Netflix (NFLX): Sem concorrentes no Brasil

Será que a Netflix deveria substituir a Tesla na lista das 7 magníficas?

Henrique Vasconcellos 27/01/2024 07:15 6 min
Netflix (NFLX): Sem concorrentes no Brasil

Não sei você, mas eu ainda me lembro daquela tradicional dinâmica de final de semana na minha família de ir à locadora na sexta-feira. Geralmente, alugávamos três filmes: um para mim, um para a minha irmã e um para os meus pais.

Era quase uma “regra” dentro de casa. Tanto a dinâmica de alugar, pelo menos, três filmes, quanto os horários em que cada um teria preferência para assistir na televisão da sala. 

Já não passa de uma saudosa memória da minha infância. Uma empresa acabou “quebrando a regra” que existia na minha casa e criou uma nova realidade de como interagimos com filmes e séries. 

Agora, a regra é não ter regras, e o nome do jogo é Netflix.

Netflix: Resultados 4T23

Nesta semana, a Netflix divulgou seus resultados para o 4T23 e consequentemente para o ano fechado de 2023. Novamente, a empresa surpreendeu o mercado com um bom desempenho no número de novas assinaturas e crescimento de receitas. 

A companhia atingiu a marca de 260 milhões de usuários pelo mundo. Isso correspondeu a uma adição de 13 milhões de contas no trimestre — número bem acima dos 9 milhões de novos assinantes que o mercado esperava para a empresa. 

O 4T23 foi o melhor trimestre da companhia em número de adições de contas desde o 1T20, no auge da pandemia, quando adicionaram 16 milhões de contas. 

Número de usuários da Netflix desde 2019.
 Fonte: Netflix e Nord Research

Alguns fatores contribuíram para que a empresa entregasse números bem acima do esperado. O primeiro ponto foi a adição do plano mais barato, que inclui propagandas. A adição de um plano como esse foi um marco para a companhia. Assim como ela “quebrou” a regra que eu tinha com minha família de alugar filmes na locadora, ela quebrou sua própria regra de não ter propagandas. 

O segundo ponto crucial para a retomada do bom crescimento de usuários foi a restrição imposta a assinaturas compartilhadas. Agora, é necessário que seja uma assinatura por residência, e não mais uma por família em diferentes residências (como era o caso da minha). 

Diante da boa adição dos números de usuários, ela teve um crescimento de receitas de +12,5%. Já o Ebitda da companhia teve um salto de +146% na comparação anual. E, por fim, o seu lucro teve um crescimento de mais de 15x na comparação com o 4T22. 

Histórico de resultados da Netflix.
 Fonte: Bloomberg

No consolidado do ano, a NFLX entregou um crescimento de +6,7% de receitas, +22,5% de Ebitda e o lucro teve um crescimento de +20,4%.

Olhando para o próximo trimestre, a empresa espera entregar receitas de aproximadamente US$ 9,2 bi, com um lucro por ação de US$ 4,49

Já para o ano de 2024 como um todo, ela espera retomar uma aceleração do crescimento de receitas, com crescimento de dígitos duplos (acima de +10%), e uma melhora da margem Ebitda e de lucro. 

Cancelamento de assinatura por streaming

A famosa “batalha dos streamings” segue a todo vapor, em uma briga incessante das empresas por assinaturas de clientes. Mas a Netflix de longe vem se destacando como a grande líder nessa corrida. 

Taxa de cancelamento por streamings.
 Fonte: Bloomberg

Quando comparamos as taxas de cancelamento de assinaturas entre os serviços de streamings com a Netflix, vemos que ela está jogando um jogo completamente diferente do resto. Enquanto todas as demais sofrem com taxas de cancelamento mais altas, a Netflix é muito menos cancelada do que as outras. 

Conteúdo é a regra

Essa conquista da empresa pode ser atribuída ao catálogo mais completo entre todas as empresas do mercado, com a mistura de títulos próprios e também títulos de terceiros. 

No entanto, o que é impossível de quantificar é o poder que um nome “verbalizado” tem. “Bora ver um Netflix”, “Netflix & Chill”, e assim por diante. 

Mesmo que você acabe assistindo outro streaming, a palavra “Netflix” está associada a ficar em casa, fazer uma pipoquinha e curtir um filme ou uma série. Isso importa muito.

Concorrentes da Netflix no Brasil 

A briga da empresa não parece mais ser apenas com os demais serviços de streaming, mas sim com as gigantes de tecnologia como Amazon e Apple, que além do streaming possuem outras atividades que lhes concedem uma quantidade enorme de caixa para investirem. 

Cada vez mais, o serviço de streaming que essas gigantes oferecem é um braço adjacente para seus demais negócios. 

No caso da Amazon, por que não emendar o serviço de streaming com vendas de pipocas, guloseimas, ou mesmo um cobertor? Já para a Apple, é a integração da sua vida digital com as aplicações físicas: você já tem o celular, o relógio… por que não ter o entretenimento da empresa em casa? 

A Microsoft, na contramão, vem dedicando seus esforços no mundo do entretenimento a uma indústria maior e com mais crescimento que a de filmes e séries, a indústria de videogames.

No entanto, com o tamanho que ela possui, o que a impede de eventualmente adicionar séries e filmes a essa plataforma de games? Pode ser apenas uma questão de tempo até que eles decidam participar dessa festa. Seja comprando uma empresa, seja por meios próprios. 

Essa indústria toda é uma constante reinvenção, tanto no que diz respeito a estar sempre gerando novos conteúdos quanto encontrar novas formas de capturar a atenção e o interesse de seus usuários.

O esporte entra na corrida

Poster do Netflix Slam.
 Fonte: Netflix

Mesmo tendo sido a pioneira no mundo do streaming de séries e filmes, a Netflix foi uma das empresas que mais demorou para começar a sua trajetória no universo dos esportes. O anúncio dessa “PARTIDAÇA” (entre Nadal e Alcaraz em Las Vegas) abriu inúmeras portas para a companhia seguir daqui para a frente.

A primeira iniciativa foi o recente anúncio com o WWE (aquele programa de “luta livre” teatral). A Netflix anunciou um acordo de US$ 5 bilhões por 10 anos com o WWE para ter os direitos de transmitir ao vivo o seu programa tradicional “Raw”, a partir de janeiro de 2025. 

Tabela com direitos esportivos que expiram nos próximos anos.
 Fonte: JP Morgan

Além do WWE, existem outros esportes que a empresa pode buscar contratos para no futuro ampliar seu portfólio de esportes. Contratos como o da Fórmula 1 casariam muito bem com a sua série de sucesso Drive to Survive, que retrata os bastidores do esporte mais glamuroso do mundo. 

Entre outros muito interessantes como NBA, UFC e, é claro, minha torcida aqui para os direitos dos jogos de futebol americano da minha universidade (Let 's go Irish). 

Como brasileiros, temos visto o que tem sido feito pelo fenômeno da internet, o Casimiro, com a CazéTV. O canal no YouTube tem transmitido os jogos da querida Copa São Paulo de Futebol, os estaduais e ainda vão transmitir as Olimpíadas de Paris este ano. 

Nesse mundo de esportes, a Netflix tem um oceano a explorar e a escala para entrar forte nessa briga e, assim, não apenas disruptar o seu próprio negócio, como também seguir transformando a indústria de Cinema & Televisão. 

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