Banco Central decide desligar o DREX e repensar moeda digital
O Banco Central anuncia o desligamento da plataforma DREX, encerrando o piloto da moeda digital e iniciando nova infraestrutura do zero
O DREX, ambicioso projeto da Banco Central do Brasil (BC) para criar a versão digital do real, foi oficialmente encerrado nesta segunda‑feira (04), segundo relatos de portais como BlockNews, Valor Investe e InfoMoney.
O BC decidiu desligar a plataforma a partir de segunda (10) e recomeçar o processo definindo primeiro casos de uso antes de escolher a tecnologia.
A decisão marca um ponto de virada na agenda de digitalização da moeda brasileira, que enfrentou obstáculos como privacidade, interoperabilidade e tecnologia blockchain.
Contexto e evolução do DREX
O DREX foi anunciado como o embrião de uma moeda digital de banco central (CBDC), com o objetivo de tokenizar ativos, permitir liquidação instantânea e modernizar o sistema financeiro nacional. Por exemplo, a proposta envolvia a tecnologia Hyperledger Besu e rede DLT (Distributed Ledger Technology).
Entretanto, ao longo do desenvolvimento foram identificados desafios técnicos — em especial privacidade de dados e compatibilidade com as normas brasileiras (como sigilo bancário e LGPD) — que levaram o BC a adiar fases, abandonar a blockchain no primeiro momento e reestruturar o projeto.
Agora, conforme os portais reportam, o BC optou por desligar totalmente a infraestrutura que vinha sendo utilizada e iniciar um novo desenho tecnológico, com casos de uso definidos primeiro.
Principais motivos da mudança
- Problemas de privacidade: o piloto usava blockchain permissionada, mas o modelo ainda “não apresentava a maturidade necessária para garantir o atendimento de todos os requisitos jurídicos relacionados à preservação da privacidade dos cidadãos”.
- Tecnologia de blockchain considerada “caixa de vidro” para dados sensíveis, o que se chocava com exigências de sigilo bancário.
- Alteração de foco: de uma moeda digital para público amplo, o projeto foi reconfigurado para uma plataforma de tokenização de ativos e operações financeiras entre instituições, em versão restrita.
- Lançamento adiado e escopo reduzido: originalmente previsto para 2024/2025 com ampla funcionalidade, agora apontado para 2026 em versão mais “tímida”.
O que muda agora
Com o desligamento da infraestrutura atual, o BC dará início a nova etapa definindo primeiro os casos de uso — por exemplo, integração com Pix, Open Finance e mercados de ativos tokenizados — e depois decidirá qual arquitetura tecnológica empregará.
Segundo os veículos, o uso de blockchain não está descartado para o futuro, mas a decisão será feita com “arquitetura agnóstica” em mente.
Para o mercado, isso significa que os consórcios que participavam dos pilotos precisam reavaliar seus modelos de negócio e adaptação às novas especificações.
Impactos e reflexões após o desligamento do DREX
- Para o cidadão comum, o impacto imediato é baixo: o dinheiro físico, bem como o sistema de pagamentos atuais, como o Pix, continuam funcionando normalmente.
- Para o mercado financeiro e de tecnologia, há um recuo simbólico: o Brasil, que vinha sendo citado como protagonista em CBDC e fintech, passa agora por correção e replanejamento.
- Por outro lado, a decisão pode ser interpretada como prudente: lançar uma infraestrutura nacional para moedas digitais com falhas em privacidade ou escalabilidade poderia gerar riscos elevados.
- A tokenização de ativos, que era promessa central do projeto, segue sendo um tema de futuro relevante — mas o timing e o modelo mudam.
O encerramento da plataforma DREX marca o fim de uma primeira fase de fortes ambições em torno da moeda digital brasileira. Porém, o novo desenho proposto pelo Banco Central sugere uma abordagem mais cautelosa e estruturada: foco em casos de uso, prioridade para privacidade e segurança, e tecnologia escolhida após validação.
A iniciativa não está morta — apenas foi redesenhada. Resta acompanhar como será o novo desenho e em que prazo a nova versão será implementada no sistema financeiro brasileiro.

