Petrobras em 2025: Ações em queda e dividendos em risco
Apesar da alta do Ibovespa, ações da Petrobras recuam em 2025. Entenda o impacto nos dividendos e o que esperar da estatal nos próximos anos
Enquanto o Ibovespa renova máximas históricas, acumulando mais de +30% de alta em 2025, a Petrobras (PETR3; PETR4), a maior “dividendeira” da Bolsa, entrou em um limbo.
No ano, a estatal vê suas ações recuarem -5,4%, ficando presa em um limbo que mistura: petróleo pressionado, decisões estratégicas questionáveis e incertezas que vão muito além do preço do barril.
O que está pressionando as ações da Petrobras em 2025?
Como temos acompanhado, 2025 realmente não tem sido favorável para o petróleo. O ano foi marcado por forte volatilidade da commodity, puxada por incertezas na demanda, aumento da oferta, dúvidas em relação à economia global e tensões geopolíticas.
Entre esses fatores, destacam-se:
- Aumento da oferta global pelos países da OPEP+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Desde o início do ano, o grupo anunciou elevações relevantes na produção, travando uma disputa no setor para pressionar países que excederam as metas de produção e recuperar a participação perdida para o xisto norte-americano.
- Expansão da produção de petróleo nos EUA ao longo dos últimos anos, com o objetivo de reduzir a dependência de importações e pressionar produtores como a Rússia por meio de preços mais baixos.
- Sinais de desaceleração das principais economias mundiais, afetando projeções de demanda para a commodity.
- Tensões geopolíticas, principalmente no Oriente Médio, entre agravamentos e acordos que acompanhamos ao longo de 2025.
Atualmente, o Brent opera no patamar de US$ 63, acumulando queda de -15% no ano.

Resultados do 3T25: lucro estável, mas caixa em queda
Dada a sensibilidade da Petrobras aos preços das commodities, os resultados recentes foram pressionados.
No 3T25, a receita líquida da estatal apresentou leve alta de +0,5%, encerrando o trimestre em US$ 23,4 bilhões.
O Ebitda totalizou US$ 11,9 bilhões (+2,9% a.a.), enquanto o lucro líquido somou US$ 6 bilhões, crescimento de +2,7% na comparação anual.
À primeira vista, os números sugerem um bom nível de lucratividade. Contudo, ao observarmos os resultados acumulados dos últimos 12 meses, o cenário se mostra negativo.
No período, a receita recuou -12% a.a., enquanto o Ebitda e o lucro líquido apresentaram uma queda de cerca de -18% a.a.
O principal ponto de atenção, entretanto, está na geração de caixa. No acumulado dos últimos 12 meses, o fluxo de caixa livre da companhia caiu cerca de -40%.
Esse dado é especialmente relevante, pois o fluxo de caixa livre é a base da política de remuneração aos acionistas, que prevê a distribuição de 45% desse indicador.
Novo plano estratégico da Petrobras 2026‑2030
A pressão sobre a geração de caixa decorre não apenas do cenário desfavorável para as commodities, mas principalmente do aumento dos investimentos, que cresceram quase +40% a.a. nos últimos 12 meses.
Diante desse contexto, o mercado aguardava, com expectativa, o lançamento do Plano Estratégico 2026–2030, divulgado na última sexta-feira (28/11).
A expectativa era de redução do Capex e maior foco em eficiência, com melhor controle de custos e despesas.
No entanto, ao contrário do esperado, a Petrobras aprovou o plano sem mudanças relevantes, prevendo investimentos de US$ 109 bilhões.
Em comparação ao plano anterior (2025–2029), que previa US$ 111 bilhões, a redução foi marginal, cerca de 1,8%.
No plano aprovado, a empresa mantém como prioridade a exploração e produção de petróleo e gás, ao mesmo tempo em que busca equilibrar suas operações com iniciativas de baixo carbono.
Dividendos estimados no novo plano da Petrobras
No novo Plano Estratégico, a Petrobras projeta distribuir entre US$ 45 bilhões e US$ 50 bilhões em dividendos ordinários entre 2026 e 2030.
O valor representa uma leve redução em relação ao plano anterior, que previa até US$ 55 bilhões.
A diferença mais relevante está na ausência de menção a dividendos extraordinários, ao contrário do ciclo anterior, que considerava pagamentos adicionais fora do modelo ordinário.
Ainda assim, os valores efetivamente distribuídos podem ser menores, a depender da execução do plano e do cenário macro.
Muito investimento e pouco conservadorismo
O Plano Estratégico 2026–2030 ficou aquém das expectativas ao manter um nível elevado de investimentos, além de apresentar sinalizações tímidas de redução de custos e premissas consideradas otimistas para a commodity.
A manutenção do Capex elevado no curto e médio prazo foi o principal ponto negativo. Entre 2026 e 2028, o nível de investimentos segue praticamente inalterado, com redução relevante apenas em 2029, quando comparado ao plano anterior.
Outro ponto de atenção diz respeito às premissas adotadas para o preço do petróleo. Para o período de 2027 a 2030, a Petrobras utiliza como referência US$ 70 por barril de Brent, acima da curva futura, que aponta cerca de US$ 63 em 2027 e apenas US$ 67 em 2030.
Adicionalmente, as sinalizações quanto à alavancagem operacional foram tímidas.
Combinados a um cenário mais pessimista para o petróleo e à tendência de aumento do endividamento, esses fatores reforçam a perspectiva de pressão sobre a geração de caixa e, consequentemente, de menor distribuição de dividendos ao longo do tempo.
Vale a pena comprar ações da Petrobras no limbo?
Além de todos os fatores já mencionados, é impossível ignorar a proximidade do ciclo eleitoral (2026), um período historicamente mais volátil para as ações da Petrobras.
Do ponto de vista de valuation, PETR4 negocia hoje a múltiplos considerados baixos: cerca de 4x lucro e 3x Ebitda. Ainda assim, esses números estão acima da média dos últimos cinco anos.
Com crescimento limitado no horizonte e um ambiente político incerto, a assimetria se mostra pouco favorável neste momento. Por isso, mantemos recomendação neutra para o papel.
Mesmo para investidores com foco em dividendos, é prudente ter em mente que, embora a Petrobras deva manter um bom patamar de dividendos, mesmo com o petróleo em baixa, o cenário pode se tornar mais instável à medida que nos aproximamos de 2026.

