Ata do Fed: por que ainda pode ser cedo para o BC americano parar de subir juros em junho?

Ata passa a ideia de que nem todos lá dentro estão confiantes com a chance de interrupção do ciclo de alta de juros por lá

Marilia Fontes 25/05/2023 17:56 3 min Atualizado em: 26/05/2023 13:33
Ata do Fed: por que ainda pode ser cedo para o BC americano parar de subir juros em junho?

O Banco Central americano publicou na quarta-feira, 24, a ata da reunião de política monetária, que subiu a taxa do Fed Funds em 25 pontos-base (bps).

O que é Fed Funds?

Os Fed funds (fundos federais) são os depósitos de reservas que os bancos comerciais e demais instituições financeiras dos EUA depositam junto ao Federal Reserve (Fed), o banco central americano.

A taxa dos Fed Funds é definida pelo Fed nas reuniões do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC). Essa taxa é referência para o custo de empréstimos em dólares, o que faz com que seja acompanhada pelo mundo todo.

Fed está dividido sobre novos aumentos nos juros

A ata da reunião do Federal Reserve (Fed) mostrou que nem todos os membros do Banco Central americano estão confiantes com a chance de parar o ciclo de alta de juros nos EUA.

Os dados de inflação ainda estão acima da meta. Os dados de atividade e emprego ainda estão fortes. E os estímulos de injeção de liquidez de 300 bilhões na crise do Silicon Valley Bank foram mais do que suficientes para compensar a redução no crédito.

Oras, mas se ao menor sinal de restrição da atividade o Fed ou o governo injetam liquidez, como podemos pensar em um arrefecimento da inflação sustentável?

Todos esses dados indicariam que ainda não está no momento de pensar em uma pausa na alta das taxas de juros por lá. Se ainda temos força na economia, um juro alto ainda é necessário para segurar a inflação.

Por outro lado, o mercado não só precifica uma pausa como também precifica um posterior ciclo de queda ao longo deste ano.

Precificação do mercado queda de juro americano
Fonte: Bloomberg

Ou seja, temos um cenário em que o fundamento não conversa com os preços de mercado. O fundamento mostra uma atividade forte com necessidade de juros restritivos. O mercado precifica uma queda rápida das taxas.

Quem está errado?

O que essa ata, juntamente aos dados mais fortes, pode indicar é que o mercado está erroneamente precificando o fim do ciclo de alta dos juros por lá.

Se isso é verdade, essa reprecificação dos juros para cima poderia impactar negativamente na bolsa americana, que vem recuperando bastante nos últimos meses com o possível fim do ciclo.

Gráfico bolsa americana
Fonte: Bloomberg

A própria discussão do aumento do teto de gastos por lá também pode ser um fator de risco para a bolsa americana.

Vamos lembrar que, ao contrário do Brasil, os valuations nos EUA permanecem em patamares historicamente altos, não compatíveis com o desaquecimento econômico que uma desinflação precisa. E não compatíveis com um ciclo grande de alta nas taxas de juros.

A bolsa brasileira pode sofrer com a queda da bolsa americana?

Pode sim. Podemos ter uma piora por aqui por contágio de um mercado ruim lá. Dificilmente as bolsas dos países emergentes não sofrem quando o S&P cai bastante.

Mas como eu disse acima, estamos em um patamar de valuation muito baixo, além de estarmos em uma fase totalmente diferente do ciclo de taxa de juros (vislumbrando uma queda).

Então podemos até cair no curto prazo. Mas acredito que sofreremos bem menos que eles, e teremos uma recuperação posterior.

Ou seja, eu não esperaria uma deterioração lá fora para entrar em boas empresas aqui.

Dados de hoje

Hoje teremos dados do Core PCE, às 9h30 (horário de Brasília).

Esse dado é um dos que o Fed olha bastante para pensar a sua política monetária.

Números negativos poderiam forçar a pressão para que os membros do Fomc não pausem o ciclo de alta de juros, ou pelo menos tenham uma linguagem mais cautelosa.

Vale a pena ficar bem atento nesse dado, além é claro de toda a discussão a respeito do aumento ou não do Teto de gastos americano.



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