Nos últimos dias, uma pergunta dos assinantes começou a aparecer com mais frequência: “Os juros reais do Tesouro IPCA+ vão continuar caindo?”.

Essa dúvida faz todo sentido. Vimos as taxas começando a ceder com o Tesouro IPCA+ 2040 sendo negociado abaixo de 6,90%. Ainda é uma taxa alta e bem atrativa, mas caiu bastante se compararmos com os mais de 7,30% oferecidos em fevereiro deste ano.

Taxas do Tesouro IPCA+ 2040. Fonte: Tesouro Direto

E aí vem a pergunta que não quer calar: será que agora vai? Vamos finalmente ver as taxas entrando em uma trajetória de queda mais consistente?

Essa resposta não vem sozinha. O comportamento dos títulos IPCA+ está diretamente ligado a uma série de fatores que vão se desenrolar ao longo dos próximos meses. E há pelo menos três pontos principais que valem acompanhar de perto:

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O que o Banco Central fará com a Selic?

Atualmente, a taxa Selic está em 15% ao ano, o maior patamar desde 2006. Em junho, o BC ainda subiu mais um pouquinho, mas já sinalizou uma mudança de tom: a alta foi menor (0,25 p.p.) e o discurso mostrou que, agora, é hora de observar.

Ou seja: o ciclo de alta parece ter chegado ao fim. E o mercado já começa a cogitar quando virão os cortes.

Segundo o relatório Focus mais recente, a expectativa é que a Selic fique em 15% até o fim de 2025 e só comece a cair mesmo em 2026.

Mas aqui vai um ponto importante: o mercado costuma se antecipar. Ele não espera o BC bater o martelo para se movimentar. Basta um sinalzinho de que o corte pode vir para a curva de juros começar a reagir.

E que sinais são esses?

  • Dados econômicos mais fracos;
  • Inflação e expectativas mais comportadas;
  • Mercado de trabalho perdendo força;
  • Núcleos de inflação mais perto da meta.

Esses fatores indicam que o Banco Central pode ficar mais tranquilo e, aí sim, considerar cortes na Selic.

Se isso acontecer, os títulos prefixados e Tesouro IPCA+ de médio e longo prazo tendem a se valorizar. Mesmo sem o corte acontecer de fato, só a expectativa já mexe nos preços.

Por isso, mais do que olhar a Selic atual, vale a pena acompanhar o cenário econômico como um todo.

A economia dos EUA está jogando incerteza no ar

Nos últimos meses, o cenário externo tem sido dominado por um fator bem delicado: a incerteza vinda dos Estados Unidos.

O Federal Reserve (Fed) manteve os juros entre 4,25% e 4,50%, mas ainda sem sinal claro de quando começará a cortá-los. Ao mesmo tempo, o ano das ameaças de novas tarifas comerciais por parte do presidente dos EUA, Donald Trump, tem deixado empresários e investidores em ritmo de espera.

Na prática, isso tem afetado a confiança. Muitos executivos estão adiando investimentos e contratações, preocupados com os desdobramentos futuros, o que eleva os riscos de uma desaceleração mais forte da atividade econômica.

Também está no radar o fiscal dos EUA: estão ocorrendo votações acerca do relevante pacote de cortes de impostos e aumento de gastos públicos, o que tem gerado incertezas acerca da economia norte-americana. 

Esse ambiente tem enfraquecido o dólar, o que ajuda a aliviar a inflação no cenário interno. E, como vimos, é o principal pré-requisito para cortes de juros no Brasil.

Eleições de 2026: sim, o mercado já está de olho

Pode parecer cedo, mas os movimentos de olho na eleição presidencial já começaram. Junho trouxe pesquisas mostrando queda na popularidade do presidente Lula e crescimento de nomes da oposição.

E o mercado tem um receio: que o governo tente recuperar apoio adotando medidas fiscais mais populistas, em meio a uma trajetória já existente de forte crescimento da dívida pública. Isso aumentaria a desconfiança dos investidores e poderia pressionar ainda mais os juros e impactar o dólar.

Por outro lado, se a disputa eleitoral começar a mostrar nomes mais preocupados com responsabilidade fiscal, isso pode aliviar o risco Brasil e facilitar cortes na Selic.

Ou seja, as movimentações na política também entram no radar da renda fixa.

O que esperar dos investimentos em renda fixa?

O ciclo de alta dos juros parece ter chegado ao fim, mas a queda ainda está no horizonte, não no presente.

Se você já investe em Tesouro IPCA+ ou pensa em começar, vale lembrar que:

  • os juros reais seguem em níveis bastante atrativos, com títulos IPCA+ pagando mais de 6,5% ao ano acima da inflação, uma excelente oportunidade para quem pensa no longo prazo já se posicionar (nossa preferência é pelo vencimento 2040);
  • a Selic em torno de 15% também representa uma ótima taxa para a parcela da carteira que busca segurança e liquidez, via pós-fixados;
  • o cenário macro pode oscilar, mas o investidor que tem visão de longo prazo estará posicionado em níveis historicamente altos de retorno real, o que tem potencial altíssimo para valorização do patrimônio.

E mais: se o cenário seguir caminhando para cortes de juros, ainda existe a possibilidade do bônus da marcação a mercado, que pode acelerar os ganhos de quem estiver bem posicionado.

Ou seja, mesmo com incertezas no curto prazo, as oportunidades continuam muito relevantes para quem investe com consciência e paciência.