Prometi a mim mesmo que não escreveria mais sobre comprar Bolsa ou ações.

Já cansou. Concordo.

Ninguém aguenta mais ver seu dinheiro inerte em ações enquanto a renda fixa paga 15% ao ano, sem chacoalhar, sem imposto.

Até tentei escrever sobre outro assunto, mas ficou um conteúdo horroroso. Tive de recomeçar.

O assunto que domina as rodinhas da Faria Lima (além dos R$ 30 bilhões do PCC por lá) é esse.

Vou te contar.

O mercado tem memória curta

Não é a primeira vez que a Faria Lima se anima com juros caindo e corre para a Bolsa. Não é a primeira vez que isso acontece neste governo.

Temos memória curta. O mercado é pragmático. Na ânsia de ganhar algum dinheiro, o mercado se engana, se ludibria.

Será que desta vez será diferente? 

 Seu Creysson, personagem fictício do Casseta & Planeta. Fonte: YouTube/ Reprodução

Seu Creysson já deu o seu selo de garantia.

Por que ainda invisto em ações?

Simples: porque as ótimas empresas permitem os maiores ganhos financeiros a longo prazo.

Chacoalha? Chacoalha. E justamente por isso pode ser tão lucrativo (a longo prazo).

Se o Jogo do Tigrinho desse mais retorno com o mesmo risco, eu passaria meus dias jogando.

Não tenho preconceito. Talvez esse dourado todo me desse dor de cabeça, mas…

Antes, vamos entender o que aconteceu no Brasil nos últimos anos.

Ibovespa na máxima histórica aos 141 mil pontos

A taxa Selic hoje está em 15% ao ano, o maior patamar desde 2006. Sim, já se passaram 19 anos e não conseguimos vencer os juros altos ainda.

Juros altos fizeram a Bolsa sofrer desde 2021 (quando começaram a subir). Em quatro anos, o Ibovespa avançou só 10% em reais (2,5% ao ano) e 5% em dólares.

 Desempenho da Bolsa nos últimos quatro anos. Fonte: Bloomberg, Nord Investimentos

Mas os dados econômicos vêm enfraquecendo. O mercado começou a antecipar cortes de juros — a Bolsa brasileira está na máxima, com 141 mil pontos.

Em 2025, o Ibovespa sobe +17% em reais e +34% em dólares.

Claro, o fluxo gringo ajudou — e uma possível queda dos juros americanos (já em setembro?) deve ajudar ainda mais.

É hora de sair do CDI? 

Não sei, mas estamos nos aproximando do “ponto de não retorno”.

Recentemente, o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, mudou seu discurso e foi muito mais “Dove”, demonstrando preocupação maior com o crescimento econômico do que com inflação.

Os dados de emprego americano já vêm mostrando sinais de desaquecimento mais forte. Sim, esse é um bom sinal para uma possível queda de juros.

Donald Trump, que estava furioso com Powell, deu um “like”.

Historicamente, menores juros nos EUA aumentam a vontade do investidor americano em investir fora do país.

Além disso, a queda de juros deixa o dólar menos valorizado. Dólar fraco é real forte.

Os juros americanos podem cair já em 17 de setembro e podem fazer preço aqui na nossa Bolsa.

CDI a 15%: ponto fora da curva?

Hoje, a inflação é de 5% e o CDI está em 15%.

Em 2016, no governo Dilma, a inflação era 10% e os juros eram, no máximo, 14,25%.

Hoje, a inflação é menor, 5% e os juros são maiores, bateram 15% ao ano.

O juro brasileiro é tão alto, mas tão alto, mas tão alto, que ele só pode cair. Ninguém trabalha com a possibilidade de os juros brasileiros subirem mais.

Somado a isso, os juros altíssimos estão fazendo seu trabalho e reduzindo o crescimento da economia.

Vemos dados de confiança, emprego e inflação já dando espaço para o Copom cortar juros.

E, claro, o mercado já começou a apostar que o CDI pode cair ainda este ano.

Será que o governo vai segurar os gastos só um pouquinho para isso acontecer?

Política também entra no jogo

Para mim, nem é novidade. Todo mundo já sabe que o candidato será o Tarcísio no ano que vem.

Mas, na imersão do Clube Nord, realizada no último final de semana, o analista político da XP, Paulo Gala, abriu meus olhos.

Tarcísio, assumindo o posto de candidato oficial do Centrão e recebendo a bênção do “painho”, faria o mercado acordar para a alta probabilidade de troca de governo em 2027.

Com o apoio inconteste do Centrão e a indicação de Bolsonaro, ele vira um candidato forte.

Esse gatilho ainda demora. Tarcísio tem até abril para decidir (eu acho que já decidiu faz tempo) e anunciar sua candidatura.

O que fazer agora com seu portfólio?

Está cedo? Sim. Mas os três gatilhos vão se emendar uns nos outros e nos levar até a boca das eleições no ano que vem.

As eleições são o ponto-chave. Afinal, o Brasil precisa de um ajuste fiscal. Sem ele, o mercado vai partir para uma postura de crise.

Não imagino que os mercados darão o menor benefício da dúvida ao time econômico atual. Isso porque já foram enganados mais de duas vezes, com as mudanças de metas do arcabouço que se sucederam.

Você está cético? Eu também. Eu já vi esse filme. 

Já perdi dinheiro tentando acreditar na racionalidade dessa política econômica. E, em 2026, vão fazer o diabo para ganhar as eleições.

A grande pergunta é: você vai fazer algo a respeito? Vai rearranjar seu portfólio?