Circle (CRCL) dispara na Bolsa: ações sobem 700% em menos de 20 dias

Ações da Circle valorizam 700% na Bolsa. Entenda o modelo por trás da USDC e os desafios de justificar um valuation de US$ 50 bilhões

Henrique Vasconcellos 25/06/2025 10:48 6 min
Circle (CRCL) dispara na Bolsa: ações sobem 700% em menos de 20 dias

As ações da Circle (CRCL), empresa de soluções financeiras digitais americana, se multiplicaram em mais de 7 vezes desde seu IPO (listagem na Bolsa). A multiplicação de patrimônio é impressionante, mas o que é ainda mais impressionante é que essa valorização se deu em apenas 19 dias. 

As ações da companhia vieram ao mercado no dia 5 de junho a um preço de US$ 31 por papel. Ontem, dia 24 de junho, fecharam a US$ 222,65, com um valor de mercado de US$ 50 bilhões.   

Ações da Circle disparam: entenda o que está por trás da alta histórica

A Circle é responsável pela emissão da stablecoin USDC e vem sendo um dos maiores destaques no mercado ao longo do mês de junho. As stablecoins são criptomoedas lastreadas a algum ativo “do mundo real”. 

No caso da USDC, seu lastro é o dólar. Essas moedas ajudam a intermediar o mundo do dinheiro “de verdade” com ativos em blockchains. De forma análoga, é como quando você (ou seu filho) compra moedas em uma loja de jogos de videogame para adquirir novas fantasias para seus personagens. 

A função da Circle é emitir essas USDCs à medida que “nós” (consumidores da USDC) depositamos dólares para ter esse ativo digital. Ou seja, para cada USDC emitido, a Circle guarda em sua conta um dólar em reserva. 

Modelo de negócio baseado em reservas e juros

No final de 2024, a empresa possuía uma reserva de US$ 44 bilhões, o que significa que existiam, ao final de 2024, 44 bilhões de USDCs. 

A companhia não ganha dinheiro com a emissão dessas moedas. Ela ganha com os investimentos feitos com suas reservas em dólar, majoritariamente aplicadas em ativos de renda fixa atrelados à dívida dos EUA. 

Em 2024, gerou US$ 1,7 bilhão em receitas. Considerando o saldo final de dólares, isso corresponde a um juro recebido de aproximadamente 3,8% no ano, enquanto, considerando o saldo médio de reservas, o juro foi de 5%. 

Além das receitas geradas pelos investimentos das reservas de dólar, a companhia também possui “Outros produtos” (como eles chamam no prospecto do IPO). Em 2024, essa categoria respondeu por 1% das receitas — mesmo percentual de 2023 e abaixo dos 4% registrados em 2022. Ou seja, ainda não representa uma fonte relevante de ganho.

A divisão de receitas da Circle com a Coinbase

Adicionando uma camada a mais de complexidade, a Circle abriu mão de boa parte de suas receitas para impulsionar seu crescimento. Em uma parceria com a Coinbase, uma das principais corretoras de criptoativos do mundo, a Circle negociou uma divisão das suas receitas em troca de visibilidade. 

De maneira que, hoje, 100% das receitas com juros de ativos proporcionais a USDCs dentro da plataforma da Coinbase são destinadas à corretora, enquanto 50% das receitas de USDCs fora da Coinbase também são destinadas à corretora. 

Com isso, a Circle fica com apenas 50% das receitas geradas pelas USDCs que estão fora da Coinbase. 

 Modelo de compartilhamento de receitas entre Circle e Coinbase. Fonte: Coinmetrics

O resultado disso é que, dos US$ 1,7 bilhão de receitas em 2024, US$ 907 milhões foram para a Coinbase, enquanto apenas US$ 768 milhões ficaram para a Circle. 

Crescer, especialmente em uma indústria commoditizada, tem um preço alto. E a própria empresa coloca no seu prospecto de IPO que esses custos com parcerias “também devem crescer à medida que nossas reservas cresçam”. 

Mas a animação de investidores reflete a expectativa de que a Circle consiga crescer suas receitas ainda mais do que os custos com essas parcerias. 

Market cap de US$ 50 bilhões chama atenção. Mas faz sentido?

Com base no modelo de negócios descrito acima — que seria atualmente a principal atividade da empresa —, é difícil justificar um valuation de US$ 50 bilhões. Quase impossível. 

Se considerássemos como múltiplo justo 25x lucro (que já não é baixo), a companhia teria que ter um lucro de US$ 2 bilhões (maior que as receitas de 2024). Para atingir esse resultado, estimamos que seria necessária uma receita de aproximadamente US$ 10 bilhões (considerando que aproximadamente metade iria para a Coinbase). 

Com a taxa de juros que a empresa recebe em suas reservas, seria necessário um crescimento de +100% das USDCs em circulação. 

É possível? É. Mas a competição só tende a crescer e a própria Circle sabe disso. 

Fiserv se une à Circle e Paxos

A Fiserv, uma gigante americana em tecnologia de pagamentos, recentemente anunciou uma parceria com a Circle e a Paxos para o lançamento da FIUSD — sua stablecoin própria. 

 Anúncio de parceria entre Fiserv, Paxos e Circle para lançamento de stablecoin. Fonte: Fiserv

Mas a Fiserv não é a única que tem se movimentado nessa direção. O PayPal tem sua stablecoin, a PYUSD, e a Stripe vem indicando que deve caminhar nessa mesma direção.

Uma forte expectativa de crescimento em um mercado crescente, mas altamente competitivo. Não é o cenário ideal para investimentos serem bem-sucedidos. 

O surgimento do Circle Payment Network (CPN)

Entretanto, a empresa aposta agora em uma nova frente para ampliar seu crescimento e diversificar suas operações além da emissão de stablecoins: o Circle Payment Network (CPN). 

Inspirando-se em um modelo semelhante ao adotado pela Stripe com a Bridge, a Circle pretende lançar um sistema de transações internacionais usando a rede blockchain de sua stablecoin para competir com o sistema SWIFT de transações internacionais.

 Funcionamento do CPN da Circle. Fonte: Circle CPN White Paper

O modelo do CPN visa reduzir os custos do sistema SWIFT, utilizando o USDC como a moeda para cruzar fronteiras e ser convertida na moeda local de quem recebe a transação. 

Assim como a Stripe, ou até mesmo a uruguaia DLocal, a Circle almeja crescer também nesse mercado de transações internacionais — que, cada vez mais, se tornam mais acessíveis para empresas e consumidores. 

Considerações finais: otimismo ou bolha?

Ainda é difícil justificar um valor de mercado tão alto. Mas o que parecia uma loucura completa, parece agora apenas um otimismo muito grande. 

Vamos acompanhar a Circle na área de membros do Nord Global. Para não ficar de fora, é só clicar no link abaixo. 

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Para se ter uma ideia: enquanto o S&P 500 registrou uma valorização de 80,5% desde julho de 2020, nossa carteira apresentou um desempenho de 178,2% no mesmo intervalo.

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