Ouro bate recorde e supera os US$ 4 mil com tensão entre EUA e China
Ouro supera os US$ 4 mil pela primeira vez impulsionado por tensões entre EUA e China e expectativas de cortes de juros nos EUA
O ouro ultrapassou pela primeira vez a marca dos US$ 4 mil por onça troy, atingindo um novo recorde histórico. Esse movimento reflete um contexto global de busca por proteção diante das incertezas geopolíticas e da crescente demanda dos bancos centrais, que vêm reposicionando suas reservas para reduzir a exposição ao dólar.
Bancos centrais aceleram compras de ouro
O gráfico abaixo evidencia o aumento da demanda dos bancos centrais por ouro a partir de 2022. A média anual de compras, que ficava próxima de 100 toneladas por trimestre entre 2010 e 2021, subiu para cerca de 250 toneladas na média desde 2022.

Esse apetite vem sendo liderado por diversos países. Um dos grands exemplos foi a China, que reduziu sua exposição a títulos do Tesouro americano (“treasuries”) para aumentar suas reservas em ouro.Essa busca por ouro continua.
O Banco Central da China (PBoC) elevou a fatia de ouro em seu balanço de 3% em 2022 para 6,8% em 2025, acumulando nove meses consecutivos de compras até julho de 2025, conforme dados do World Gold Council.

A ascensão do ouro nas reservas internacionais
Dessa forma, dados do Gold.org e do FMI refletem essa tendência: o ouro ganhou espaço nas reservas internacionais dos bancos centrais nos últimos anos.
Em 2019, o metal representava 12% das reservas dos Bancos Centrais ao redor do mundo, enquanto o dólar detinha 53%. Ao final de 2024, a participação do ouro subiu para 19%, enquanto o dólar caiu para 47%.

Esse movimento evidencia uma diversificação estrutural nas reservas, com o ouro voltando a ocupar papel de destaque como ativo de segurança em momentos de instabilidade global.
Fatores estruturais e geopolíticos por trás da alta
A escalada do ouro ocorre em meio à combinação de fatores estruturais e geopolíticos.
- Movimento de desdolarização: Diversos bancos centrais, especialmente de economias emergentes, estão vendendo Treasuries e comprando ouro como forma de reduzir a dependência do dólar em meio à fragmentação geopolítica e às sanções internacionais.
- Busca por reserva de valor: Em um cenário de incerteza global e inflação persistente nos EUA, o ouro reafirma seu papel como ativo de proteção contra riscos sistêmicos.
- A disputa tarifária entre EUA e China e o shutdown nos EUA também podem alimentar o movimento.
Ouro valoriza 15x desde os anos 2000
Recentemente, o ouro atingiu um novo recorde, a US$ 4.107 por onça troy. Desde o início dos anos 2000, o metal multiplicou seu valor por 14 vezes, com acelerações especialmente marcantes após 2020, em razão do cenário explicado acima.

O que esperar do ouro daqui para frente?
A nossa visão atual é construtiva para o ouro, sustentada pela continuidade da demanda dos bancos centrais e pelo cenário de incertezas que coloca o ouro como uma opcionalidade para diversificar a carteira.
Contudo, o preço já elevado exige cautela quanto ao nível de exposição. A assimetria de retorno é menor hoje do que há um ou dois anos, por exemplo. Seguir monitorando o cenário de perto é essencial.
Equilíbrio é a chave na alocação em ouro
O ouro reafirma seu papel histórico como refúgio em tempos de incerteza. Com a desvalorização do dólar em curso e a intensificação das tensões geopolíticas, o metal tende a permanecer em evidência nos portfólios institucionais e nas reservas soberanas. Temos visto, inclusive, diversos gestores multimercados posicionados em ouro neste momento.
Ainda assim, o investidor deve avaliar com cuidado quanto da sua carteira está exposta ao ouro, buscando equilíbrio entre proteção e rentabilidade em um momento de preços historicamente bem elevados.