Retrospectiva: investir em 2025 se tornou um ato de coragem
Dólar acima de R$ 6, Selic a 15% e empresas em crise marcaram 2025. Veja os principais fatos que transformaram investir em 2025 em um ato de resiliência
Se alguém entrou em 2025 esperando um ano de normalização, descobriu rápido que estava no roteiro errado. E pensar que ainda faltam seis dias para acabar.
Foi o ano em que o Ibovespa tocou os 165 mil pontos pela manhã e devolveu 4,31% à tarde, após a confirmação da candidatura de Flávio Bolsonaro para 2026.
O ano em que o dólar ultrapassou R$ 6,30, a Selic estacionou em 15% e a frase “governança corporativa no Brasil” continuou soando mais como desejo do que realidade.
O ano em que o Bitcoin bateu US$ 126 mil e caiu 60% em seguida. Em que Trump anunciou tarifas de 145% sobre a China e negociou um acordo semanas depois. E em que algumas empresas brasileiras descobriram que crescer sem estrutura tem outro nome: recuperação judicial.
Se você atravessou 2025 com algum dinheiro no bolso e a sanidade preservada, parabéns. Você se tornou um case de resiliência.
Bolsa brasileira: a montanha-russa continua
O Ibovespa iniciou o ano nos 139 mil pontos. Em maio, rompeu um recorde. Em 6 de dezembro, cravou 165.035 pontos pela manhã… e desabou horas depois.
A confirmação de Flávio Bolsonaro como candidato desencadeou a maior queda diária desde 2021. O índice fechou em 157.369 pontos e o mercado entrou em modo cautela imediata.
A semana seguinte foi de tentativa de recuperação. Na segunda-feira (9/dez), o Ibovespa subiu 0,52%, mas o clima continuou tenso. O “efeito Flávio” paira como uma nuvem carregada.
Entre 9 e 11 de dezembro, investidores acompanharam o Copom mantendo a Selic a 15%, o PIB do 3º tri crescendo apenas 0,1% e, como sempre, o risco político rondando cada movimento.
A sensação geral? Seguimos a um tweet, a uma CPI ou a uma fala atravessada de distância de um novo pico de volatilidade.
Ainda assim, nem tudo foi negativo. Agro e exportadoras foram beneficiados pelo dólar mais alto. E quem diversificou internacionalmente dormiu melhor ao longo do ano.
EUA: quando as “Mag7” carregam o piano
Enquanto o Brasil lidava com incertezas fiscais, os EUA seguiram um roteiro mais previsível: inovação, governança e lucros robustos.
O S&P 500 se aproximou dos 6.850 pontos. Nasdaq e Dow Jones acompanharam. Nvidia, Microsoft, Apple, Amazon, Alphabet, Meta e Tesla — as “Magnificent Seven” — foram, mais uma vez, protagonistas.
Ainda assim, o cenário não foi livre de ruídos: as tarifas de Trump trouxeram volatilidade e algumas decisões políticas passaram pelo crivo da Suprema Corte.
O mercado seguiu em alta, mas com cautela.
Cripto: volatilidade em modo demonstração
O ano de 2025 reforçou a natureza essencial das criptomoedas: volatilidade extrema.
O Bitcoin atingiu US$ 126 mil em outubro, embalado pelo discurso da nova administração americana.
Dias depois, um dos maiores crashes da história liquidou bilhões em posições alavancadas. Em dois meses, o BTC recuou 60%.
Ethereum e o restante do mercado simplesmente seguiram o fluxo, com promessas técnicas sofisticadas no papel e gráficos turbulentos na prática.
Dólar: quando o câmbio vira sintoma
O dólar iniciou 2025 a R$ 6,18 e passou o ano refletindo o que o mercado já sabia: a questão é fiscal, não monetária.
Mesmo com mais de US$ 32 bilhões em intervenções, o Banco Central conseguiu apenas aliviar movimentos pontuais. O real se consolidou como a moeda mais desvalorizada do G20.
Projeções otimistas? Poucos ainda se arriscam a acreditar.
Brasil: juros altos por falta de alternativas
A Selic saiu de 12,25% para 15% em seis meses, e permanece lá desde junho.
O BC combate expectativas desancoradas, inflação pressionada e a falta de confiança nas contas públicas.
Enquanto isso, os EUA caminham na direção oposta: o Federal Reserve realizou seu terceiro corte, levando a taxa para o intervalo de 3,50%-3,75%.
É a prova de que os juros no Brasil ainda carregam um peso fiscal que o Banco Central americano não precisa administrar.
Guerra comercial: Trump reacende a disputa
O ano de 2025 marcou a volta do ciclo de tarifas, renegociações e imprevisibilidade.
A sequência de anúncios, aumentos, ameaças e acordos provisórios praticamente redefiniu as cadeias globais de suprimento.
Para o Brasil, coube uma tarifa de 10%, pequena frente à China, mas suficiente para lembrar nosso lugar no tabuleiro.
As grandes histórias corporativas do ano
A Ambipar protagonizou uma queda vertiginosa, após dúvidas sobre o caixa e investigações envolvendo operações suspeitas.
O Banco Master entrou em liquidação após exposição elevada a ativos de risco e problemas regulatórios.
A Braskem enfrentou pressões de credores e disputas entre acionistas.
A Raízen viu sua joint venture entrar no radar do mercado por questões de alavancagem.
Foi, de fato, um ano em que as rachaduras do crédito privado ficaram visíveis.
Para 2026, nossos pedidos são simples
Queremos empresas com governança, estratégia, cultura sólida e caixa de verdade.
Queremos transparência, prestação de contas e estrutura para crescer de forma sustentável.
E gostaríamos de nos despedir de:
- empresas com práticas contábeis questionáveis;
- bancos que expandem sem controles;
- surpresas bilionárias “descobertas” por acaso;
- escândalos que paralisam o crédito;
- dólar
Não pedimos muito. Apenas um mercado que trate risco como algo calculado, não descoberto.
Aos que seguiram investindo, empreendendo e respirando fundo ao longo de 2025, meus votos de um excelente Natal e de um 2026 mais equilibrado.
E, claro: que seus investimentos tenham mais governança do que seus GIFs de WhatsApp.

