Você lembra do que aconteceu com a renda fixa em 2016? Com taxas elevadas e incerteza econômica, muitos investidores recuaram — e perderam uma das maiores oportunidades da década. Agora, o cenário de 2026 acende um alerta familiar. Será que estamos prestes a viver outro momento histórico?

O que aconteceu com a renda fixa em 2016?

O ano era 2016. Eu ainda trabalhava como gestora de fundos multimercado e lembro como se fosse hoje: meus colegas de profissão estavam em pânico. A inflação não dava trégua e havia fechado o ano anterior em 10,67%. 

O mercado vivia um clima de histeria. As taxas prefixadas no mercado futuro já beiravam os 17% ao ano — um patamar que parecia insustentável — e ninguém via horizonte de melhora.

O Tesouro Nacional recorria a leilões de recompra porque fundos gigantes despejavam títulos no mercado. O real se desvalorizava rapidamente com investidores correndo para o dólar. 

Dilma Rousseff havia demitido Joaquim Levy do Ministério da Fazenda. Para o investidor comum, não restava mais qualquer fagulha de esperança.

Naquele momento, os títulos de longo prazo do Tesouro IPCA+ pagavam 7,5% acima da inflação, a maior taxa desde 2002. E, mesmo assim, ninguém queria tocar nesses papéis. 

Lembro de um gestor da Tesouraria de um grande banco me perguntar se valia a pena alocar parte do caixa nesses títulos. Respondi que, sim, havia risco, mas aquele nível de juros já aguentava “muito desaforo”. Era uma oportunidade rara — e poucos estavam enxergando.

Oportunidade ignorada por muitos

Alguns meses depois, já fora da gestão e à frente da área de Renda Fixa de uma casa de Research, publiquei minha primeira recomendação: títulos prefixados e IPCA+ pagando 16% ou IPCA+7%. Escrevi aos assinantes que a expectativa era de ganhos entre 40% e 60% em apenas um ano.

Naquela tarde, fui almoçar tranquilamente. Quando voltei, minha caixa de entrada estava lotada. Centenas de e-mails questionando: “Como pode um título que paga 16% render 60%?”. A resposta era simples para um gestor profissional, mas um mistério para o investidor comum: a mágica da marcação a mercado.

Foi ali que percebi: eu não poderia apenas entregar a recomendação, precisava também ensinar. A maioria dos investidores não tinha ideia de como funcionava o mecanismo que transforma crise em oportunidade.

Escrevi então meu primeiro livro, Renda Fixa não é Fixa, explicando em detalhes como, quando as taxas de juros caem, os títulos prefixados e IPCA+ sobem fortemente de preço — permitindo ganhos muito acima da taxa contratada.

Retornos de até 130% em quatro anos

O resultado? Em 2016, os IPCA+ longos renderam 44,4%. Em 2018, mais 21,3%. Em 2019, outros 59,5%. No acumulado de quatro anos, 130% de retorno em títulos públicos federais de baixo risco. Parece inacreditável, mas aconteceu.

Por que 2026 se parece com 2016?

Hoje, o cenário tem um sabor de déjà-vu. O mercado volta a temer a inflação. O risco fiscal assusta. Muitos correm para o dólar. O Tesouro precisou recomprar papéis. As taxas de juros estão novamente em patamares elevados.

E aqui vai uma lição que aprendi ao longo dos anos: juros altos nunca aparecem em tempos de tranquilidade. Eles são filhos do caos. Quando o fiscal está em ordem e a inflação está na meta, os juros longos despencam e a rentabilidade se acomoda em níveis muito mais baixos. O investidor só tem grandes oportunidades em meio ao pânico.

E 2026 pode ser um desses momentos. Com eleições à frente e a chance de mudanças na política econômica, o Brasil pode, sim, repetir a trajetória de 2016–2019: uma queda acentuada de juros e retornos excepcionais nos títulos públicos.

Se isso acontecer, talvez estejamos diante da última grande onda de valorização da renda fixa no Brasil. Uma oportunidade que, honestamente, eu não imaginava ver novamente.

Fonte: Bloomberg

Como aproveitar essa oportunidade

A beleza do momento atual é que não é preciso complicar. Ganhar dinheiro com renda fixa agora não exige fórmulas secretas, muito menos mergulhar em balanços corporativos. O prêmio pago pelo crédito privado em relação ao Tesouro está tão baixo que chega a ser irrelevante.

O caminho mais simples e poderoso está de volta: o Tesouro Direto. Justo, transparente, sem comissões escondidas. É claro que o seu assessor dificilmente vai recomendar — afinal, ele não ganha nada com isso. Mas é justamente aí que mora a grande oportunidade para quem investe com independência.

Se no passado muitos se arrependeram de não ter embarcado no bonde da renda fixa, desta vez não há desculpas. O cenário está dado. Os números estão sobre a mesa. A oportunidade é real.

A pergunta que fica é: você vai assistir de fora mais uma vez ou vai aproveitar a chance de transformar o caos em rentabilidade?