Fundos imobiliários e o papel do risco nos investimentos
O que um experimento com cartas revela sobre risco e constância? Veja por que fundos imobiliários podem equilibrar retorno e volatilidade na sua carteira
Durante a maior parte da história da humanidade, as pessoas viam o futuro como um destino imutável: algo predeterminado pela vontade divina ou pelo acaso inexorável. Muitas pessoas foram oferecidas em sacrifício para “acalmar a ira dos deuses”. O desconhecido sempre gerou muito medo.
O pensamento primitivo, aos poucos, deu espaço ao pensamento elaborado. Estamos em constante evolução e aprendizado. A ruptura desse pensamento mais primitivo aconteceu quando alguns matemáticos começaram a quantificar a incerteza — uma revolução intelectual profunda, que ajudou no desenvolvimento da humanidade como a conhecemos hoje (e salvou muitas vidas inocentes).
Dois matemáticos foram os principais responsáveis por essa ruptura: Pascal e Fermat. Ela só foi possível a partir da elaboração de conceitos como a teoria das probabilidades — a ciência que se propôs a quantificar o risco.
O paradoxo é que o desenvolvimento da inteligência e da sofisticação não elimina a incerteza (outro nome para risco), apenas a reposiciona. A aleatoriedade continua a existir e, todo dia, nos ajuda a ter mais humildade intelectual, ou seja: a humanidade não é boa em prever o futuro, as ocorrências aleatórias.
Pense em sua vida. Você imaginou que estaria onde está hoje, anos atrás? E a quantidade de eventos (bons e ruins) que aconteceram em sua vida, e que não estavam no radar?
Tem uma frase, creditada a Isaac Newton, amplamente considerado um dos maiores gênios da humanidade, que eu simplesmente adoro: “O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano”. Essa frase também foi utilizada em uma série da Netflix, que também adoro: Dark! (Se não assistiu ainda, fica aqui minha dica).
A tarefa do Jogo de Iowa
Imagine que você foi convidado para um jogo de cartas (os primeiros estudos sobre probabilidade na matemática só aconteceram por causa dos jogos, sabia?). Na sua frente, há quatro baralhos de cartas: A, B, C e D. Você pode puxar as cartas de qualquer baralho. Cada carta retirada ganha ou perde dinheiro. O seu objetivo, ao final do jogo, é ganhar a maior quantidade de dinheiro possível.
Qual seria a sua estratégia neste jogo para ganhar mais dinheiro? Enquanto você pensa, vou contextualizar o objetivo do estudo.
Os pesquisadores não embaralharam o baralho na frente dos jogadores. Esses baralhos foram embaralhados previamente para possuírem algumas características distintas entre eles (um tipo de dado viciado do bem). Enquanto o baralho A e B ofereciam ganhos maiores com maiores punições (perdas durante o revés), os baralhos C e D foram embaralhados para oferecerem ganhos menores, porém com menores perdas também.
O objetivo, no final das contas, não era ver quem ganhava mais dinheiro, mas sim entender o comportamento do jogador frente à incerteza (volatilidade).
Se você percebeu bem, esse jogo simula a prática do investimento com as suas incertezas e recompensas. A emoção do jogo e do desconhecido. A recompensa por acertar era o lucro, a punição por estar errado, o prejuízo.
O jogo possui muita incerteza, pois é muito aleatório, e cada baralho traz tanto a sorte quanto o azar.
Os primeiros dois baralhos possuíam maior volatilidade (ganhos e perdas maiores). Os dois seguintes possuíam menor volatilidade (ganhos e perdas menores). A única coisa que o investidor controlava era a escolha do baralho para tentar ganhar o máximo de dinheiro ao longo do jogo.
O que aprendemos com o Jogo de Iowa
Como se desenrolou o experimento e a quais conclusões o estudo chegou? Bom, os jogadores, após sentirem a “emoção” dos baralhos (ou volatilidade), nos quais ganhavam mais e perdiam mais, foram optando, aos poucos, pelos baralhos que ganhavam menos e perdiam menos.
Eles foram diminuindo, instintivamente, a volatilidade de cada jogada, para permanecerem mais tempo no jogo. Afinal, só ganha um jogo, quem permanece nele até o final.
Instintivamente, eles sabiam que permanecer no jogo por mais tempo lhes daria a oportunidade de continuar ganhando. Uma perda elevada logo no início os tirava do jogo precocemente.
E esse estudo tem tudo a ver com os nossos investimentos!
Risco e retorno nos investimentos financeiros
A relação entre risco e retorno é a relação mais importante e a mais incompreendida entre os investidores iniciantes. Muitas vezes, o investidor iniciante assume um risco muito elevado para a expectativa de retorno de um investimento. E vamos aqui exemplificar como o investidor pode ancorar suas expectativas de retorno de acordo com o risco que pretende assumir.
Existem vários conceitos para risco. Buffett fala que risco é não entender o que está fazendo, por exemplo. Hoje, vamos adotar a incerteza (ou volatilidade) como medida de risco para nossas reflexões.
Todo ato de investir é um ato de fé no futuro. Você troca o que tem hoje pela promessa do que pode vir a ter amanhã. Investir requer um alto grau de fé, esperança e otimismo, por assim dizer.
Agora duas perguntas:
- Quanto você gostaria de ganhar para deixar de dispor do seu dinheiro hoje e recebê-lo apenas amanhã (sendo amanhã um horizonte de tempo não literal)?
- Vale a pena ser sócio daquele negócio que o seu amigo está lhe propondo?
Esses são exemplos de perguntas que você tem que saber responder!
O seu retorno vai depender do custo do dinheiro. Só que o custo do dinheiro não parte de zero: parte do investimento com o menor nível de risco.
E esse é o título do tesouro norte-americano. Ele é o “Marco Zero” da remuneração dos investimentos ao redor do mundo, ou seja, o menor risco que você pode correr ao emprestar dinheiro e esperar a devolução em uma data futura.
Como o Brasil desafia a lógica do risco-retorno
A partir dele começa a precificação para outros ativos de baixo risco. Aqui no Brasil, o mais baixo risco também começa com os títulos do tesouro.
O Tesouro Nacional Brasileiro precisa remunerar mais que o tesouro americano, pois o Brasil possui mais risco de crédito, moeda mais fraca, mais incerteza política e jurídica etc. Os CDBs de banco têm que remunerar mais que o Tesouro Nacional. CDB de banco pequeno tem que oferecer uma taxa maior do que o de banco grande.
Depois disso, vêm (não necessariamente nesta ordem) crédito privado, FIIs, ações de empresas maduras, ações de empresas pequenas, negócio próprio, etc. Quanto mais arriscado for o investimento, maior deve ser o retorno oferecido (esperado).
A partir deste conhecimento, você pode precificar um investimento. Por exemplo: um amigo te chamou para ser sócio em uma padaria. O investimento é de R$ 1 milhão (R$ 500 mil para cada). A padaria vende R$ 300 mil por ano (receita); desses, R$ 100 mil viram lucro (margem líquida de 10%). Você topa o investimento?
Bom, se não levarmos em conta crescimento etc., a resposta rápida e correta seria não! Hoje, você ganha 15% em Tesouro Selic, o ativo de menor risco no Brasil. Então, investir em um negócio para ganhar 10% a.a. não compensa o risco, né?
A Selic é a nossa taxa de juros. É, literalmente, o preço do dinheiro (custo do dinheiro). Também é nosso “custo de oportunidade”: o quanto você abre mão de ganhar para investir em outra coisa, correndo mais risco.
Por que o Brasil recompensa a paciência, não a ousadia
Assumir mais risco é ter a possibilidade de obter mais retorno. Sim, teoricamente é isso mesmo. Mas a volatilidade é como uma gangorra, que leva os retornos para cima e para baixo. Pode ter menos retorno também! Se correr mais risco garantisse obter maior retorno, não haveria risco!
O mercado financeiro no Brasil traz uma verdade incômoda: assumir mais risco não é sinônimo de obter maior retorno. O ambiente constantemente hostil do nosso país para os investimentos faz com que, muitas vezes, a expectativa de maior retorno de um investimento mais volátil não se materialize.
E aqui vai um “insight” para você: no Brasil, não é necessário assumir mais risco para ter um bom retorno!
Você deve ser recompensado pelo tempo, não pela emoção!
Nosso TD Selic, o investimento de renda fixa de mais baixo risco, já entrega um retorno real (acima da inflação) bem interessante.
O TD IPCA+, da mesma forma, entrega um ganho real que dá inveja a investidores internacionais. Hoje, enquanto escrevo este artigo, o cupom do TD IPCA+ está em torno de 7% a.a. (IPCA+7), acima da inflação (bruto de imposto). Líquido de imposto, ainda assim, resulta em algo em torno de 5% a.a. Um dos melhores retornos “livres de risco” do planeta (o segundo melhor, para ser mais exato).
E quanto às ações de empresas? Historicamente, o IDIV (índice das empresas que distribuem dividendos) possui retorno superior ao IBOV (índice geral de mercado).
As grandes companhias (blue chips), consolidadas no mercado, que distribuem bons dividendos e que possuem menor volatilidade, têm um retorno bastante interessante e sem tanto risco quanto as menores, que possuem maior expectativa de retorno. O dividendo recorrente é o que traz a volatilidade das empresas “dividendeiras” para baixo.
O papel dos fundos imobiliários na carteira
E os Fundos Imobiliários? Bom, eu cheguei até aqui justamente para falar deles! Os FIIs de tijolo possuem, em média, atualmente, um DY entre 8% e 10% a.a. (muda bastante de setor para setor), já líquido de impostos.
Os FIIs de papel estão com DY anual médio de 13% a 14% a.a. (um prêmio também próximo ao dos FIIs de tijolo, já descontada a inflação e livre de impostos). Sabe o que isso significa? Um spread de 60% a 80% superior ao cupom líquido de impostos do Tesouro IPCA+.
Um retorno bem maior que o da renda fixa, com volatilidade bem menor do que a do mercado de ações (a relação fica em torno de ⅓). Quer investir em renda variável, mas sem aumentar muito a volatilidade da carteira? Fundos Imobiliários!
Mas não se esqueça: não é um ou outro, é um “e” outro. Diversifique sua carteira!
Fundos Imobiliários possuem lastro imobiliário, imóveis de alta qualidade, inquilinos com baixo risco de crédito, garantias reais nas operações de crédito, diversificação e liquidez. Uma relação entre risco-retorno excelente!
Investir em Fundos Imobiliários é se manter no jogo por mais tempo. É tirar cartas do montinho de menor volatilidade, enquanto constrói patrimônio ao longo dos anos. É se manter no jogo, no longo prazo.
O grande investidor é o pequeno que nunca desistiu! Ter ativos que geram renda, que têm lastro e que são fáceis de entender é a rota mais tranquila para atingir os objetivos financeiros sem se perder pelo caminho!
Invista em fundos imobiliários! Veja como escolher os melhores FIIs para 2026.

