Boletim macro semanal: Argentina salta 45%, ouro cai 8% e Brasil aquecido
Bolsa argentina dispara, ouro recua e Brasil mantém mercado aquecido. Veja também o cenário dos EUA
Nesta edição da Nord News, selecionamos os principais movimentos do mercado da semana (entre 27/10 e 31/10).
Tudo direto ao ponto, com insights claros e objetivos para ajudar você a tomar decisões mais informadas.
Bolsa da Argentina sobe 45% com vitória de Milei
A eleição legislativa nacional na Argentina representou uma vitória para o atual presidente Javier Milei, surpreendendo a mim e ao mercado. A surpresa se refletiu nos preços, com a Bolsa subindo 44,5% desde as eleições até quase 15h da tarde de sexta-feira, 31/10 (momento em que escrevo este texto).

Com a vitória, o partido de Milei, Liberdade Avança, passou a ter 107 deputados no Congresso, superando os 96 peronistas e precisando de mais 22 votos a favor para aprovar projetos de lei — o que ainda exigirá articulação com o centro.
A reação positiva da Bolsa reflete o aumento da probabilidade de a Argentina continuar executando políticas de ajustes estruturais na economia nos próximos anos.

Ouro recua após alta histórica
Em contraste com o rali argentino, o ouro viveu semanas mais voláteis. Após alcançar a máxima histórica em 20 de outubro (US$ 4.356 por onça-troy), a commodity caiu -7,62% até o dia 30, para US$ 4.024.

Entre os motivos para essa queda recente estão as novas negociações comerciais entre EUA e China e a realização de lucros por parte dos investidores após as fortes altas da commodity nos últimos meses.
Sobre a negociação entre EUA e China, os países chegaram a um acordo para adiar os controles de exportação de elementos de terras raras por um ano, além de reduzir a tarifa vinculada ao fentanil de 20% para 10%.
Essa é uma trégua temporária e a paz ainda não está selada entre as duas economias. O risco geopolítico ainda existe, mas devemos seguir acompanhando a dinâmica dessas negociações.
O ouro ainda tem espaço para ocupar uma pequena parcela da carteira. Na nossa avaliação, altas concentrações devem ser evitadas, diante dos preços esticados.
Mercado de trabalho segue aquecido no Brasil
No cenário doméstico, o mercado de trabalho brasileiro segue aquecido. A taxa de desemprego se manteve em 5,6% em setembro. Com o ajuste sazonal, o desemprego se manteve em 5,8%, nos menores patamares da série histórica.

Os salários seguem subindo, com o rendimento real alcançando novo recorde de R$ 3.507 (+4% no ano) e a massa salarial também renovou o recorde, alcançando R$ 354,6 bilhões (+5,5% no ano).
Temos observado sinais de desaceleração da economia por meio de outros dados de atividade, como no IBC-Br, como consequência da Selic elevada; essa desaceleração pode ser refletida nos dados de mercado de trabalho no próximo ano.
No entanto, 2026 é ano de eleição, período em que os governos costumam expandir gastos para sustentar a atividade econômica no curto prazo e melhorar a popularidade.
Nesse contexto, esperamos cortes graduais na taxa de juros (Selic), acompanhados de um discurso em tom de cautela por parte do Banco Central.
Os EUA continuarão cortando juros?
Nos EUA, o Federal Reserve (Fed, BC americano) cortou a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual (p.p.), para a faixa de 3,75% a 4% ao ano.
A decisão não foi unânime. Dos 12 votantes, um membro votou por um corte mais forte de 0,50 p.p., enquanto outro votou por manter o juro inalterado.
A decisão do Fed está relacionada ao cenário de arrefecimento do mercado de trabalho e a dados mais benignos de inflação.
No entanto, Jerome Powell, presidente do Fed, afirmou que um corte de juro na reunião de dezembro está longe de ser uma conclusão dada, deixando o mercado mais dividido sobre a próxima decisão.
Na minha visão, o Fed deve cortar em dezembro, mas precisa seguir monitorando os dados. Para os próximos 12 meses, o mercado precifica corte de 0,87 ponto percentual (p.p.), o que levaria a taxa para o patamar em torno de 3%, considerado o juro neutro (o juro que não aquece nem esfria a economia).
O gráfico abaixo também nos mostra que o mercado precifica cortes de juros na maioria dos países, com o Brasil como destaque, com corte precificado de 1,75 p.p. (em 12 meses).

Tecnologia sustenta economia dos EUA
Mesmo com juros altos, a economia dos EUA segue surpreendendo pela resiliência. E há um motivo claro: tecnologia.
Os gastos relacionados à inteligência artificial nos EUA aceleraram em 2025, em contraste com a queda dos investimentos em setores fora desse segmento.

Ou seja, os fortes investimentos em tecnologia vêm sendo o principal motivo para a continuidade da resiliência da economia americana mesmo em meio a um cenário de juros elevados. A economia vem desacelerando, mas de forma saudável (gradualmente), sustentada pelo ecossistema de tecnologia.
Outro ponto interessante: um recorde de 10% das empresas dos Estados Unidos relataram ter usado IA nas últimas duas semanas, acima dos 6% de um ano atrás.


