Renda fixa rende menos de 1% ao mês após a queda da Selic para 12,25%

Com a Selic em 12,25% ao ano, saiba como ficam os investimentos em renda fixa e o impacto do novo corte de juros sobre a Bolsa

Marilia Fontes 02/11/2023 07:00 3 min Atualizado em: 04/01/2024 11:35
Renda fixa rende menos de 1% ao mês após a queda da Selic para 12,25%

Em reunião na noite de quarta-feira, 1º, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por seguir reduzindo a taxa Selic em 50 pontos-base, de 12,75% para 12,25%

Como fica a renda fixa?

Com a Selic em 12,25% ao ano, o retorno bruto mensal corresponde a 0,96% ao mês, menos de 1% que tínhamos anteriormente. 

Se considerarmos o retorno livre de imposto de renda, falaremos de 0,82% ao mês, para investimentos acima de dois anos. 

Agora, se o investidor quiser render os tão sonhados 1% ao mês, terá que correr mais risco em sua carteira de investimentos. 

Comunicado do Copom

No comunicado, o Banco Central reforçou em vários trechos a mensagem de calma, cautela e parcimônia. 

Em relação aos juros nos EUA, a autarquia monetária reforçou: “O Comitê avalia que o cenário exige atenção e cautela por parte de países emergentes.”

Em outro parágrafo sobre o balanço de riscos, o Copom também adicionou: “O Comitê avalia que a conjuntura, em particular devido ao cenário internacional, é mais incerta do que o usual e exige cautela na condução da política monetária.”

Parágrafos demandando serenidade foram mantidos neste comunicado: “A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.”

Banco Central manterá o ritmo de 50 pontos-base 

Toda essa linguagem reforça a chance mínima, quase nula, de que o Banco Central eventualmente acelere o passo da queda da Selic para 75 pontos-base. 

Fica bem claro no comunicado que o passo seguirá em 50 pontos-base, pelo menos para as próximas duas reuniões. Ou seja, teremos a Selic caindo para 11,75% em dezembro e para 11,25% em fevereiro. 

A partir deste ponto, começará a fazer muita diferença o nível dos juros americanos. Se o juro americano for 5,5%, fica muito difícil para a nossa taxa Selic cair abaixo de 10%. 

Neste caso, iremos passar a trabalhar com juros um pouco mais altos do que a política monetária interna sugeriria. Uma taxa local muito baixa poderia causar uma fuga de investimentos com consequência na desvalorização cambial. 

No Chile, por exemplo, tivemos uma queda acentuada dos juros de curto prazo, de 10,50% para 7,25%. A consequência foi uma desvalorização cambial de 20%.

Juro de 1 ano no Chile (Linha Azul) versus Peso Chileno (Linha Branca). Fonte: Bloomberg

O que se espera para a economia nos próximos meses?

Teremos um debate acalorado em relação a qual será a Selic terminal frente ao contexto de juros americanos altos. 

Além desta discussão ser bastante complexa, teremos ainda uma diretoria do Copom com mais dois membros nomeados pelo novo governo, que por diversas vezes criticou os juros altos no país. 

E os investimentos em Bolsa?

A taxa terminal acaba sendo bem importante para o nível de preço dos ativos de risco. Uma Selic abaixo de 10% acaba ajudando muito a bolsa brasileira. 

Mas esta tese é difícil de antecipar, ainda mais por depender tanto do comportamento dos juros americanos. 

O que podemos afirmar é que a Bolsa atualmente está muito barata e quem topar correr o risco dos juros, certamente irá coletar um pote de ouro no final do ciclo. 

Só é possível comprar boas ações a preços baixos quando o cenário está extremamente desafiador. 

Em cenários tranquilos e de crescimento, os valuations giram em torno do dobro dos múltiplos atuais. Porém, a diferença é que ninguém quer comprar agora e todos querem comprar no cenário positivo. 

Por isso investir é tão difícil. Mais do que saber valuation, comprar empresas baratas é um jogo psicológico.

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