Adeus, anos velhos!

Em meio ao cenário de incertezas e volatilidade, ter a liquidez se torna um bem caro e precioso para os investidores

Marilia Fontes 29/12/2022 12:48 4 min
Adeus, anos velhos!

2021 e 2022 foram os anos das oportunidades perdidas. Começamos 2021 com a bolsa a 93 mil pontos e chegamos a bater 130 mil pontos em meados do ano. Até que tudo começou a desmoronar.

Ao final desses dois anos, entregaremos uma bolsa em patamar praticamente estável, sem grandes ganhos para o investidor de risco.

Fonte: Bloomberg Línea

Custo de oportunidade


Essa estabilidade não é nem de longe uma boa notícia. A bolsa de lado tem um custo enorme para uma carteira de investimento. Esse custo tem um nome chique: custo de oportunidade.

É tudo o que você poderia estar ganhando, se não estivesse na bolsa.

No caso do Brasil, esse custo é o CDI. O CDI representa tudo o que você poderia estar ganhando de retorno sem correr nenhum risco de mercado. Investindo nos títulos mais seguros da economia.

Podemos ver que o investidor que optou pelo CDI, nesses últimos dois anos, obteve um rendimento de mais de 17%, enquanto o investidor de bolsa ficou na estabilidade.

Fonte: Bloomberg Línea

Bolsa em estabilidade


Os motivos do ano ruim todos aqui já sabem: aumento de gastos fiscais com eleição e pandemia, aumento da inflação e necessidade de aumento de juros.

O juro é o custo de oportunidade de uma economia. Se aumenta o custo de oportunidade, você estrangula o setor produtivo, a tomada de risco, o empreendedorismo.

A bolsa sofre, o mercado de capitais míngua e novas ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) secam.

E o aumento de juros que tivemos nesses últimos dois anos foi dos maiores que já tivemos na história.

A Selic foi de 2% para 13,75%, e não temos a segurança ainda que essa será nossa taxa terminal. Dependeremos da política fiscal.

Fonte: Bloomberg Línea

Uma estratégia vencedora


Com o aumento significativo dos juros, estrangulamos a bolsa e voltamos para o CDI para gerar retorno nos nossos investimentos.

Essa foi a estratégia vencedora nesses últimos dois anos.

Quem apostou contra a bolsa e contra os juros baixos também ganhou dinheiro. Mas apostar contra é bem mais desafiador do que apostar a favor. Não é todo gestor que consegue.

E para 2023? Qual será a carteira vencedora?

Eu pessoalmente fico muito dividida.

Por um lado, vejo uma bolsa barata e um juro bem alto para padrões históricos.

Por outro lado, vejo um governo com tendência de aumento de gastos, com o estado como promotor da economia. E com um risco importante de retirada de âncoras fiscais que sustentaram nossa recuperação pós 2016.

Olhando nomes importantes deste novo governo, como Haddad e Mercadante, fico me perguntando que tipo de economista entraria no Banco Central daqui a dois anos.

Isso tudo para dizer que ainda não me sinto confortável de sair do CDI.

Hoje o nosso custo de oportunidade para tomar risco ainda é altíssimo. Acredito que isso jogue nossa linha d'água de “mínimas condições para tomar risco” lá em cima.

Qual a perspectiva para 2023?


Ontem, Haddad disse que fará um primeiro ano de governo com um ajuste fiscal importante. Arrumando a casa.

O mercado gosta muito disso, mas fica difícil fazer um ajuste que compense os mais de R$ 150 bilhões fora do teto aprovados na PEC da Transição.

Fonte: Valor Investe

Temos que acompanhar também o crescimento econômico brasileiro.

Ele será um excelente termômetro do estrago potencial do novo fiscal.

Se tivermos um bom crescimento, o aumento de gastos não seria tão prejudicial para a trajetória de Dívida/PIB. Afinal, o crescimento das receitas poderia compensar parcialmente o aumento dos gastos.

Mas se tivermos um crescimento fraco, poderíamos entrar em uma espiral negativa de piora dos fundamentos.

Então é nisso que estarei de olho em 2023: política fiscal e crescimento.

Se pendermos para o lado ruim, pode ter certeza que 2023 será mais um ano de bolsa parada e CDI alto — e a melhor carteira será o custo de oportunidade.

Mas enquanto ainda não tomo minhas decisões, não abro mão da liquidez diária nos meus investimentos.

Afinal, se o cenário mudar, tenho que ter a capacidade de fazer ajustes nas minhas posições.

Então, investidor, nada de ficar se travando em ativo que não tem liquidez para ganhar uma merreca a mais do CDI.

Agora é uma hora importante, de decisão, e a liquidez será um bem caro e precioso.

Desejo que você tenha um excelente ano!

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