Selic a 15% ao ano: Copom mantém taxa pela terceira vez seguida
Selic segue em 15% ao ano. Veja por que os juros devem seguir altos, como investir com segurança e onde evitar riscos em 2026
O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) manteve a Selic em 15% ao ano, uma das maiores taxas das últimas duas décadas, e sinalizou, com clareza inédita, que ela continuará elevada por um período prolongado.
Não haverá corte em dezembro. A chance de algo acontecer em janeiro é, no melhor dos casos, incerta, e o mais provável é que o ciclo de queda só ganhe forma a partir de março de 2026 — ou até mais tarde.
Antes de corrermos para as conclusões práticas, vale entender exatamente o que o Banco Central viu, disse e, principalmente, o que não disse.
Sumário
- Mudança importante no comunicado do Copom
- Cenário doméstico ainda desafiador
- Contexto internacional: juros americanos e impacto no Brasil
- Como investir com a Selic a 15% por mais tempo
- China: o novo ciclo já começou
- Criptomoedas: hora de cautela
- Como posicionar sua carteira agora
Mudança importante no comunicado do Copom
A decisão de manutenção em si era esperada por todos. O que pegou o mercado desprevenido foi a convicção com que o comitê a apresentou.
No comunicado anterior, o BC ainda se colocava no modo “avaliando se a estratégia de manutenção por período prolongado seria suficiente”. Havia dúvida, um espaço para interpretação, quase uma interrogação no ar.
Agora, a frase mudou: o comitê avalia que essa estratégia é suficiente. Ponto final. O cenário-base não contempla mais altas adicionais, mas também sepulta qualquer esperança de relaxamento monetário imediato.
Foi um texto hawkish em relação ao que o mercado precificava — probabilidade de 10% de uma queda de 25 pontos ainda em dezembro. Essa chance evaporou.
A curva de juros se alongou, e a aposta de queda em janeiro, que girava em torno de 60% para um corte de 25 pontos-base, já poderia até ser revisitada. Nada no comunicado deu a entender que estaríamos próximos do início de um ciclo de queda.
Desde 2016, eu entro ao vivo no Instagram às 19h, no mesmo dia da decisão, para comentar o resultado de forma clara e acessível. Ontem não foi diferente — assista à live completa:
Cenário doméstico ainda desafiador
No front doméstico, os indicadores seguem a trajetória que o próprio BC desenhou meses atrás. A atividade econômica desacelera de forma moderada, exatamente como o esperado para uma Selic contracionista. O mercado de trabalho resiste, mas sem sinais de superaquecimento.
A inflação cheia e os núcleos mostram algum arrefecimento — repare no “algum”, não “forte” ou “significativo”. Ainda assim, permanecem acima da meta de 3%. As expectativas do mercado continuam em 4,5% para 2025 e 4,2% para 2026. A própria projeção do Copom para o segundo trimestre de 2027 aponta 3,3%, ainda fora do alvo.
Em resumo, nem o BC acredita que cumprirá a meta no horizonte relevante, e o mercado acredita menos ainda.
O fiscal, como sempre, é o elefante na sala: despesas crescendo forte, itens jogados para fora do arcabouço e o Banco Central enxugando gelo. Não é questão de competência do Galípolo — é realidade estrutural. Sem freio no gasto público, a Selic não desce.
Contexto internacional: juros americanos e impacto no Brasil
O cenário externo reforça essa prisão dos juros altos. Os Estados Unidos, o grande timoneiro da economia global, enfrentam uma dívida pública em máximas históricas e déficits nominais próximos a 7% do PIB.
Além disso, a inflação americana ronda 2,5%, acima da meta de 2%, e a atividade mostra resiliência, especialmente puxada por investimentos bilionários em inteligência artificial e data centers.
A taxa curta pode cair mais 25 pontos-base aqui e ali, mas a taxa longa permanece elevada, próxima das máximas, porque o Tesouro não consegue rolar toda a dívida a juros menores.
Para o Brasil, isso é uma âncora inescapável. Se a Selic cair para 7% ou 8% enquanto o juro longo americano estiver em 5%, o câmbio dispara, o investidor estrangeiro foge, a inflação retorna e o BC precisa subir tudo de novo. Não há mágica.
Tá, mas e eu com isso? O que faço com meu dinheiro agora que sei que a Selic fica em 15% por mais tempo?
Como investir com a Selic a 15% por mais tempo
Evite crédito privado
A principal recomendação é simples: evite crédito privado. Os spreads estão nas mínimas históricas e, salvo raras exceções, não compensam o risco que você corre.
As recuperações judiciais dobraram em 2025 em relação a 2024. Empresas que pareciam sólidas sangram com despesas financeiras explosivas. O mercado de IPOs está fechado, forçando emissões de dívida a taxas proibitivas.
Em 2026, ano eleitoral, os governadores vão gastar tudo no primeiro semestre, pressionando a inflação e talvez adiando ainda mais o início do ciclo de cortes.
E o mais preocupante: a maioria desses papéis — como alguns CRIs, CRAs e debêntures — não tem liquidez secundária. Você compra, mas não vende sem tomar prejuízo. Se o cenário der certo, você ganha o mesmo que no Tesouro Direto. Se der errado, perde tudo. Não vale a pena.
Prefira o Tesouro Direto
Nossa preferência está voltada para o Tesouro Direto. Pode parecer sem graça, mas rende 15% ao ano no Tesouro Selic com liquidez diária, IPCA+ 7,5% em títulos longos ou cerca de 13,5% em prefixados.
Esses prêmios são históricos. Você trava rentabilidade real elevada por anos, com a segurança do governo e a flexibilidade de vender a qualquer momento. Em ano eleitoral, essa liquidez será ouro puro.
Tudo pode mudar de uma hora para outra, e você precisa de liberdade para reposicionar a carteira da noite para o dia. O crédito privado não oferece isso; o Tesouro, sim.
Bolsa: a simetria é positiva
Na renda variável, a história é outra. A Bolsa brasileira negocia a 9x lucro, abaixo da média histórica, e os resultados do terceiro trimestre vieram acima do esperado.
A alta recente do Ibovespa (que superou os 153 mil pontos ontem) foi sustentada apenas pelo crescimento de lucros, sem expansão de múltiplos. Isso significa que ainda há muito espaço pela frente.
Em um cenário de manutenção fiscal expansionista, a inflação elevada protege ativos reais, e a Bolsa já precifica o pior. Em um cenário de virada — com controle fiscal e queda gradual de juros —, o potencial é explosivo.
Com o P/L voltando a 14x e os lucros continuando a crescer, o Ibovespa pode facilmente dobrar, superando 200 mil pontos.
Não é preciso acertar as dez melhores ações; basta surfar empresas com expansão de receita e margem, como as do portfólio Nord 10X, que já entregaram mais de 70% de retorno em 2025 só com lucro.
China: o novo ciclo já começou
A China reforça essa aposta. O gigante asiático não esgotou seu modelo de crescimento — apenas migrou do setor imobiliário para inteligência artificial prática, robótica e indústria 4.0.
Com o menor custo de energia do mundo, lidera a corrida tecnológica que realmente importa: fábricas 100% robotizadas, hospitais controlados por IA.
O Brasil é a rêmora desse tubarão: segundo maior produtor de terras raras e principal fornecedor de commodities para Pequim. Quando a China acelera, nós vamos de carona.
A diversificação global para emergentes, fugindo do dólar, só amplifica o movimento.
Criptomoedas: hora de cautela
Sobre bitcoin, a visão é cautelosa. O ativo já incorporou o mainstream – ETFs, reservas de bancos centrais, empresas com caixa em cripto. O market cap se aproxima dos US$ 3 trilhões, e o upside de US$ 102 mil para US$ 150 mil parece limitado frente à volatilidade alta do ativo.
Stablecoins atreladas ao dólar ganham espaço em transações internacionais via blockchain, reduzindo a usabilidade do bitcoin como moeda. É hora de esperar recuos mais profundos para voltar com um upside que justifique a volatilidade.
Como posicionar sua carteira agora
Em resumo, a correnteza está definida: fuja do crédito privado, abrace o Tesouro Direto com liquidez total e posicione-se na Bolsa Brasileira com foco em crescimento.
Em 2026, com eleições à vista, flexibilidade será o diferencial. Quem estiver preso a ativos ilíquidos ou com prêmios irrisórios pagará caro.
Quem remar a favor chegará muito mais longe, com muito menos esforço.

