Com juros em queda, renda fixa fica mais arriscada que a bolsa
Entenda como a marcação a mercado impacta os títulos públicos e por que a renda variável pode oferecer melhor equilíbrio de risco e retorno hoje
O debate entre manter investimentos em renda fixa ou migrar para a bolsa voltou à tona em um cenário de juros em queda e volatilidade política. Entenda por que contratos prefixados podem enganar e como montar uma carteira equilibrada, diversificando entre títulos públicos, multimercado e ações com dividendos.
Renda fixa vs. renda variável: os riscos dos títulos prefixados
Muita gente acredita que, por ter adquirido um título prefixado ou indexado à inflação com uma “taxa especial”, como 7 % ao ano, estará garantindo esse rendimento até o vencimento — seja 2025 ou 2035. Mas isso é uma falácia comum entre investidores de renda fixa.
Por quê? Porque existe a marcação a mercado: mesmo que você tenha comprado o título há anos, ele é reavaliado diariamente com base nas taxas de juros atuais.
Se as taxas caíram de 7 % para 4 %, por exemplo, o valor presente do título também cai, e você só garante o rendimento de 4 %, não mais os 7 % originais. Todo o ganho esperado já foi “recebido” na forma de valorização do título até hoje.
Entenda o impacto da volatilidade das taxas de juros
Caso as taxas continuem caindo, você pode ganhar mais com renda variável; mas se as taxas subirem, a desvalorização dos títulos prefixados pode ser dolorosa.
A distribuição de risco-retorno nesse cenário é desfavorável para quem se expôs muito à renda fixa longa — o risco de perda aumenta mais do que o potencial de ganho.
A importância da diversificação
A solução não é jogar tudo na renda variável nem insistir em títulos longos. Uma estratégia mais equilibrada é distribuir seus recursos entre:
- Pós-fixados ou crédito privado (CDBs, LCIs, etc.), com rentabilidade próxima ou um pouco acima do CDI — maior segurança, menor risco de marcação a mercado.
- Multimercados, que podem agregar retorno incremental com gestão ativa, ainda que com maior volatilidade.
- Ações pagadoras de dividendos, que oferecem rendimento atrativo (como 6 % ao ano sem imposto de renda) e ainda possibilitam valorização do capital.
Como montar uma carteira consciente
- Tenha uma reserva de liquidez em Tesouro Selic (ranking mais seguro e imediato).
- Para o restante, ajuste sua alocação de acordo com o seu “estômago”. Se alta volatilidade te incomoda, reduz a exposição à bolsa; se você tolera mais flutuação, pode aumentar gradualmente sua posição em ações.
- Use fundos ou produtos que misturem renda fixa, variável e ações, conforme seu perfil conservador, moderado ou agressivo.
A bolsa como oportunidade — mas com cautela
O mercado ainda não precificou uma possível recuperação econômica. Se reformas forem aprovadas e houver crescimento modesto (2 % a 3 %), ações podem valorizar bastante. Mas a bolsa segue volátil — tente entrar aos poucos, aproveitando quedas, sem tentar “acertar o fundo”.
Disciplina emocional é essencial
Investir exige mais autocontrole do que inteligência. Se você comprar e o mercado cair, evite vender por pânico. A disciplina emocional evita perdas desnecessárias. O maior risco não é errar o momento de compra, mas sim deixar que o medo te impeça de participar da recuperação.