que vem, marque um check-up comigo, eu te ajudo com todas as dúvidas. Como se fosse uma consulta de médico, mas para ajudar na sua saúde financeira.

Não fique muito confiante. Mantenha a cautela e o respeito pelo mercado.

E como já disse o Meirelles: "Boa sorte".

Tópicos Relacionados

Compartilhar